Incentivar os alunos a escrever
com mais frequência nas aulas de ciências ajuda-os a expressarem-se
melhor e de forma mais versátil, e a aprofundarem o seu pensamento
científico.Em
muitas escolas, a escrita restringe-se, em grande parte, às aulas de
línguas e de estudos sociais, o que limita a capacidade de os alunos
desenvolverem práticas de escrita em todas as áreas curriculares. Quando
escrevem nas aulas de matemática e de ciências, é-lhes pedido
frequentemente que resumam o que aprenderam - não lhes são atribuídas
tarefas que os orientem para aprenderem mais através do processo de
escrita. Isto pode afetar a sua capacidade de desenvolverem competências
de escrita - uma proficiência básica no mundo do trabalho moderno.
A
escrita interdisciplinar não é um conceito novo e a investigação tem
demonstrado, de forma consistente, que ao escreverem sobre as ligações
entre as suas vidas e o que aprendem nas aulas de ciências, os alunos
aplicam-se mais na disciplina e alcançam melhores resultados.
"Há
um equívoco generalizado de que a ciência está apenas relacionada com
atividades práticas e a escrita surge no fim para tirar uma
conclusão.... Isto não poderia estar mais longe da verdade, uma vez que a
escrita faz parte de cada passo na investigação científica", escreve
Gina Flynn, professora de jardim de infância no Minnesota, em Literacy Today.
Quando os alunos documentam a totalidade das suas experiências
científicas através da escrita, acrescenta Flynn, "eles são capazes de
imitar cientistas reais, registando as suas ideias, observações,
previsões, dados e descobertas".
Eis
três formas de fomentar oportunidades de escrita autêntica que permitem
aos alunos pensar de forma crítica e aprofundar a aprendizagem nas
aulas de ciências.
Utilize cadernos e revistas científicas
Quando
os alunos anotam as suas ideias, pensamentos e perguntas enquanto
aprendem um novo conceito, "começam a fazer previsões e a formular uma
hipótese, que pode ser representada através de imagens ou palavras nos
seus cadernos de ciências", escreve Flynn. Processar ativamente o que
aprenderam através da escrita, acrescenta Flynn, motiva-os a "pensar com
maior profundidade sobre o que estão a ver, ouvir, sentir e cheirar".
Os
jovens podem achar interessante registar as suas observações e
pensamentos através de desenhos ou de imagens, mas isso não significa
que não possam também anotar as observações através de palavras, nos
seus cadernos de notas. "Mesmo no terceiro ano, é possível pôr os alunos
a escrever relatórios de laboratório", escreve Tammy DeShaw,
uma professora do ensino básico no Michigan, que acrescenta que estes
cadernos não têm de ser tão detalhados como os que os alunos do ensino
secundário mantêm – estas crianças podem aprender muito escrevendo o
esboço de um relatório.
O
antigo professor do terceiro ciclo Jeremy Hyler utilizava cadernos e
revistas nas aulas de ciências. O professor pedia aos alunos para se
fazerem acompanhar de um caderno para escrever ou desenhar com o tamanho
suficiente para ser usado durante todo o ano, e encorajava-os a levá-lo
para onde quer que fossem. "Isto incluía as aulas de experiências nos
laboratórios, quando tomavam notas na biblioteca, ou quando tinham
determinadas aulas de campo", escreve Hyler. No início, os alunos viam
isto apenas como mais uma coisa para fazer, mas acabaram por “perceber
que o caderno de notas é uma ferramenta valiosa para todas as coisas que
fazemos em ciências”, acrescenta.
Proporcione atividades informais de escrita
Um
resumo dos conceitos científicos é útil quando os alunos precisam de
rever a matéria, mas escrever sobre o processo de aquisição desse
conhecimento pode reforçar e aprofundar a compreensão dos assuntos à
medida que aprendem.
Quando
DeShaw estava a ensinar uma unidade sobre a vida vegetal, por exemplo,
pediu aos alunos para escreverem sobre o que aprenderam usando a fórmula
PPFT (papel, público-alvo, formato, tópico). Os alunos fingiam ser uma
das estruturas da planta (raízes, folhas, caule, flor ou semente) e
escreviam a outra parte da planta sobre qualquer tópico. Os alunos
acabaram por inventar muitos cenários, tais como escrever um e-mail a
explicar o trabalho que fazem e a pedir férias, ou escrever um discurso
sobre a razão pela qual deveriam votar neles, "A Parte Mais Importante
da Planta". "As crianças adoram ser criativas, e posso avaliar se elas
compreendem (neste caso) as partes e funções da planta. Além disso,
praticam a escrita em diferentes formatos", explica ela.
James Kobialka, professor de ciências do sétimo ano em Maryland, também utiliza estas atividades informais de escrita
para fomentar o pensamento crítico dos alunos. "O mais importante para
mim é que não é censurado nem é demasiado estruturado", diz ele. Para
iniciar uma unidade sobre conservação de massa, por exemplo, Kobialka
não definiu esse termo; mostrou uma fotografia aos alunos e pediu-lhes
que escrevessem sobre estas questões: "O que notam sobre os átomos de
ambos os lados? Como podem explicar isso"? Refletir, por escrito, sobre
essas perguntas, preparou os alunos para uma longa discussão.
Seja criativo e interativo
Uma
vez que a escrita se torna uma parte integrante do processo de
aprendizagem na sala de aula de ciências, há inúmeras formas de a tornar
uma experiência ainda mais significativa e produtiva para todos os
alunos.
Para que as
crianças escrevam mais nas suas aulas, muitas vezes DeShaw começa a aula
com uma atividade de motivação chamada "A imagem científica do dia".
Apresenta uma imagem aos alunos - como uma borboleta ou uma rapariga a
saltar sobre uma poça - e pede-lhes que escrevam todas as coisas que
observam na imagem, que façam uma lista das perguntas que a imagem lhes
suscita, as coisas que inferem e, finalmente, que refiram aquilo que
possa ser considerado ciência. "Adoro esta atividade porque faz com que
os alunos comecem a ver a ciência que os rodeia na sua vida quotidiana,
tudo isto enquanto pensam criticamente, inferem, usam competências de
leitura e de escrita”, escreve DeShaw.
No
ensino básico e secundário, os cadernos tradicionais têm muitos
benefícios, mas o uso de versões digitais ajudou os professores a darem
outras oportunidades aos alunos de serem mais criativos e colaborarem
mais com os seus pares, dizem-nos os professores. Na aula de biologia do
ensino secundário, por exemplo, Lee Ferguson exige que os alunos
apresentem cadernos digitais
para demonstrarem as suas aprendizagens e a resposta tem sido muito
positiva - os alunos mencionam que podem personalizar os seus cadernos
digitais acrescentando recursos que selecionaram e colaboram com os
colegas, especialmente durante o ensino assíncrono e nos trabalhos de
casa. Também gostam do facto de os cadernos digitais "poderem ser
facilmente levados consigo para serem utilizados em futuras aulas de
biologia", escreve Ferguson.
O artigo «Creating Authentic Writing Opportunities in the Science Classroom» de Hoa Ngyent foi originalmente publicado no sítio Edutopia a 11/02/2022. O texto foi traduzido livremente a partir do inglês.
Conheça também a proposta Rede de Bibliotecas Escolares Diário de Escritas com a biblioteca,
um projeto de escrita de textos de diversas tipologias e com distintos
objetivos comunicativos, desenvolvido colaborativamente entre a
biblioteca e o conselho de turma/ professor titular de turma e
organizado, de forma sistemática, em torno de quatro etapas: Eu,
aprendiz | Eu, escritor | Eu, revisor | Eu, editor.
Criar oportunidades de escrita autêntica na sala de aula de ciências. (2022). Retrieved 16 September 2022, from https://blogue.rbe.mec.pt/criar-oportunidades-de-escrita-2637515