sexta-feira, 29 de maio de 2020

Dia da Energia



Hoje é o #DiadaEnergia!



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O uso mais eficiente de energia pode fazer uma grande diferença para ambiente.


A DECOJovem, mesmo à distância, está a realizar as Consumer.TALKS, para informar e sensibilizar os mais novos sobre os temas mais prementes de consumo e cidadania. Para este mês de maio, o tema escolhido é a Poupança de Energia

É importante reconhecer a importância do nosso papel enquanto consumidores e saber que com pequenos gestos se pode melhorar a nossa eficiência no consumo energético, ao desligar uma luz ou ao fazer uma melhor escolha na compra de equipamentos mais eficientes, e como podem assim poupar na carteira, reduzindo o valor das faturas de energia e contribuir para um ambiente mais saudável

Os pedidos são feitos através da nossa Plataforma DECOJovem.



quinta-feira, 28 de maio de 2020

Geografia Literária | Lisboa








Ebook | Ensinar e aprender em tempo de COVID-19










Acaba de ser lançado o e-book “Ensinar e aprender em tempo de COVID-19: entre o caos e a redenção”, uma edição da Faculdade de Educação e Psicologia da Universidade Católica Portuguesa, organizado e editado por José Matias Alves e Ilídia Cabral, docentes da instituição, e com prefácio do professor João Costa, Secretário de Estado Adjunto e da Educação.

Este e-book reúne 28 textos de professores, diretores de escolas, vereador da educação da Câmara Municipal do Porto, docentes da FEP e de um aluno do ensino básico.


Remotamente interessante | Ciclo de 11 conversas digitais



Um ciclo de 11 conversas digitais onde cada convidado partilha um top-5 de escolhas pessoais, que vão da Gastronomia à História, da Filosofia à Música, do Cinema à Literatura. São sugestões de especialistas, num programa com muita informação e curiosidades. Uma iniciativa da Fundação Francisbo Mabnuel dos Santos.



FILOSOFIA E CULTURA
Remotamente interessante Ep.1

5 filmes deste século que vamos continuar a ver no próximo, com Rui Pedro Tendinha





POLÍTICA E SOCIEDADE
5 estadistas com quem gostava de ter jantado, com Raquel Vaz-Pinto





OUTROS TEMAS

Remotamente interessante Ep.3

5 pratos que nos fazem viajar, com o Chef Kiko Martins






OUTROS TEMAS

Remotamente interessante Ep.4

5 músicas de que aprendi a gostar, com Martim Sousa Tavares





OUTROS TEMAS

Remotamente interessante Ep.5

5 momentos da nossa História que pagava para ter visto, com Pedro Aires Oliveira



OUTROS TEMAS

Remotamente interessante Ep.6

5 textos de humor que gostava de ter escrito, com Joana Marques





FILOSOFIA E CULTURA

Remotamente interessante Ep.7

5 filósofos que vale a pena conhecer, com Desidério Murcho





FILOSOFIA E CULTURA

Remotamente interessante Ep.8

5 livros que mais ganharam com a releitura, com José Luís Peixoto




OUTROS TEMAS

Remotamente interessante Ep.9

5 mulheres da História global que gostava de ter conhecido, com Filipa Lowndes Vicente





OUTROS TEMAS

Remotamente interessante Ep.10

5 palavras com que embirro, com Francisco José Viegas






FILOSOFIA E CULTURA - OUTROS TEMAS

Remotamente interessante Ep.11

5 experiências que gostava de repetir, com Gonçalo Cadilhe




segunda-feira, 25 de maio de 2020

A solidão não se mede aos palmos



Que coisa são as nuvens
José Tolentino Mendonça



A solidão dos (mais) novos é, porventura, aquela mais submersa, mais enigmática e confusa para os próprios sujeitos, aquela sobre a qual falamos menos

P
or vezes, dentro de uma casa, a solidão mais invisível é a dos jovens. A solidão não se mede aos palmos — isto deve ser explicado a quem pensa que ela está confinada ao mundo dos adultos. É certo que, a partir de certa idade, e de uma sucessão de acontecimentos desamparados com os quais se colide, surge esse coágulo da alma, que luta para se tornar fixo. Não admira que os adultos farejem mais recorrentemente a solidão uns nos outros, lhe reconheçam os códigos, despistem os seus ziguezagues... Mas, por serem adultos, podem também fazer uso de mais recursos internos, de forças que possuam já ou que procurem, para fazer-lhe frente. A vulnerabilidade dos (mais) velhos é ainda outro discurso, porque aí a solidão, não raro, é um eufemismo para ocultar a palavra abandono. E, sobre isso, as nossas sociedades precisariam de refletir melhor. Mas a solidão dos (mais) novos é, porventura, aquela mais submersa, mais enigmática e confusa para os próprios sujeitos, aquela sobre a qual falamos menos. Possivelmente só daqui a muitos anos, por exemplo, vamos perceber como é que a geração das crianças e adolescentes de hoje viveu esta experiência da pandemia, que medos e incertezas se alojaram neles pela primeira vez ou que perguntas sem resposta se fizeram. Só mais adiante compreenderemos o que representou para eles o fecho abrupto das escolas, a distância dos amigos e coetâneos ou este regresso a uma intensidade da família nuclear, que antes talvez não haviam tido. Contou-me uma amiga que um dos filhos à mesa, tentando interpretar a situação extraordinária que a família está a viver, disse: “Acho que estamos aqui a construir memórias.” Todos olharam para ele, espantados com a grandeza inesperada da definição na boca de um fedelho, mas seguramente aquelas palavras corresponderam dentro dele a emoções, a um esforço concreto de aproximação a uma realidade complexa, a um apaziguamento que encontrou quando foi capaz de justificar a estranheza com uma missão que unia — e unirá depois ainda — toda a sua família, pois as memórias são, como se sabe, moedas para ser usadas no país do futuro.

Nós adultos esquecemo-nos depressa de como as vidas são fragilmente construídas sobre certezas cuja evidência depende da confiança, e que esta é um tão longo e feliz e sofrido caminho

Muitas vezes, quem os vê armados de tecnologia, estirados pela casa, aparentemente fechados nos seus interesses, com a cabeça noutro lado, a responder com monossílabos a frases inteiras não imagina que esse é o modo possível de se protegerem de um mundo que sentem em derrapagem. Que quando vagueiam numa passividade onde só vemos desnorte e indolência eles estejam engolidos, com uma dolorosa reverberação que não captamos, pelo indizível espavento de se terem olhado ao espelho, e de se interrogarem como serão ao acordar no dia seguinte, e no mês seguinte. E que quando parecem implicativos e agressivos estão, a bem dizer, apenas assustados. Nós adultos esquecemo-nos depressa de como as vidas são fragilmente construídas sobre certezas cuja evidência depende da confiança, e que esta é um tão longo e feliz e sofrido caminho.
Ganharíamos tanto se em vez da pressa dos juízos nos déssemos ao trabalho de sintonizar com a solidão dos outros, aprendendo assim a reconciliar-nos com a nossa. A solidão é uma das primeiríssimas experiências de humanidade que fizemos. Lembro aquilo que escreveu a pedopsiquiatra Françoise Dolto: “A solidão dos bebés existe. Eles têm necessidade de que lhes falem, de que lhes cantem, mesmo se ao longe. Ouvem uma voz, não estão completamente sozinhos. O ser humano precisa de companhia. O espaço de um ser humano, desde o nascimento, precisa de ser povoado pela presença psíquica de outro ser para o qual ele existe.” 
E-Revista Expresso, 23 de maio de 2020

ONU | Iniciativa Verified



Combater a desinformação sobre o COVID19



 https://www.shareverified.com/pt








O mundo só pode conter o vírus e seus efeitos se cada pessoa tiver acesso a informações precisas e confiáveis. Verified é uma iniciativa das Nações Unidas que vai direta ao assunto quando se trata de conteúdo em que vse pode confiar: informações que salvam vidas, orientações baseadas em factos e histórias do melhor da humanidade. Procure pelo sinal de verificação dupla.


Quiz | Maria Velho da Costa





Quiz criado por Biblioteca Camilo Castelo Branco com GoConqr

domingo, 24 de maio de 2020

Pensamentos |












Audiotexto | Um amor de cão, de Maria Velho da Costa








O desenvolvimento deste conto daria origem a Myra, o último romance da autora (publicado em 2008).

LER+ Ler melhor | Novas Cartas Portuguesas










IN MEMORIAM | Maria Velho da costa




"A literatura e a poesia, são um perigo para os regimes totalitários [...] Por isso [esses regimes] queimam, ignoram e analfabetizam. O que vem dar à mesma atrofia do espírito, mais pobreza na pobreza". - Maria Velho da Costa











Morreu a escritora Maria Velho da Costa.
Escritora morreu aos 81 anos. Foi co-autora, juntamente com Maria Teresa Horta e Maria Isabel Barreno, de Novas Cartas Portuguesas, uma obra literária que denunciava a repressão e a censura do regime do Estado Novo e que lhe valeu um processo judicial, suspenso depois da revolução de 25 de Abril de 1974.


sábado, 23 de maio de 2020

+Leitur@s | Todas as cartas de amor são ridículas



Álvaro de Campos escreveu que "as cartas de amor, se há amor, têm de ser ridículas". Hoje a doce voz de Elisa comprova-o, partilhando a ternura das palavras trocadas entre Ofélia e o "Nininho", em "Cartas de Amor de Fernando Pessoa e Ofélia Queiroz" (ed. Assírio & Alvim).






Fernando Pessoa | Quiz








Quiz PNL2027
Fernando Pessoa
Esta semana, o tema é Fernando Pessoa.
Em março, o PNL2027 iniciou a publicação semanal de desafios sobre livros e autores de obras PNL2027, no Instagram do PNL2027.
Estes desafios são publicados na Stories do Instagram e do Facebook do PNL2027 e podem posteriormente ser consultados nos destaques.



sexta-feira, 22 de maio de 2020

Prece no Mediterrâneo









Prece no Mediterrâneo

Em vez de peixes, Senhor,
dai-nos a paz,
um mar que seja de ondas inocentes,
e, chegados à areia,
gente que veja com o coração de ver,
vozes que nos aceitem.


E tão dura a viagem
e até a espuma fere e ferve,
e, de tão, cega
durante a travessia

Fazei, Senhor, com que não haja
mortos desta vez,
que as rochas sejam longe,
que o vento se aquiete
e a vossa paz enfim
se multiplique

Mas depois da jangada,
da guerra, do cansaço,
depois dos braços abertos e sonoros,
sabia bem, Senhor,
um pão macio,
e um peixe, pode ser,
do mar

que é também nosso

Ana Luísa Amaral, Ágora, 2019

Conversas digitais





Made with Padlet



💻 A biblioteca no plano do E@D



Partilha de leitur@s | Clara Não








Clara Não lê excertos de O paraíso são os outros, de Valter Hugo Mãe.



Conversas confinadas | José Luís Peixoto




Habituado a viajar pelo Mundo, o escritor José Luís Peixoto está ao mesmo tempo familiarizado com o conceito de confinamento, visto como faz frequentemente para escrever. No entanto, o facto de o fazer de forma involuntária, confessa, tem vindo a deixá-lo pontualmente desanimado.







+Leitur@s | Ana Luísa Amaral




A escritora partilha com os leitores a leitura do seu poema "Pequena ode, em anotação quase biográfica" (in "Todavia", ed. Assírio & Alvim).









Dia do autor português com Pedro Seromenho



Direto | 


22 maio





quinta-feira, 21 de maio de 2020

+ Leitur@s | Na América disse Jonathan







“O cinema e a América, diz Jonathan. Uma tela à frente de uma paisagem; imagino uma manifestação que exige um ecrã em frente a cada uma das grandes árvores.

Um filme à frente de uma árvore com dois mil anos. Pensar o Parque Nacional das Sequóias repleto de ecrãs com documentários sobre árvores. A natureza filmada torna-se personagem.

A tela atrai, não olhas para mais nada.

Imagina a mais bela mulher, diz Jonathan, imagina o mais belo homem;a mais bela montanha, a árvore mais larga, o animal mais exótico; imagina-os ali, a cem ou a cinquenta metros de ti. E supõe que, a três metros, alguém colocara um ecrã. E na tela um filme torna-se visível. Podes ter a certeza, o teu pescoço vira-se para o ecrã. O ecrã como grande atractor da América, diz Jonhathan.”

Na América, disse Jonathan (Relógio D’Água, 2018) nasce de um convite da Fundação Luso-Americana para Desenvolvimento a Gonçalo M. Tavares para uma viagem nos E.U.A. Aceita o convite e faz-se acompanhar por Kakfa e por Jonathan.

Desengane-se o leitor porque não se trata só de um livro de viagens, mas de uma geografia própria e um género híbrido: diário de viagem, “diário-ficção”, romance, documentário e ensaio, oscilando entre texto escrito e narrativa visual.

“Como é que se vive em zoom?”

“Qual o último rosto que querem ver antes de morrer (sem pensar em rostos de familiares próximos)?”

A velocidade da tecnologia é assustadora?

Qual o poder da imagem?

Que efeito têm as fotografias de Kakfa na escrita de Gonçalo M. Tavares? E para o leitor. "

Quiz | Anibal Milhais: um herói chamado Milhões




O soldado Milhões é um herói português da Primeira Guerra Mundial. 
O que sabe sobre ele?



Quiz criado por Prelo Blogue Editorial com GoConqr





Anibal Milhais. Um Herói Chamado Milhões
José Jorge Letria e Nuno Saraiva
Grandes Vidas Portuguesas
Imprensa Nacional Casa da Moeda
Abril de 2014



domingo, 17 de maio de 2020

Senti o beijo como o mar deve sentir a onda



Cena do filme de O ano da morte de Ricardo Reis, realizado por João Botelho, protagonizado por Chico Diaz (Ricardo Reis) e Vitória Guerra (Marcenda)





Ricardo Reis pega-lhe na mão direita, não para a cumprimentar, apenas quer guiá-la neste labirinto doméstico, para o quarto nunca, por impróprio, para a sala de jantar seria ridículo, em que cadeiras da comprida mesa se sentariam, um ao lado do outro, defronte, e aí quantos seriam, inúmeros ele, ela decerto não única, seja então para o escritório, ela num sofá, eu noutro, entraram já, estão enfim todas as luzes acesas, a do teto, a da secretária, Marcenda olha em redor os móveis pesados, as duas estantes com os poucos livros, o mata-borrão verde, então Ricardo Reis diz, Vou beijá-la, ela não respondeu, num gesto lento segurou o cotovelo esquerdo com a mão direita, que significado poderá ter o movimento, um protesto, um pedido de trégua, uma rendição, o braço assim cruzado por diante do corpo é uma barreira, talvez, uma recusa, Ricardo Reis avançou um passo, ela não se mexeu, outro passo, quase lhe toca, então Marcenda solta o cotovelo, deixa cair a mão direita, sente-a morta como a outra está, a vida que há em si divide-se entre o coração violento e os joelhos trémulos, vê o rosto do homem aproximar-se devagar, sente um soluço a formar-se-lhe na garganta, na sua, na dele, os lábios tocam-se, é isto um beijo, pensa, mas isto é só o princípio do beijo, a boca dele aperta-se contra a boca dela, são os lábios dele que descerram os lábios dela, é esse o destino do corpo, abrir-se, agora os braços de Ricardo Reis apertam-na pela cintura e pelos ombros, puxam-na, e o seio comprime-se pela primeira vez contra o peito de um homem, ela compreende que o beijo ainda não acabou, que neste momento não é sequer concebível que possa terminar, e voltar o mundo ao princípio, à sua primeira ignorância, compreende também que deve fazer mais alguma coisa que estar de braços caídos, a mão direita sobe até ao ombro de Ricardo Reis, a mão esquerda está morta, ou adormecida, por isso sonha, e no sonho relembra os movimentos que fez noutro tempo, escolhe, liga, encadeia os que, a sonhar, a erguem até à outra mão, agora já se podem entrelaçar os dedos com os dedos, cruzarem-se por trás da nuca do homem, não deve nada a Ricardo Reis, responde ao beijo com o beijo, às mãos com as mãos, pensei-o quando decidi vir, pensei-o quando saí do hotel, pensei-o quando subia aquela escada e o vi debruçado do corrimão, Vai beijar-me. A mão direita retira-se do ombro, escorrega, exausta, a esquerda nunca lá esteve, é a altura de o corpo ter um movimento ondulatório de retração, o beijo atingiu aquele limite em que já não se pode bastar a si mesmo, separemo-nos antes que a tensão acumulada nos faça passar ao estádio seguinte, o da explosão doutros beijos, precipitados, breves, ofegantes, em que a boca se não satisfaz com a boca, mas a ela volta constantemente, quem de beijos tiver alguma experiência sabe que é assim, não Marcenda, pela primeira vez abraçada e beijada por um homem, no entanto percebe, percebe-o todo o seu corpo dentro e fora da pele, que quanto mais o beijo se prolongar maior se tornará a necessidade de o repetir, sofregamente, num crescendo sem remate possível em si mesmo, será outro o caminho, como este soluço da garganta que não cresce e não se desata, é a voz que pede, sumida, Deixe-me, e acrescenta, movida não sabe por que escrúpulos, como se tivesse medo de o ter ofendido, Deixe-me sentar. Ricardo Reis encaminha-a até ao sofá, ajuda-a, não sabe o que fará a seguir, que palavra lhe compete dizer, se recitará uma declaração de amor, se pedirá desculpa simplesmente, se ajoelhará aos pés dela para isto ou aquilo, se ficará em silêncio à espera de que ela fale, tudo lhe parecia falso, desonesto, a única verdade profunda foi dizer, Vou beijá-la, e tê-lo feito. Marcenda está sentada, pousou a mão esquerda no regaço, bem à vista, como se a tomasse por testemunha, Ricardo Reis sentou-se também, olhavam-se, sentindo ambos o seu próprio corpo como um grande búzio murmurante, e Marcenda disse, Talvez não devesse dizer-lho, mas eu esperava que me beijasse. Ricardo Reis inclinou-se para a frente, agarrou-lhe a mão direita, levou-a aos lábios, falou enfim, Não sei se foi por amor ou desespero que a beijei, e ela respondeu, Ninguém me beijou antes, por isso não sei distinguir entre o desespero e o amor, Mas, pelo menos, saberá o que sentiu, Senti o beijo como o mar deve sentir a onda, se fazem algum sentido estas palavras, mas ainda é dizer o que sinto agora, não o que senti então, Tenho estado todos estes dias à sua espera, a perguntar-me o que iria acontecer se viesse, e nunca pensei que as coisas se passariam assim, foi quando aqui entrámos que compreendi que beijá-la seria o único ato com algum sentido, e quando há pouco lhe disse que não sabia se a tinha beijado por amor ou por desespero, se nesse momento soube o que significava, agora já não sei, Quer dizer que afinal não está desesperado, ou que afinal não me tem amor, Creio que todo o homem ama sempre a mulher a quem está a beijar, ainda que seja por desespero, Que razões tem para sentir-se desesperado, Uma só, este vazio, Um homem que pode servir-se das suas duas mãos, a queixar-se, Mas eu não estou a queixar-me, digo só que é preciso estar muito desesperado para dizer a uma mulher, assim, como eu disse, vou beijá-la, Podia tê-lo dito por amor, Por amor beijá-la-ia, não o diria primeiro, Então não me ama, Gosto de si, Eu também gosto de si, E contudo não foi por isso que nos beijámos, Pois não, Que vamos fazer agora, depois do que aconteceu, Estou aqui sentada, na sua casa, diante de um homem com quem falei três vezes na vida, vim cá para o ver, falar-lhe e ser beijada, no resto não quero pensar, Um dia talvez tenhamos de o fazer, Um dia, talvez, hoje não [...]. 


José Saramago, O ano da morte de Ricardo Reis, de José Saramago, Editorial Caminho, 1985 [capítulo XI].



sexta-feira, 15 de maio de 2020

LeV - Literatura em Viagem | José Luís Peixoto








Dia 15 de maio, às 17:00, José Luís Peixoto estará, via streaming, numa conversa com moderação de Manuella Bezerra de Melo.


Assista às sessões em direto, na página de Facebook da Câmara Municipal de Matosinhos: facebook.com/CamaraMunicipalMatosinhos/





Distanciamento social



"o mais certo é ser a palavra o melhor que se pôde arranjar, a tentativa sempre frustrada para exprimir isso a que, por palavra, chamamos pensamento". - José Saramago 









quinta-feira, 14 de maio de 2020

LeV - Literatura em Viagem | Ana Luísa Amaral







Dia 14 de maio, às 22:00Ana Luísa Amaral estará, via streaming, numa conversa com moderação de Manuella Bezerra de Melo.



Assista às sessões em direto, na página de Facebook da Câmara Municipal de Matosinhos: facebook.com/CamaraMunicipalMatosinhos/ 



quarta-feira, 13 de maio de 2020

Honra os teus velhos



Que coisa são as nuvens
José Tolentino Mendonça





Se os velhos são reduzidos a números, e a números com escassa relevância humana e social, podemos até superar airosamente a crise sanitária, mas sairemos diminuídos como comunidade

U
m facto ao qual não nos deveríamos habituar é este: que na informação sobre as vítimas da pandemia venha associada a sua idade e a indicação de que eram afetados por outras patologias. Não nos damos conta, mas com isso descemos, de forma irreversível, alguns degraus daquele precioso património comum a que chamamos civilização. Não discuto que a intenção possa ser virtuosa, pois supostamente visa serenar os outros segmentos da população. Mas certas serenidades induzidas têm de ser questionadas, sobretudo se reforçam a vulnerabilidade de quem já tem de suportar tanto. É fundamental que para as nossas sociedades seja claro que há coisas piores do que a infeção com o vírus da covid-19. Se os velhos são reduzidos a números, e a números com escassa relevância humana e social, podemos até superar airosamente a crise sanitária, mas sairemos diminuídos como comunidade. Rodarão as estações. A esta primavera suceder-se-á outra, porventura, mais risonha, distendida e ampla. Mas nunca mais respiraremos da mesma maneira.
É que não se envelhece para morrer. Penso no modo extraordinário e preciso como o livro do Génesis descreve a caminhada do patriarca Abraão. “Abraão expirou... velho e saciado de dias” (Gen 25:8). Sim, não se envelhece para morrer. Envelhecemos para nos saciarmos de vida e desse modo sentir que, mesmo escassa ou vacilante, a vida é o milagre mais espantoso, mais indescritível e pródigo que nos tocou em sorte. Com razão, James Hilmann escreveu: “Envelhecendo eu revelo o meu carácter, não a minha morte.” A velhice é um laboratório de vida presente e não só passada, uma escola onde se aprofunda o significado da esperança e do amor. Quando estes sentimentos, despidos já das contaminações do cálculo, distantes do enganador afã dos objetivos que lhe colocámos, revelam finalmente a sua natureza. O que é o amor em si, o que é a esperança sem mais — os velhos sabem-no melhor. E, contudo, resistimos tanto a perguntar-lhes, como se essa transmissão de sabedoria não nos fosse indispensável. Que os velhos se tenham tornado uma abandonada periferia — e os condicionamentos da pandemia podem ainda dramaticamente acentuá-lo — diz muito da crise interior que mina o nosso tempo.
Envelhecemos para nos saciarmos de vida e desse modo sentir que, mesmo escassa ou vacilante, a vida é o milagre mais espantoso, mais indescritível e pródigo que nos tocou em sorte

Há cem anos, no início dos anos 20 do século passado, Max Weber escrevia que, diferentemente das gerações que nos precederam, “os homens já não morrem saciados de vida, mas simplesmente cansados”. O dogmatismo com que hoje encaramos a produtividade, a eficiência e o consumo tornou-nos uma sociedade desligada de dimensões essenciais. Nela, os velhos perderam o seu papel social, pois deixámos de valorizar o depósito de conhecimento e experiência que representam, e passamos a apostar todas as nossas fichas numa ideia de progresso baseada na mudança contínua, sem freios nem memória.
Precisamos de nos reconciliar com a velhice. É um erro grosseiro representar os velhos como um peso: experimentam-no quotidianamente as famílias que sem a colaboração dos avós não saberiam como conjugar as vidas profissionais com a vida familiar; sabem-no as crianças e os jovens que nos mais velhos encontram disponível um bem que mais ninguém lhes oferece com aquela gratuidade: tempo; constatam-no todos os espaços de convivência humana que dos velhos recebem testemunhos de sabedoria, afeto e resiliência, pois eles felizmente têm olhos para aquilo que mais ninguém vê. O antiquíssimo Livro do Levítico recorda-nos este imperativo de futuro: “Ficarás de pé diante do que tem cabelos brancos; honrarás o rosto de quem é ancião” (Lev 19:32).
Fonte:
E-Revista Expresso, 25 de abril de 2020



Miniguia essencial sobre máscaras de proteção




Que tipos de máscaras existem? Que diferenças há entre elas? Qual é a informação oficial disponibilizada pelo Estado? Agora que o seu uso vai ser generalizado, ainda vai a tempo de saber tudo.

Por Micaela Pereira




Este pequeno guia serve para explicar de forma sucinta, e com base na informação do Infarmed e da Direção-Geral da Saúde (mas não só), do que estamos a falar quando falamos de máscaras de proteção no combate à covid-19, incluindo as que não são indicadas para uso médico, mas para uma “utilização comunitária”, em que o princípio é proteger os outros e, com isso, protegermo-nos a todos, numa altura em que a oferta das versões mais seguras ainda é limitada.

1. Respiradores

Oferecem a proteção máxima que é possível encontrar no mercado. Servem para evitar que o utilizador seja contaminado e, ao mesmo tempo, que ele contamine os outros. São especialmente indicados para profissionais de saúde. Também são chamados, tecnicamente, “semimáscaras de proteção respiratória”. Seguem a norma europeia EN 149:2001 e, em Portugal, a norma 007/2020, da DGS. Existem respiradores de três tipos, com diferentes níveis de proteção: FFP1, FFP2 e FFP3. FFP significa Filtering Face Piece.



FFP3 Estes são os filtradores que apresentam maior proteção para quem os usa. Estão classificados como de eficiência alta. Filtram, no mínimo, 98% das partículas. Isto é, só deixam passar para o interior até 2% das partículas. São especialmente indicados em caso de risco de exposição a aerossóis (micropartículas muito mais pequenas do que gotículas — podem ser 200 vezes menores do que um milímetro). São recomendados, por exemplo, para as unidades de cuidados intensivos, em todos os procedimentos que envolvam os doentes. Não reutilizáveis.



FFP2 Estão classificados como de eficiên­cia média. Filtram 92% das partículas, o que significa que podem deixar passar até 8% das mesmas para o interior. Indicados para quem está em contacto com doentes. Não reutilizáveis.



FFP1 Não constam na lista de máscaras para uso médico discriminadas. A sua eficiência é baixa. Filtram 78% das partículas.

N95 Esta é uma classificação americana para um tipo de máscara que fica a meio caminho entre os respiradores de classificação europeia FFP2 e FFP3. Oferecem 95% de filtragem.
2. Cirúrgicas



Servem para evitar que o utilizador da máscara contamine as pessoas à sua volta. Num documento sobre o uso de máscaras produzido pela diretora-geral da Saúde, Graça Feitas define-as como “um dispositivo que previne a transmissão de agentes infecciosos das pessoas que utilizam a máscara para as restantes”. A DGS recomenda estas máscaras “a todos os profissionais de saúde, a pessoas com sintomas respiratórios e pessoas que entrem e circulem em instituições de saúde”. Idosos com doenças crónicas e estados de imunossupressão devem colocá-las “sempre que saiam de casa”.

O Infarmed identifica três tipos de máscaras cirúrgicas: tipo I, tipo II e tipo IIR. Mas não diz nada sobre as diferenças que existem entre elas.

Segundo um documento divulgado pelo Conselho de Escolas Médicas Portuguesas (CEMP), as máscaras cirúrgicas impedem a saída de 95% das partículas emitidas pelo seu utilizador. Mas filtram, em sentido inverso, apenas 80% a 90% das partículas que entram. Não protegem de forma adequada quem as usa contra os aerossóis. Sendo que o coronavírus, segundo alguns estudos científicos preliminares feitos na China, está presente em aerossóis.
3. Comunitárias

Sobram as outras máscaras, cuja utilização pela população a diretora-geral da Saúde sublinha ser “um ato de altruísmo”. A utilização deve ser feita “por qualquer pessoa em espaços interiores fechados com múltiplas pessoas (supermercados, farmácias, lojas ou transportes públicos)”.



COMERCIALIZADAS Tendo em conta a possibilidade de serem produzidas por fabricantes em Portugal, o Infarmed descreve dois tipos de máscaras têxteis, um de nível 2 (com filtragem de 90%) e outro de nível 3 (com filtragem de 70%). Dá como referência várias normas europeias sobre permeabilidade ao ar e capacidade de retenção de partículas. No caso das máscaras de nível 3, com filtragem mais baixa, o Infarmed indica que podem ser destinadas a “profissionais que não estejam em teletrabalho ou população em geral para as saídas autorizadas em contexto de confinamento”.



CASEIRAS O nível de filtragem das máscaras pode variar muito, consoante o material usado. Segundo o CEMP, os sacos de aspirador são o material que tem maior filtragem (86%), mas as T-shirts 100% de algodão oferecem melhor equilíbrio entre filtragem, respirabilidade e conforto.
Fonte:
E-Revista Expresso, 25 de abril de 2020




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