domingo, 30 de junho de 2019

O ADN da Humanidade


#Cartooning4HumanRights 
#StandUp4HumanRights 




Artigo 1: "Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos e, dotados como são de razão e consciência, devem comportar-se fraternalmente uns com os outros." 




Cartoon Movement | Caricatura por Anne Derenne




Juntos de férias | Diverte-te, lendo!



APP Desafios Ler+
PNL2027 












 





Desafios Ler+ é uma aplicação de jogos baseados na leitura de livros recomendados pelo PNL2027 para os jovens. 

A app permite também a pesquisa de outros livros que vão ao encontro dos gostos e interesses dos utilizadores, para que estes leiam e se divirtam. 

Desafios Ler+ serve de base ao projeto Juntos de Férias, no âmbito do qual, em cada período de férias - Verão, Natal, Carnaval e Páscoa -, serão disponibilizados jogos sobre seis livros.






Design | Bibliotecas Escolares




Lugares mágicos 
onde os Professores Bibliotecários podem inspirar novas gerações de leitores e pensadores 



Michael Bierut , designer




sábado, 29 de junho de 2019

Quadro Nacional de Referência para a Cibersegurança












A consciencialização das organizações para a temática da segurança das redes e dos sistemas de informação nunca foi tão relevante como é hoje em dia. A cada ano que passa existe um maior número de dispositivos conectados entre si através da internet, alguns deles, mal protegidos ou mal configurados, que acabam por se traduzir em ameaças aos ativos das organizações. 

A cibersegurança, em todas as suas vertentes, é uma preocupação central nas sociedades atuais. Um ambiente seguro é fundamental para estabelecer e desenvolver qualquer atividade económica ou social. No entanto, a segurança não deve ser a protagonista. Pelo contrário, deve existir para libertar os cidadãos e as empresas de preocupações, de modo a que se possam focar nas suas atividades. 

Em alinhamento com a Lei n.º 46/2018, que estabelece o regime jurídico da segurança do ciberespaço, transpondo a Diretiva (UE) 2016/1148, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 6 de julho de 2016, relativa a medidas destinadas a garantir um elevado nível comum de segurança das redes e da informação em toda a União, este documento tem como missão providenciar às organizações um guia de cibersegurança que sistematiza um conjunto de medidas para as problemáticas mais relevantes da atualidade nesta matéria. Pretende disponibilizar as bases para uma organização cumprir os requisitos mínimos de segurança da informação recomendados. 

Sabendo que as organizações se podem encontrar em diferentes níveis de maturidade e possuir diferentes dimensões (desde micro e pequenas organizações a grandes empresas ou instituições públicas), e que algumas recomendações podem ser desproporcionalmente exigentes para a dimensão da organização ou não ser suficientemente exigentes, sugere-se que o documento seja interiorizado com espírito crítico por cada organização e adequado às suas necessidades. 

Está estruturado num conjunto de medidas de segurança que traduzem cinco objetivos específicos: Identificar, Proteger, Detetar, Responder e Recuperar. 

São referenciados exemplos e orientações que permitem sistematizar processos e procedimentos cuja aplicação conduza ao cumprimento desses mesmos objetivos, não na forma de uma lista de controlo de ações a realizar, mas antes na representação dos objetivos chave reconhecidos pelos diversos intervenientes, como uma referência de alto nível assente num conjunto de referenciais internacionais e em diferentes normas técnicas. 

Os objetivos são divididos em categorias e subcategorias, sendo que para cada subcategoria este documento referencia um exemplo de implementação tecnológica, de implementação processual e de evidência, consistindo numa descrição genérica de como poderá ser aplicado, contribuindo, desse modo, para uma melhor compreensão do mesmo. 

Este documento termina com um conjunto de recomendações adicionais, fundamentais para que as organizações possam cumprir, por um lado, com a legislação em vigor, e por outro possam de forma efetiva estar preparadas, através da definição de uma estratégia que envolva toda a organização, para gerir o risco e mitigar o impacto dos incidentes que poderão afetar as organizações.

Sumário Executivo in Quadro Nacional de Referência para a Cibersegurança, 
Centro Nacional de Cibersegurança, Versão 1.0, junho de 2019




Mundo virtu@l






Cartoon Movement | Pavel Constantin



A paisagem dos tempos modernos



#CartoonMovement


Cidadania digital





Cartoon Movement | Alex Falcó Chang




A informação é uma comodidade valiosa. 

Os dados podem ajudar-nos a resolver problemas globais, mas a coleção de dados (e o seu uso) coloca-nos desafios éticos profundos.



sexta-feira, 28 de junho de 2019

O S. Pedro está-se a acabar







Santo António de Lisboa
Santo António de Lisboa
Era um grande pregador,
Mas é por ser Santo António
Que as moças lhe têm amor.
s.d.
Quadras ao Gosto Popular. Fernando Pessoa. (Texto estabelecido e prefaciado por Georg Rudolf Lind e Jacinto do Prado Coelho.) Lisboa: Ática, 1965. (6ª ed., 1973). 
 - 116.

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SÃO JOÃO
Ó Precursor, fizeste-la bonita!
Não que teu Cristo, incarnação do Bem —
Não seja quem seja o teu Divino Anunciado.
O mal são os que após, sem mística divina
Nem ternura cristã, ou só humana,
Meteram a Jesus na cela da doutrina
Com as algemas do ódio manietado
Para depois manchar de falsa fé
O pobre homem que todo homem é
A cruel multidão negramente infinita
Que tem sido o algoz ou o ladrão
Da ingénua humanidade aflita —
Esses que, aqui mesmo, pelos modos,
Dão ao inferno realização...
Ah, não podiam ser piores, nem
Que a mulher do Diabo, se ele a tem,
Os tivesse parido a todos.
Eu bem sei que houve muito santo e crente,
Muito puro, bondoso e inocente.
Bem sei, bem sei:
Sei-o eu e sabe-o toda a gente.
Mas esses, cuja alma está em Cristo
São só isto —
Qualquer remédio que se dissolvesse
No chá que para isso há,
E cujo gosto nele se perdesse;
O chá fica sabendo só a chá.
Se o remédio faz bem,
Não o sabe ninguém.
Que o chá não presta, não duvida alguém.
Sabemos isso, e sabê-lo-ia antes
De todos nós teu Mestre que viria,
Profeta, Deus e guia dos errantes,
Quão dolorosamente o saberia?
Sei que houve astros no céu da fé vazia.
Sei, mas repara que falso isso soa!
Por mais astros que a noite use brilhantes,
Que Diabo!, a noite não se chama dia.
Ó Precursor! Fizeste-a boa!
Daí, para nós, és de Lisboa,
Não és o precursor de nada.
És um rapaz ainda menino
Que tem por missão boa,
Por missão sorridente e sossegada
Ter ao colo um cordeiro pequenino.
Lá o que esse cordeiro significa
Não tem cheiro
Para o povo, que tem a alma rica
Da emoção que não conhece.
Para ele o cordeiro é um cordeiro,
E o menino sorri e a vida esquece.
O resto são fogueiras
E os saltos dados a gritar
Com um medo exagerado
Feito tudo de maneira
A mostrar
O riso, as pernas e o agrado.
É quente e anónima a aragem,
Tudo é juventude e viço
Num arraial multicolor e vasto.
Bonito serviço
Como homenagem
A quem, ainda com cabeça, foi um casto!
Mas é assim que és
E é assim que serás,
Até que pisem esta terra os pés
Do último fado que o Destino traz.
Então, esperamos, eu e todos,
Ver-te «surgir no céu», como quem vence
Tudo que é realidade ou ilusão
Por o menino ser que lhe pertence,
E os seus bons e santos modos
«Com o cordeirinho na mão»,
Como te viu Catullo Cearense.
Mas, desçamos à terra,
Que, por enquanto, o céu aterra,
Porque antes disso mete a morte.
Há muita coisa desconhecida
Na tua vida.
Tens muita sorte
Em ninguém saber da partida
Que em mil setecentos e dezassete
Tu fizeste à Igreja constituída
Estás, eu bem sei, cansado
Com o que a Igreja se intromete
Com tua vida e o teu divino fado.
(E) foi então que, para te vingar
E à maneira de santo, os arreliar
Desceste mansamente à terra
Perfeitamente disfarçado
E fizeste entre os homens da razão
Um milagre assinado,
Mas cuja assinatura se erra
Quando em teu dia, S. João do Verão,
Fundaste a Grande Loja de Inglaterra.
Isto agora é que é bom,
Se bem que vagamente rocambólico
Eu a julgar-te até católico,
E tu sais-me maçon.
Bem, aí é que há espaço para tudo,
Para o bem temporal do mundo vário.
Que o teu sorriso doure quanto estudo
E o teu Cordeiro
Me faça sempre justo e verdadeiro,
Pronto a fazer falar o coração
Alto e bom som
Contra todas as fórmulas do mal,
Contra tudo que torna o homem precário.
Se és maçon,
Sou mais do que maçon — eu sou templário.
Esqueço-te santo
Deslembro o teu indefinido encanto.
Meu Irmão, dou-te o abraço fraternal.
Fernando Pessoa: Santo António, São João, São Pedro. Fernando Pessoa. (Organização de Alfredo Margarido.) Lisboa: A Regra do 
Jogo, 1986.  - .


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SÃO PEDRO
Tu, que Diabo?, és velho.
És o único dos três que traz velhice
Às festas. Tuas barbas brancas
Têm contudo um ar terno
A que o teu duro olhar não dá razão.
Parece que com essas barbas brancas
Por um fenómeno de imitação
Pretendes ter um ar de Padre Eterno.
Carcereiro do céu, isso é o que és.
Basta ver o tamanho dessas chaves —
As que Roma cruzou no seu brasão.
Segundo aquele passo do Evangelho
Do «Tu és Pedro» etcetera (tu sabes),
Que é, afinal uma fraude
Meu velho, uma interpolação.
Carcereiro do céu, que chaves essas!
Nem dão vontade de ser bom na terra,
Se, segundo evangélicas promessas
Vamos parar, ao fim, a um céu claustral.
Isso — fecharem-me — não quero eu,
Nem com Deus e o que é seu
Que o estar fechado faz-me mal
Até na beatitude do teu céu,
Entre os santos do paraíso,
(A liberdade — Deus dá a Deus —
Um Deus que não sei se é o teu),
O estar fechado, aqui ou ali, dizia eu
Faz-me terríveis cócegas no juízo.
Enfim, que direi eu de ti, amigo,
Que não seja uma coisa morta,
Anti-popular, gongórica,
Por fruste deselegante,
Como de quem, sem saber nada, exausto,
Começo por duvidar bastante,
Desculpa-me chaveiro antigo,
De que tivesses existência histórica.
Mas isso, é claro, não importa
Se nos trazes
A alegria da singeleza
Ou a bondade que não sabe ter tristeza.
O pior é que nada disso fazes.
O teu semblante é duro e cru
E as barbas que roubaste ao Deus que tens
Só arrancam aos dandies teus loquazes
Ditos de dandies cínicos desdéns.
Que diabo, és uma série de ninguéns.
O Santo são as chaves, e não tu.
Para uns és S. Pedro, o grão porteiro,
Para outros as barbas já citadas,
Para uns o tal fatídico chaveiro
Que fecha à chave as almas sublimadas.
Para uns tu fundaste a Roma do Papado
(Andavas bêbado ou enganado
Ou esqueceste
O teu posto quando o fizeste)
E para outros enfim, como é o povo
E segundo as ideias que ele faz,
És quem lhe não vem dar nada de novo —
Umas barbas com S. Pedro lá por traz.
É difícil tratar-te em verso ou prosa,
Tudo em ti, salvo as barbas, é incerto,
Tudo teu, salvo as chaves, não tem ser
E a alma mais humilde é clamorosa
De qualquer coisa que se possa ver,
Em sonho até, qual se estivesse perto.
Olha, eu confesso
Que nunca escreveria
Este vago poema, em que me apresso
Só para me ver livre do teu nada,
Se não fosse para dar um cunho
A este livro da trilogia
(Santo António, S. João, S. Pedro —
De popular, que bem que soa!)
Mas porque diabo de intuição errada
É que vieste parar a Junho
E a Lisboa?
Isto aqui ainda tem
Um sorriso que lhe fica bem,
Que até, até
No teu dia,
(Ó estupor velho
Como um chavelho,)
Nas ruas
O povo anda com alegria,
É fé,
Não em ti nem nas barbas tuas
Mas no que a alegria é.
Olha, acabei.
Que mais dizer-te, não sei.
Espera lá, olha
Roma, fingindo que viceja,
Lentamente se desfolha.
Teu último gesto seja
Um gesto volvente e mudo.
Se tens poder milagroso,
Se essas chaves abrem tudo,
Deixa esse céu lastimoso.
Deixa de vez esse céu,
Desce até à humanidade
E abre-lhe, enfim no mudo gesto teu,
As portas do Inferno, e da Verdade.
Fernando Pessoa: Santo António, São João, São Pedro. Fernando Pessoa. (Organização de Alfredo Margarido.) Lisboa: A Regra do Jogo, 1986.
  - .

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Entreguei-te o coração







Entreguei-te o coração,
E que tratos tu lhe deste!
É talvez por estar estragado
Que ainda não mo devolveste...
s.d.
Quadras ao Gosto Popular. Fernando Pessoa. (Texto estabelecido e prefaciado por Georg Rudolf Lind e Jacinto do Prado Coelho.) Lisboa: Ática, 1965. (6ª ed., 1973). 
 - 37.






Quando...





 
Trecho do filme. "João Bénard da Costa: Outros amarão as coisas que eu amei"







Quando o meu corpo apodrecer e eu for morta
Continuará o jardim, o céu e o mar,
E como hoje igualmente hão-de bailar
As quatro estações à minha porta.


Outros em Abril passarão no pomar
Em que eu tantas vezes passei,
Haverá longos poentes sobre o mar,
Outros amarão as coisas que eu amei.


Será o mesmo brilho, a mesma festa,
Será o mesmo jardim à minha porta,
E os cabelos doirados da floresta,
Como se eu não estivesse morta.

Sophia de Mello Breyner Andresen | Dia do Mar, Edições Ática, 1974, pág. 84

📚 Centenário



Bem-Estar Animal



Cidadania e Desenvolvimento | 7º B











segunda-feira, 24 de junho de 2019

Que lugar é esse?



Biblioteca: o lugar de todos os encontros







Dia internacional de apoio às vítimas de tortura




26 de junho













Apesar da proibição absoluta pelo direito internacional, a tortura persiste em todas as regiões do mundo. Um número chocante de pessoas até favorece o seu uso. Preocupações sobre a proteção da segurança nacional e das fronteiras são cada vez mais usadas para permitir a tortura e outras formas de tratamento cruel, degradante e desumano. 

As Nações Unidas condenaram a tortura desde o início como um dos atos mais cruéis perpetrados por seres humanos aos seus semelhantes. As vítimas de tortura vêm de todas as esferas da vida: homens, mulheres e, comovente, um número crescente de crianças. São povos indígenas e minorias; defensores dos direitos humanos, opositores políticos e jornalistas; migrantes; pessoas com deficiência; pessoas lésbicas, gays, bissexuais, trans ou intersexuais; ou simplesmente habitantes de certos bairros. 

As vítimas da tortura são selecionadas aleatoriamente, ou constituem um alvo ou são perseguidas. A tortura busca aniquilar a personalidade da vítima e nega a dignidade inerente ao ser humano. As suas consequências generalizadas frequentemente vão além do ato isolado de um indivíduo; pode ser transmitida através das gerações e levar a ciclos de violência. 



domingo, 23 de junho de 2019

Quadras da tradição sanjoaneira do Porto










Há diferentes emoções,
Meu S. João, nas noitadas,
D'uns olhos sobem balões
D'outros caem orvalhadas...




A noite está de luar
Mas os teus olhos, Maria,
São dos balões a brilhar
Mais belos que a luz do dia!




Esta vida é uma cascata
Que fica por construir
Por ela a gente se "mata"
Para morrer a seguir.



Meu balão não é d'espanto!
Não tem vinda, só tem ida,
Leva risos, leva pranto...
Tudo faz parte da vida.




Ah poeta! Tu desfolhas
Tua sorte em tons diversos:
No trevo de quatro folhas,
Na trova de quatro versos...







Jovens & Mudança | Guia







Brasília: ONU Meio Ambiente e UNESCO, 2018. 64 p., illus. ISBN: 978-85-7652-220-1
Título original: YouthXchange guidebook series: climate change and lifestyles
Publicado em 2011 pela ONU Meio Ambiente e pela UNESCO







Guia sobre mudança climática e estilos de vida


Este Guia, elaborado pela ONU Meio Ambiente e a UNESCO, tem como objetivo responder às perguntas que os jovens entre 15 e 24 anos possam ter, e inspirá-los nas suas vidas diárias. Explora a relação entre mudança climática e estilos de vida numa perspetiva científica, política, económica, social, ética e cultural, e identifica as ações que os jovens podem tomar para que os seus estilos de vida sejam mais sustentáveis. 

As informações relevantes relacionadas com a mudança climática são apresentadas de uma forma menos abstrata e assustadora, ajudando os jovens a desenvolver visões alternativas e a estabelecer metas para melhorar o seu futuro. O Guia fornece informações, estudos de caso e dicas úteis em torno de temas relevantes para os jovens e as suas vidas quotidianas, como alimentos e bebidas, viagens e transportes, lazer e entretenimento. 

Num momento em que os recursos do planeta estão a esgotar-se mais rapidamente do que podem ser repostos, nunca foi tão essencial adotar e promover formas mais sustentáveis de vida que estejam em harmonia com as nossas comunidades e com a natureza. Este Guia auxilia os jovens a tornarem-se defensores e agentes de mudança para estilos de vida sustentáveis nas suas respetivas comunidades ao redor do mundo.




sexta-feira, 21 de junho de 2019

Quando a poesia aguarda um filme



+ Leitu@s



LÍDIA JORGE: O LIVRO DAS TRÉGUAS, OU QUANDO A POESIA AGUARDA UM FILME DE SABERES, LUGARES E TEMPOS







Lá no apartamento em Jerusalém numa janela aberta para a rua os olhos do Poeta refletem a ambição de segurar nas mãos Nova Iorque ou Alexandria. Quase zangado, quase desesperado, quer dizer da saudade com as fotografias nas mãos, e nada o contenta das palavras que a definem. Afinal a saudade é um lugar de desejo, de perseguição, de punição e pede-se a Faulkner que feche a cortina ao de leve e que se deite o Poeta por entre os lençóis da cama que lhe fazem sentir um habitar Jerusalém, na cama da sua meretriz, ou Muro, que impele a sua partida dali. E fecha os olhos o Poeta, com as faces rosas de sangue que lhe recordam a cor das bochechas do filho, nascido livre, e agora outra noite, filha do livro-mãe, filha da conclusão e da pergunta com nome de destino, com nome de veleiro.

O filme começou assim, exprimindo um rosto com tudo o que deve exprimir antes que seja tarde, antes que os enigmas de cansem de ser perguntados e que o Poeta jure por Deus que não descodificou o perfume.

E o filme mostra o frasco de cristal ricamente trabalhado e de tampa de cortiça, pousado na mesinha de cabeceira: o Poeta adormece, um tanto, só um tanto, pois que as flores desbotadas que o frasco contém, embrulham o porvir, as proporções das novas estradas, placentas informatizadas que já tinham trocado o mundo do simulacro pelo Mundo da vida, e assim, mergulhadas no mar amniótico do frasco, a elas devia estar atento o Poeta.

No dia seguinte, o Poeta desce a encosta das videiras, acaricia os cachos de uvas, e súbito, pressente o perigo não cruxificado de poder partir apenas na altura que ele conhece não haver caminho, e pergunta:

- Qual a razão para que ninguém me diga de frente que só o perfil pode agir nas noticias do amor; naquelas que se aceitam em nós e nós por elas cheios de atualidade, a sabermos que podemos partir do Médio oriente seguros do que Arquimedes nos ensinou: falo da alavanca, esta que vos mostro na qualidade de vedor e que torço como se torcesse o umbigo do mundo.

écran, surge agora com a cor e a forma de uma laranja, os gomos parecem-se a músculos iniciáticos que oferecem sumo a todos os que rodeiam o Poeta, e que ele domina afinal com o saber das coisas escondidas dando de beber e sorrindo, sereno.

E surge um forno, uma lareira, um lume que inunda os olhos de todos e que o Poeta explica tratar-se apenas de uma existência muito viva, e que antes do seu salto olímpico e mortal, arde para que todos conheçam o benefício da dúvida que as flores da música de Mozart sugerem. A casa de Mozart está toda pintada pela mão dos impressionistas. Todos, sejam quem sejam todos, pois que entrem neste noivado consumado e cuja chave é uma fábula. Uma fábula de poder. A fábula de poder dos Poetas. Sentam-se então todos numa montanha, na bainha de uma montanha, à procura de um outro início. A bainha parece igual à dos cortinados de Jerusalém. As linhas enroladas são similares a batalhas que o Poeta regista no seu caderno de apontamentos e recorda-se que isto é o significado de mesmíssimo. O essencial inalterado, afinal. O céu da tarde lança ao Poeta um cabo e ele desce por ele até fitar o que o perturba. O Poeta é sempre a conjunção do cerne dos elementos do mundo, e olhando as aguas empurra-as para o beijo, até que o lápis descreva de um outro modo a tez morena das mulheres com sarongs coloridos.

E surge a casa a tal iluminada pela candeia do Poeta: a tal do coração e da espada, do cavalo e do segredo de o montar, e lá longe de tão perto, a noção de que só do não conhecido é o futuro. Big-Bang ou a primeira batalha, a tal que não conhece a bandeira branca. O Poeta, ingénuo do poder, não julga. O Poeta continua a crer no ato limite que exponha a poesia, finalmente como solução, nem que seja por sinais de mímica, mas que a deixe a cobrir como uma pele, o mundo velho dos deuses e lhes diga que coragem é ir por onde perigoso é o norte.

Eis a Grécia!

O Poeta tem à cintura pássaros vivos e livres que assim desejam estar. É sua a vontade deste modo se acomodarem; esse o édito das suas manhãs. E o Poeta escreve que se não desliga dos incêndios das verdades, nem que lhe citem Roland Barthes. Se necessário arrendam-se as nuvens sem contrato e as suas águas transformam as florestas em verde para que todos as interpretem e ele, sozinho, arda nos factos irrelevantes que mataram os dias: nada de novo, afinal. De nada novo a não ser a estrela que se solta sem ser vista e lá do céu explica os factos todos.

Os dromedários transportavam gentes e sal pelo deserto. O tuaregue do filme «Um chá no deserto», voltou a adormecer nas dunas, olhando a mulher estranha às origens da sua cor. E sim, correu água sobre a areia no deserto durante três dias como diz o Poeta Lídia Jorge ou o amor nu, em cada canto não tivesse sido descoberto.

Em muitas circunstâncias e tempos se faz o caderno dos apontamentos do Poeta. Até o cocheiro atento ou não à maioridade da rapariga, aceitava o seu corpo doado e ainda não amado, ainda não noivado, ou, ainda era o Poeta demasiado jovem para entender aquele estado? Eu mãe-Poeta digo:

- Ó minha filha não fales alto, ninguém tem de saber que ainda estás no comboio dos nadas e que só depois da lucidez te repetirás e com ela entenderás os preceitos.

O comboio seguia junto ao mar porque ali o rio parecia o mar. O Poeta pela janela olhava o horizonte e aqui e ali presumia as cavernas nas rochas, aquelas que guardavam as sabedorias que não correspondiam à verdade. Enfim, era a viagem. Era a suspeita aqui e ali de que o livro procurado se faz ao Poeta ladrando como um cão que o arreda da esperança de entrar no carreiro da montanha. Esse carreiro, como nos mostra o filme, é um pedaço de terra que serpenteia até ao céu. E para quê? Para nos demonstrar que só estamos acompanhados de nós. Mas há futuro dizia Rui, o Belo.

Num vasto campo de milho, o Poeta utiliza a natureza por decifração e abre uma especial carola que guarda o correio que lhe é destinado. Depois de tantos anos chegar à primeira desilusão, é duro, e é duro, partir daí. O bosque que o Poeta já foi, ilumina-se só com uma arvore e lhe não basta: aquela. Parece-lhe ver uma terra de infâncias no meio daquele milho, no meio daquele acontecimento que se inicia também com pedras, pedras das montanhas, pedras com formato de condição humana, fosse o que viesse a ser essa condição em Jerusalém.

Assim, li este extraordinário livro de poesia de Lídia Jorge. Deste modo sugeri o filme: a flor de lymo que poderia dizer melhor do Poeta, quando do fim do périplo ao ponto inicial do pôr à prova, dali mesmo partiu ele, sorrindo, com o seu frasco de desbotadas flores na mão, e acredita-se que se fez de novo à expectativa.