terça-feira, 16 de agosto de 2022

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No passado mês de julho, deram entrada na biblioteca da Camilo vários títulos, oferecidos por Luís Costa Ribeiro. Hoje, divulgamos os seguintes:



   


Idade Media no distrito de Vila Real - Documentos desde o ano 569 ao ano 1278, de João Parente (Tomo I)
Idade Media no distrito de Vila Real - Monumentos e outros testemunhos medievais, de João Parente (Tomo IV)


Esta obra monumental reúne, contextualiza, traduz e interpreta mais de mil documentos medievais do distrito de Vila Real, permitindo ao leitor uma descoberta das origens dos vila-realenses.
Instrumento basilar para a historiografia medieval, apresenta, no primeiro de quatro volumes, um conjunto de 364 documentos foraleiros em latim concedidos às povoações de Vila Real desde o reino suevo até D. Afonso III.


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A totalidade das fichas da Tertúlia (nome por que ficou familiarmente conhecido o Ciclo “História ao Café”, que se desenrolou no Museu de Vila Real entre 1997 e 2005 e constituiu um dos mais fecundos eventos culturais de sempre em Vila Real) foram recentemente publicadas num grosso volume de 500 páginas.Trata-se de um trabalho coletivo de quase cinco dezenas de comunicadores, embora o grosso das comunicações e a máxima parte da investigação histórica em geral fossem feitas por Elísio Amaral Neves, que igualmente coordenou o difícil e moroso trabalho de passar a livro os textos dispersos por 182 fichas. A redação esteve a cargo de A. M. Pires Cabral, assim como algumas das comunicações.
É escusado encarecer o interesse desta obra, que, embora de forma não sistemática ou cronologicamente apresentada, retrata com grande abundância de informação a realidade vila-realense, em especial do séc. XIX e das primeiras décadas do séc. XX, tornando-se um instrumento de consulta essencial para numerosos aspectos da vida da comunidade.

Fonte: Grémio Literário de Vila Real

Vila Real - História ao café, de Elísio Amaral Neves e A.M. Pires Cabral


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António Rodríguez Colmenero, O santuário rupestre galaico romano de Panóias (Vila Real, Portugal). Novas achegas para uma reinterpretação global, Vila Real, 1999. 


RECENSÃO BIBLIOGRÁFICA

Na já vasta bibliografia sobre o santuário de Panóias, esta obra não é apenas mais um título, mas um trabalho que supera tudo quanto até agora se escreveu, quer pelo pormenor das descrições, quer pelo número e qualidade das fotografias e da reprodução de gravuras antigas, quer ainda pelas propostas de novas leituras assentes na mais demorada e paciente das observações jamais feita. Se a documentação fotográfica é excelente, os levantamentos topográficos são de menor qualidade e o da rocha I está lamentavelmente inserido de modo que a colagem do volume a interrompe. 
Teve o autor a sorte de encontrar um manuscrito do primeiro terço do séc. XVIII, da autoria de António Rodrigues de Aguiar, abade de Valnogueiras, até agora desconhecido, manuscrito que se reproduz em facsimile e se transcreve, com descrições do maior interesse. 
No primeiro capítulo, intitulado “Panóias, algo mais que um santuário rupestre”, transcreve o autor, do manuscrito de António Rodrigues de Aguiar, um excerto em que o abade diz “não tem dúvida aver antigamente neste povo algua cidade ou terra grande”. E dá o abade notícia de achados feitos que realmente sugerem a existência de uma cidade. Não vai Colmenero ao ponto de sugerir aqui uma capital de ciuitas; pelo contrário, integra Panóias no território de Aquae Flauiae. Como noutro lugar propusemos, é muito possível que no sítio do Assento, no qual se integra o santuário, tenha havido realmente uma capital de civitas, mais do que “simples residência dos seus colégios sacerdotais e outros dignatários”. Não é de estranhar, pois, que Panóias tenho sido sede de um pagus da diocese suévica bracarense, onde os reis visigodos Sisebuto e Viterico cunharam moedas. 
A leitura das inscrições corrige ou acrescenta anteriores transcrições e o autor apresenta uma inscrição inédita, também rupestre, consagrada a [Vur?]ebus.
Depois de recensear, no capítulo “Hipóteses interpretativas”, as várias opiniões que desde Argote foram propostas, com particular desenvolvimento para a de Alfoldy, Colmenero apresenta a sua própria interpretação. O santuário teria origem pré-romana e teria sido utilizado antes da grande remodelação de C. Calpurnio Rufino. Distingue assim, com grande perspicácia, três fases para Panóias. Pelo menos na última, cultuaram-se aqui Serápis e Isis, no quadro de uma veneração generalizada das divindades orientais no Noroeste, quadro que Colmenero traça com erudita citação de referências. O destino de cada tipo de lacus é sugerido e a hipótese de Alfoldy de uma “via sacra”, corroborada, embora se proponha um percurso contrário ao sugerido por aquele autor. A reconstituição do percurso e das cerimónias de culto é uma brilhante peça de reconstituição histórica.

Jorge de Alarcão. Conimbriga, 38 (1999), p. 225-246

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