sábado, 31 de julho de 2021
Novo Museu da Língua Portuguesa
quinta-feira, 29 de julho de 2021
Sugestão de Leitura para este Verão
QUIZ PARA MIÚDOS CURIOSOS
Júlio Alves
Manuscrito
2021
Nº de Páginas: 264
10 a 14 anos
Sinopse
segunda-feira, 26 de julho de 2021
Práticas de ensino e tecnologias digitais
Arévalo, J. (2021). Prácticas docentes y tecnologías digitales. Retrieved 26 July 2021, from https://universoabierto.org/2021/07/21/practicas-docentes-y-tecnologias-digitales/
A Vez das Deusas. Cartazes da Índia no Museu do Oriente
O simulador simulado
Editorial Presença, 2021
“T
O romance, que há um ano venceu o Prémio Goncourt e vendeu um milhão de exemplares em França — por cá vai na quarta edição em pouco mais de um mês —, é feito de perguntas destas. Feito de personagens que formulam perguntas destas. Feito da ausência de respostas a que este tipo de perguntas conduz. E feito da mestria de um escritor, Hervé Le Tellier, que, do início ao fim das escassas 276 páginas, coloca sobre a mesa a mais alta, última e primeira, questão filosófica, sociológica, técnica, matemática, lógica, antropológica, psicológica e física, a única questão que nos ocupa desde os tempos mais antigos e aquela cuja abordagem deu origem a milhares de páginas e de teorias: a questão sobre o que somos.
Dividido em três partes, cada uma delas contém os capítulos que, a pouco e pouco, nos fazem penetrar na história. E esta é aparentemente simples: um avião aterra com duas centenas de pessoas a bordo e, descobre-se, é a duplicação exata de um outro voo que fizera a mesma travessia 106 dias antes. A complexidade da trama deriva da identificação das personagens e do que cada uma faz com a circunstância de se ver confrontada com o seu duplo. Os sentimentos variam, do ódio profundo ao ciúme, do assassínio à solidariedade e ao sacrifício. Há um homem velho que tentará ajudar o seu segundo ‘eu’ a não cometer os mesmos erros na relação com uma mulher. Um assassino profissional que vê no seu duplo a pior das ameaças. A mãe que se recusa a partilhar tal estatuto perante o filho. A mulher que prefere “desaparecer” a destruir um casal. O homem que morre de cancro e tem uma segunda chance. O cantor que sente o duplo como um irmão. O escritor que não chega a conhecer o seu duplo porque este se suicida depois de ter escrito um livro intitulado “A Anomalia”.
Além de escritor e jornalista, Hervé Le Tellier tem formação em matemática e em linguística. Isso permite-lhe estruturar o romance de modo a que não resvale para o terreno da distopia: não há, aqui, um futuro a ser retratado, mas um presente a decorrer hoje, em pleno 2021. O autor recorre a diversas hipóteses científicas para justificar a ideia da duplicação e acaba por escolher a teoria da simulação de Nick Bostrom, que serve de alicerce ao livro. Resolvido o assunto da verosimilhança (o ser humano acede à verdade sobre a sua situação graças a uma ‘anomalia’, isto é, a duplicação dos aviões), Le Tellier parte para uma digressão sobre o que aconteceria se, de repente, descobríssemos que tudo aquilo em que acreditamos e no qual a nossa vida assenta é virtual, sendo o real por nós desconhecido ou irreconhecível. “De que serve saber?”, pergunta alguém a dada altura, condensando a mensagem do romance: se não fôssemos o que somos, se o mundo fosse o interior penumbroso da Caverna de Platão, isso faria alguma diferença?
E, se resulta impossível não pensar no “sonhador sonhado” de um dos mais célebres contos de Jorge Luis Borges, ou no Calvino de “Se numa Noite de Inverno um Viajante”, Le Tellier vai revelando as suas referências — Tolstoi, Coetzee, Adam C. Clarke, Gary, Perec, Carroll, Shakespeare, Nietzsche —, que farão sorrir alguns, embora isso seja o menos importante.
Luciana Leiderfarb. E - Revista Expresso, Semanário#2543, 23 de julho de 2021
A arte de não compreender
1.
“Pela primeira vez, um implante cerebral transformou pensamentos em discurso”, diz a notícia.
Uma máquina que é uma tradutora entre duas línguas: a língua do pensamento e a língua do discurso.
Mas, de imediato, pensar no bom e no mau tradutor e ainda no tradutor que intencionalmente deturpa a mensagem. Escolhe bem o tradutor, escolhe bem a máquina — eis um conselho.
2.
No limite, podemos pensar numa nova espécie humana que dispensasse o discurso oral e comunicasse por pensamentos.
Desta experiência em particular, diz-se: o indivíduo pensava em verbalizar cerca de 50 palavras e o computador transformava-as em som.
“Ensaios clínicos com um voluntário paralisado há 15 anos, na sequência de um acidente vascular cerebral, são promissores, defendem os cientistas, que apontam inúmeros caminhos possíveis para melhorias no dispositivo — possíveis através do treino do computador e da antecipação do discurso da pessoa.”
Com treino da máquina essas 50 palavras passarão para 500 e depois para 5000.
3.
É necessário colocar um microfone junto ao cérebro, e as simples cordas vocais são isso — e muito mais, claro.
Alguém que pensa, mas não tem cordas vocais nem outros meios de expressão — por exemplo, não consegue escrever, etc. —, eis a mais extrema definição de prisão. O pensamento preso na caixa craniana — está ali, e está vivo, mexe-se, relaciona e inventa, mas não consegue sair para o exterior. Está mudo o pensamento, mas não quieto. Uma prisão inventada pelo pior dos diabos.
4.
Imaginar prisões cerebrais em vez de concretos isolamentos do corpo em celas feitas de cimento e distância.
Imagino a pena de um Estado totalitário e perverso: desligar, no acusado, o pensamento da fala e da escrita.
O pensamento estará durante anos apenas na tua cabeça. E não conseguirás tirá-lo cá para fora.
Nem escrita, nem desenho, nem fala; cá fora nada.
5.
Sobre os animais.
O que os estudiosos dizem sobre o chimpanzé: pensa, mas as cordas vocais humanas e o sistema da fala estão ausentes.
Percebemos que pensa pelo que faz com as mãos.
Quem faz muito com as mãos pensa muito com a cabeça.
6.
Há um dito popular, absurdo e divertido, mas talvez bem mais sensato do que parece:
Macaco só não fala porque tem preguiça de remar.
7.
Não entender a linguagem traz também isto: ser incapaz de obedecer. Se o macaco percebesse claramente a fala humana, há muito tinha sido adestrado para remar e para outros trabalhos pesados.
A esperteza do macaco é esta.
Macaco só não fala porque tem preguiça de remar.
8.
— Não percebo.A frase “Sim, compreendo o que dizes” é uma frase usada desde os inícios da história humana, pelo poder violento, como a frase que inaugura os trabalhos forçados.
Os loucos há muito perceberam instintivamente essa relação directa entre não compreender e liberdade.
Um dos caminhos da liberdade é este: não percebo nada do que dizes.
— Faz isto.
— Vou espancar-te.
— Não percebo.
— Estou a espancar-te.
— Não percebo.
No limite, eis a grande defesa: imaginar um corpo que não compreende a própria dor, não a sente e não a decifra.
9.
O que tens para te defenderes do mundo violento? Tenho a minha falta de compreensão, a minha estupefacção.
Uma ordem verbal inútil é, em termos de linguagem, uma frase extraterrestre.
Diante de uma ordem rude fico estupefacto como diante de uma aparição ovni.
10.
Eis o louco que sai para o mundo hostil equipadíssimo com uma única frase:
peço desculpa, mas não percebo.
O louco só não entende porque tem preguiça de remar.
Gonçalo M. Tavares. Revista E, Semanário Expresso #2543, de 23 de julho de 2021
Gonçalo M. Tavares escreve de acordo com a antiga ortografiaquinta-feira, 22 de julho de 2021
segunda-feira, 19 de julho de 2021
Afonso Reis Cabral: Pão de Açúcar
domingo, 18 de julho de 2021
Arte, a quietude entre o caos
“Só a arte penetra… as aparentes realidades deste mundo. Existe outra realidade, a genuína, que perdemos de vista. Essa outra realidade está sempre a enviar-nos pistas, que sem arte não podemos receber. ” - Saul Bellow
Popova, M. (2015). I Work Like a Gardener: Joan Miró on Art, Motionless Movement, and the Proper Pace of Creative Labor. Retrieved 18 July 2021, from https://www.brainpickings.org/2015/09/17/i-work-like-a-gardener-joan-miro/
sábado, 17 de julho de 2021
quinta-feira, 15 de julho de 2021
Edgar Morin, um pensador da contemporaneidade
A DIVERSIDADE HUMANA É UM PRECIOSO PATRIMÓNIO DA SUA UNIDADE E A UNIDADE HUMANA É UM BEM INALIENÁVEL DA DIVERSIDADE QUE NOS CARACTERIZA
P
Ao dez anos de idade, a morte da mãe fá-lo mergulhar numa experiência de luto, que de certa maneira moldará o que se torna um posicionamento mental, oscilante entre uma inquietação sem fim e uma esperança irreprimível. Ele viverá toda a vida tentando transformar esse contraditório balanço num movimento complementar, convicto de que cada polaridade transporta afinal consigo uma verdade: de um lado a dúvida sistemática e do outro a busca incessante de uma fé; de uma parte, o exercício metódico da racionalidade e, doutra, por exemplo, a abertura ao indizível entrevisto pela mística. Edgar Morin resume assim o seu itinerário: “Senti-me sempre chamado a construir um pensamento que me permitisse reconhecer e acolher as contradições, lá onde o pensamento dito normal não vê senão alternativas, e a descobrir as minhas verdades em pensadores que se nutrem de contradições.” Efetivamente, a sua ampla cartografia intelectual é marcada por uma heterogeneidade de referências que vão da literatura (Dostoievski, Tolstoi, Tchekhov, Proust...) à ciência (Heinz von Foerster, Niels Bohr...), da espiritualidade (Jesus, Lao Tsé ou Buda) à filosofia (Heráclito, Pascal, Hegel, Marx ou Kierkegaard), do estrito campo científico à poesia (foi muito importante para Morin a convivência com alguns expoentes do movimento surrealista). Esta sua “fome omnívora de pensamento” forjou nele uma invulgar competência transdisciplinar que o conduziu àquele que constitui certamente um dos seus contributos centrais para o debate contemporâneo: a noção de complexidade.
E a complexidade é não só aquela verdade que nos forma, mas também aquela de que mais precisamos ganhar consciência. Por isso, segundo ele, o futuro obriga-nos a aprender a pensar dialogicamente, pois o que parece separado reenvia-nos, no fundo, à experiência da inseparabilidade. O mistério do humano constitui uma espécie de anel ininterrupto em que cada elemento reclama o outro: “O humano faz parte da vida e a vida faz parte do humano; o humano integra o mundo físico e este, por sua vez, o integra; o humano é indissociável da história do cosmos e esta não se conta sem o humano.” Do mesmo modo, cada um de nós é uma individualidade concreta, mas transporta em si a forma da inteira condição humana. Somos um só e somos todos. Porém, devemos saber, que esta compreensão da complexidade não é um automatismo, mas uma escolha ética. O planeta mundializado pelo atual regime da globalização, por si só, não nos torna mais unidos, solidários e fraternos. Temos de ser nós a fazer valer eticamente as implicações da diversidade e da unidade, reconhecendo, como sugere Morin, que a diversidade humana é um precioso património da sua unidade e a unidade humana é um bem inalienável da diversidade que nos caracteriza. O humanismo que Edgar Morin propõe é, assim, uma lição de inclusão e de esperança.
José Tolentino Mendonça. Que coisa são as nuvens - Edgar Morin, in Revista Expresso, Semanário # 2540, de 2 de julho de 2021
O país e o tempo
E
O espírito de heterodoxia (pelo qual houve quem se irritasse com o autor) e a relação com a Europa (que levaria décadas a assumir expressão visível, quando Portugal teve de se virar para ela após perder as suas colónias) são temas seus desde o início. “Todos os povos vivem mais ou menos confinados no amor de si próprios. Mas a maneira como os Portugueses se comprazem nessa adoração é verdadeiramente singular”, escreve Lourenço. As complexidades da nossa própria relação com o país, que têm muito menos a ver com identidade do que com imagem, seriam exploradas ao longo da sua escrita, muitas vezes através da obra de escritores como Camões, Antero de Quental e, sobretudo, Fernando Pessoa. Que há aspetos fortemente contraditórios no assunto vê-se em passagens como esta, no prólogo a “Sentido e Forma da Poesia Neo-Realista”: “Não conhecemos Cultura nenhuma em que o descaso pelas ‘nossas coisas’, tão bem nomeadas por José Régio, seja mais visceral do que na cultura portuguesa (...). Essa eterna revelação que messianicamente não desistimos de esperar, com facilidade a admitimos na mais insípida banalidade estrangeira e com fervor a achamos nas grandes obras dos outros.” Em “Ver É Ser Visto” só faltam textos ligados ao presente em sentido estrito, como alguns escritos a seguir ao 25 de Abril e anos subsequentes. Mas talvez esses não sejam verdadeiramente ‘essenciais’. Lourenço é um autor de temas grandes, e falar sobre política corrente, sendo às vezes um imperativo moral, é a forma mais segura de alguém se condenar ao erro, ou à derrota, com que nessa área ele tende a confundir-se.
Luís M. Faria. Culturas. O país e o tempo in Revista Expresso, Semanário#2540, de 2 de julho de 2021quarta-feira, 14 de julho de 2021
Velhos em prédios de quatro andares sem elevador
1.
2.
3.
Uma casa é muitas coisas — sono, afectividade e por vezes desespero — mas na sua base está um simples sistema de troca: entra comida, sai porcaria.
4.
Os novos parolos digitais
Ironicamente, nada mais somos que um hamster preso numa roda, um rato que percorre quilómetros sem sair do lugar, na ânsia de superar a imagem postada há segundos.
Uma sala de espera que se preze tem sempre meia dúzia de revistas do ano passado, uma Hola e um exemplar de capa dura das melhores paisagens do Tibete. Na parede, sobrevive uma cópia murcha do Guernica que desafia teimosamente as maleitas dos pacientes. Isto era uma sala de espera para quem realmente esperava.
Hoje, só vejo um corredor de cabeças curvadas sobre uma janela que se segura entre as mãos. Ninguém tem a ousadia de conversar, não se fazem considerações sobre o tempo nem elogios ao bebé que nos sorri da cadeira em frente, mas trocamos furiosamente trezentos caracteres com um desconhecido que está do outro lado do Atlântico. Já não damos pela demora nem pulamos da cadeira quando chamam o nosso nome. Causa-nos até um certo aborrecimento, porque têm a ousadia de interromper o momento em que estávamos a participar no mundo com gostos e bonequinhos coloridos, que expressam sentimentos e dão rosto às nossas emoções.
Somos seres digitais, modernos e tecnologicamente emancipados. Temos orgulho no feed alinhado com o melhor da nossa suposta vida, onde as escolhas são refinadas, as opiniões têm superlativo valor, onde estamos sempre mais magros e mais altos, vivemos de comida saudável e colorida, em casas imaculadas que realçam o nosso charme mesmo em pijama e cara lavada de ontem. Ironicamente, nada mais somos que um hamster preso numa roda, um rato que percorre quilómetros sem sair do lugar, na ânsia de superar a imagem postada há segundos.
Vivemos presunçosos numa linha trendy, boho-chic, onde uma lixeira pode ser sinónimo de estilo dependendo do enquadramento. Mas não passamos de uns parolos, uns pacóvios à mercê de um algoritmo, num plano desfigurado da realidade. Uma rede de contactos alimentados a toques no ecrã, que é mais vasta e mais vistosa do que os três amigos verdadeiros que nos ligam no aniversário, porque se lembraram mesmo de nós e não precisam de alertas para saberem quando estamos desamparados e sós.
Inevitavelmente estamos quase todos lá. A assumir o nosso papel num paralelo fictício, mais fácil, frenético, no qual recebemos como verdadeiro o que nos é oferecido, inevitavelmente mais propício a exageros, uma vertigem alimentada por uma paleta de filtros impossíveis de replicar. Subimos ao palco numa tela aos quadradinhos onde as personagens sabem o seu lugar: o protagonista influenciador, o interveniente por uma causa, o crítico descrente, voyeur mudo, artista despretensioso, partidário do contra… o que quisermos ser, dependendo do talento, do descaramento e da coragem de cada um.
Passamos horas no beiral desta janela portátil como vizinhas curiosas. Debruçados sobre tudo sem absorver quase nada. Atentos e cautelosos para não nos deixarmos cair. A minha avó dizia que a cabeça é mais pesada que o corpo. Concordo com ela mais do que nunca, porque se há tempo em que nos esvaziamos de matéria e nos poluímos com informação inútil, esse tempo é este
Fernandes, P. (2021). Os novos parolos digitais. Retrieved 6 June 2021, from https://observador.pt/opiniao/os-novos-parolos-digitais/
segunda-feira, 12 de julho de 2021
A Prática de Recuperação | «Estudo a 100%»
sexta-feira, 9 de julho de 2021
Audiolivro: Estes Ventos Negros, de João Narciso
Leitura de Ivo Canelas
7 capítulos interpretados com a sensibilidade e o fôlego únicos do ator Ivo Canelas.
quinta-feira, 8 de julho de 2021
Ideias de escrita para o mês de julho
Ideias de leitura para o mês de julho
Plano 21|23 Escola+
- diagnosticar de forma clara os problemas existentes em cada uma das áreas disciplinares (não basta fazer uma listagem de aprendizagens essenciais para que o diagnóstico seja eficaz);
- ouvir os especialistas, aqueles que conhecem a realidade dos seus alunos, os professores (o que precisam ou o que é preciso para que os seus alunos aprendam mais e melhor);
- delinear O Plano, isto é aquele que responde ao diagnóstico e que tem em conta, nas linhas de atuação, as sugestões dos professores;
- envolver todos os atores educativos na implementação, monitorização e avaliação deste Plano."
terça-feira, 6 de julho de 2021
Mãe, quero ser você
A mãe perguntou como se chamavam os amigos. O miúdo, primeiro calou-se e depois, a medo, disse:“Têm todos o mesmo nome”