quarta-feira, 30 de junho de 2021
Professor bibliotecário: um profissional em ação
Aprendizes de engenharia
Revista de Ciência Elementar
Já está disponível para leitura mais um número da revista da Casa das Ciências.
V9/02 junho 2021
FICHA TÉCNICA
Rev. Ciência Elem., V9(02)
Publicação trimestral
da Casa das Ciências
ISSN 2183-9697 (versão impressa)
ISSN 2183-1270 (versão online)
rce.casadasciencias.org
Depósito Legal: 425200/17
Aceda à versão online
A versão impressa está disponível na Biblioteca para consulta.
Cinema e divulgação científica
terça-feira, 29 de junho de 2021
O eixo e a lava
DANIEL FARIA FOI UM RARO POETA DA MINHA GERAÇÃO QUE NÃO PARTIU PARA A POESIA COM DESCONFIANÇA, TALVEZ PORQUE ENTENDESSE A LINGUAGEM DOS POEMAS COMO CONTINUAÇÃO DA IMAGÉTICA E DA POÉTICA BÍBLICA
U
m chama-se “Explicação das Árvores e de Outros Animais”, e abre com estes versos: “Depois das queimadas as chuvas/ Fazem as plantas vir à tona/ Labaredas vegetais e vulcânicas/ Verdes como o fogo/ Rapidamente descem em crateras concisas/ E seiva/ E derramam o perfume como lava”. O outro, que se intitula “Homens que São Como Lugares Mal Situados”, começa assim: “Examinemos um homem no chão/ Testemos a transformação de um homem por terra/ A sua natureza tão diferente da lava, a sua maneira mineral/ De adormecer/ O que mais interessa é ver o seu lugar rodando para perceber o eixo/ Que o move no mundo/ Ou como pode a sua posição orientar as aves e os astros”. Esses dois livros, que não eram os primeiros de Daniel Faria, saíram em 1998, editados por uma instituição que desconhecia, a Fundação Manuel Leão, e chegaram-me às mãos no ano seguinte, logo depois da morte acidental do autor, aos 28 anos; de modo que tomei contacto com ele já como um “caso”, não apenas pelos livros que deixou, mas por ser um monge beneditino e por ter desaparecido tão precocemente.
O “caso” não é o que mais importa, mas tem a sua importância. Daniel foi um raro poeta da minha geração que não partiu para a poesia com desconfiança, talvez porque entendesse a linguagem dos poemas como continuação da imagética e da poética bíblica. Os versos dele estão cheios de termos, episódios e personagens das Escrituras, como o filho pródigo, a mulher adúltera, ou o cobrador de impostos, Zaqueu, que subiu a uma figueira para conseguir ver Jesus no meio da multidão. Por esse motivo, alguns poemas assumem-se como formas sucintas de compreender o mundo a partir de uma tradição antiga e de um diálogo hipotético: “Sei que existes e multiplicarás/ A tua falta/ Somarei a tua ausência à minha escuta/ E tu redobrarás a minha vida”. O impacto destes poemas em tantos não-crentes nasce de uma dialéctica entre ausência e certeza, vazio e plenitude. Porque a poesia, não sendo teologia, preserva um enigma, ainda que defina o enigma como “explicação”.
Em 1999, quando descobri esses dois livros, fiz o que se faz quando não se conhece um autor, ou não se consegue perceber de onde vem: imaginei continuidades, afinidades. Pareceu-me que nestes poemas convergiam Sophia e Herberto, o desassossego sereno de uma, até com referências à Antiguidade clássica, e a expansividade cosmogónica e a linguagem inusitada de outro, os meteoros, as mulheres que “aspiram a casa para dentro dos pulmões”. Foi uma tentativa apressada de entender, mas ajudou-me. Depois, fui compreendendo que a força de alguns destes versos não depende de uma exegese, nem cristã, nem agnóstica: “a casa vem demolir o homem”, “anoitece como num dia de acidentes”, “a lei das coisas é tombar interrogando-se”, “põe uma escada e sobe ao cimo do que vês”, pequenas intuições ou pequenas injunções em que nos reconhecemos.
Entre poesia e teologia há muitíssimas diferenças e uma semelhança: a questão do nosso lugar no mundo. Mais do que as “explicações”, é a ideia contida no outro título que fundamenta o que se revelou ser uma invulgar capacidade de chegar a leitores com ou sem inclinação metafísica: a ideia de sermos, uns mais que outros, uns em certos momentos, outros em todos, “homens [e mulheres] que são como lugares mal situados”, “como sítios fora dos mapas”, “como projectos de casas”, “como casas saqueadas”, “como esconderijo dos contrabandistas”. E vemos então que a questão do lugar incerto está ligada à questão da finitude, assunto obsessivo em Daniel Faria, como se fosse um pressentimento. Neste ano em que faria 50 anos, quero lembrar as suas claras angústias, as suas convicções poéticas que valem toda uma teologia.
Pedro Mexia. Franco consolo, in Expresso Semanário #2538, de 18 de junho de 2021
Pedro Mexia escreve de acordo com a antiga ortografia
Mudam-se os tempos...
Estamos a evoluir, mas não na direção certa.
segunda-feira, 28 de junho de 2021
Pensamentos
“O fascismo cura-se lendo e o racismo cura-se viajando.”
quinta-feira, 24 de junho de 2021
Alunos da Camilo premiados no Concurso Clássicos em Rede - Desafio de Artes/Multimédia
A nossa escola participou no desafio de artes/multimédia, escalão C (Ensino Secundário), com os trabalhos individuais dos alunos do 12º E, orientados pela professora Edite Costa, nas modalidades de 3 (desenho e banda desenhada não digital) e 4 (escultura/instalação).
As modalidades propostas paar este ano eram as seguintes:
1. recursos digitais (blogues, jogos, bandas desenhadas com uso de apps, etc.);
2. vídeos/filmes;
3. desenho, ilustração, fotografia, bandas desenhadas não digitais;
4. escultura/instalação.
Divulgados os resutados junto das escolas concorrentes (os resultados globais das Olimpíadas serão divulgados no dia 1, na página da RBE), os alunos do 12º E estão de parabéns! Foram premiados 5 dos quinze trabalhos propostos.
Xavier Caldeira, Black Horseman
segunda-feira, 21 de junho de 2021
Cinema do mar com orquestra
Este filme de Leitão de Barros marca, com “Douro Faina Fluvial”, de Manoel de Oliveira, uma transição importante no caminho do cinema português. Situado mesmo no fim do período mudo, incita uma notória modernidade formal, antes de tudo no modo como miscigena a ficção (utilizando atores profissionais) com o pendor documental. Evidencia-se o sentido plástico do realizador no olhar que impõe sobre os rostos das gentes da Nazaré e na composição dos planos, irrompe um sopro de lubricidade no modo como a câmara indaga os corpos das mulheres jovens, há um ritmo na montagem que mostra a consciência da linguagem cinematográfica. Tudo isto acontece sobre um fio de história em tom de melodrama bastante mais convencional do que a forma como é filmada.
A música de Bernardo Sassetti acrescenta modernidade ao filme. Embora recorra a temas que ecoam antigos reconhecimentos, fá-lo numa dimensão de quase olvido, como se pairassem e só existissem deveras num passado que passou. A banda sonora sublinha o carácter fantasmático que todo o cinema mudo agora tem face aos nossos hábitos audiovisuais, o que serve sobremaneira a pujança da obra de Leitão de Barros, até porque rasura algumas das suas insuficiências.
Jorge Leitão Barros. "Culturas", in Expresso Semanário#2537, de 11 de junho de 2021
domingo, 20 de junho de 2021
Penso, logo incomodo
Quino morreu no ano passado. Mafalda, essa, quase 60 anos após o seu nascimento, continua de boa saúde
S
Publicadas em numerosos países, as tiras de Mafalda chegaram a Portugal ainda antes do 25 de Abril, na Dom Quixote de Snu Abecassis e certamente pela mão de Carlos Araújo. Quando a editora foi adquirida por Nelson de Matos, retomámos imediatamente a publicação dos álbuns, culminando esse trabalho com a saída, em 1986, do icónico volume “Toda a Mafalda”. As vendas de Quino eram para a época muito significativas, tendo em conta a popularidade crescente de Mafalda e dos seus companheiros de aventuras.
Coloque-se o leitor nos anos 80. Não havia computadores, não havia e-mails, não havia internet — o mundo era muito mais distante do que é hoje. Editoras havia que traduziam livros estrangeiros sem qualquer autorização dos respetivos autores ou editores, e, mesmo quando os contratos existiam, as prestações de contas nem sempre correspondiam às vendas efetivamente realizadas. Diga-se, em abono da verdade, que não era um “mal” português: recordo-me perfeitamente de uma ainda hoje célebre editora francesa ter reportado escassas vendas de um autor português cujo sucesso em França era por demais conhecido.
Quino no Palácio Foz, em Lisboa, com Nelson de Matos, Manuel Alberto Valente, Tóssan e Mário Braga
Em 1986, Quino veio a Portugal — houve uma exposição dos seus desenhos no Palácio Foz e uma concorridíssima sessão de autógrafos no restaurante The Great American Disaster, no Marquês de Pombal. As filas davam quase a volta à praça, e Quino não parava de assinar livros. Num determinado momento, Alicia, sua mulher, aproximou-se de mim e, com ar irónico, afirmou: “Vocês precisam de aumentar as tiragens. Com as tiragens pequenas que têm feito não há livros que cheguem para tanta gente.”
Anos depois, em Frankfurt, o agente de Quino, Marcelo Ravoni, disse-me uma coisa quase profética: “Quando, com os sistemas informáticos, a gestão de stocks estiver associada aos programas de prestação de contas, ficará mais caro aldrabar as vendas do que pagar os direitos devidos.”
Quino morreu no ano passado, na sua cidade natal de Mendoza, já viúvo. Mafalda, essa, continua de boa saúde — e a comentar com acutilância muitos dos males do mundo em que vivemos.
Manuel Alberto Valente. O outro lado dos livros. Expresso Semanário # 2537, de 11 de junho de 2021
Podcast: Calçado fresco
Podcast realizado a partir do registo áudio da leitura de textos selecionados pelos alunos do 12º E, no âmbito do Projeto 10 Minutos a Ler.