quarta-feira, 29 de junho de 2022
Um homem precisa viajar
terça-feira, 28 de junho de 2022
Inquérito: Os livros dos meus professores - Livros em corredores
Podcast | Na poesia cabem todas as cores: A.M. Pires Cabral
🔊
“Clarão”, de A. M. Pires Cabral, in Caderneta de Lembranças, 1.ª edição, Edições Tinta-da-china, novembro de 2021, ISBN: 978-989-671-652-3, p. 10.
domingo, 26 de junho de 2022
Booktrailers | Bichos, de Miguel Torga
Continuamos a divulgar os booktrailers produzidos pelos alunos do 11ºF, na disciplina de Português, no âmbito do projeto 10 Minutos a Ler.
Crónica | Tornar ao espanto
O SUJEITO SABE QUE DESEJA, MAS NÃO SABE O QUE DESEJA. O DESEJO É A FORMA DE EXISTÊNCIA DE UM SUJEITO QUE É EM SI MESMO FALTA
T
Reação do potássio com a água Imagem sob licença Creative Commons, via Cyberchemist. |
Uma coisa fique clara: o espanto liga-se ao desejo, não às necessidades. Caímos frequentemente na tentação de pensar que necessidades e desejos talvez não sejam argumentos diferentes, já que refletem a mesma experiência: a da falta. Porém, entre ambos, como explicou Jacques Lacan, existe uma diferença insuperável: é que “o desejo não tem objeto”. A posse de um objeto satisfaz uma necessidade, mas o desejo é de outra ordem. O sujeito sabe que deseja, mas não sabe o que deseja. O desejo é a forma de existência de um sujeito que é em si mesmo falta. Emerge em nós como perceção profunda de que somos lacuna (ou, na precisa definição de Lacan, de que somos um “aparato lacunar”). Por isso, mais do que oferecer-nos uma flecha, o desejo destapa em nós uma ferida. É uma força que atua por esvaziamento. O desejo desarma-nos primeiro para que possa acontecer o espanto. Como naquela história contada pela antropóloga americana Ruth Benedict sobre os índios da ilha de Vancouver, que organizavam entre si diversas provas para aferir quem possuía a verdadeira grandeza. E a competição consistia num exercício que pode parecer brutal: a alienação dos próprios bens. Os índios lançavam ao fogo os seus barcos, dispersavam por terra o seu azeite de peixe ou os vasos com as ovas de salmão, do cimo de um promontório atiravam ao mar mantas e tendas. Vencia aquele que se despojasse de mais coisas. Tinham razão os índios: o desejo devolve-nos a uma nudez propedêutica. Sem ela, a nossa vida não estremeceria (e não se transformaria) pela experiência do espanto. No espanto descobrimo-nos desprovidos diante daquilo que nos alcança, daquilo que nos investe diretamente e nos responsabiliza pela unicidade do nosso próprio ser. Mas, deste modo paradoxal, tornamo-nos capazes de enfrentar a pergunta sobre o que significa para nós viver.
José Tolentino Mensonça. Que coisa são as nuvens - Tornar ao espanto, in Expresso-Semanário#2590, de 17 de junho de 2022
Podcast | Histórias que os livros contam
sábado, 25 de junho de 2022
... Uma questão de tamanho (2)
Well-a-Day, Is this my Son Tom (ca. 1773), |
O Macaroni, uma personagem real no Late Masquerade (1773). — Fonte . |
No século XVIII, a moda dos penteados extravagantes também chegou aos homens e com ela, surgiu a figura do Macaroni.
Escritores que leem o mar: Lídia Jorge
A Conferência dos Oceanos das Nações Unidas, que decorre em Lisboa entre 27 de Junho a 1 de Julho, pretende impulsionar a comunidade internacional a adotar soluções para a gestão sustentável do oceano, incluindo o combate à acidificação da água, poluição, pesca ilegal e perda de habitats e biodiversidade. Esta conferência da ONU, que a pandemia de covid-19 adiou de 2020 para este ano, é co-organizada por Portugal e pelo Quénia.
... Uma questão de tamanho (1)
Chaves na mão, melena desgrenhada,
Batendo o pé na casa, a mãe ordena,
Que o furtado colchão, fofo e de penas,
A filha o ponha ali, ou a criada.
A filha, moça esbelta, e aperaltada,
Lhe diz co’a doce voz, que o ar serena:
“Sumiu-se lhe um colchão, é forte pena;
Olhe não fique a casa arruinada:”
“Tu respondes assim? Tu zombas disto?
Tu cuidas que por ter pai embarcado,
Já a mãe não tem mãos?” E dizendo isto,
Arremete-lhe à cara e ao penteado;
Eis senão quando (caso nunca visto!)
Sai-lhe o colchão de dentro do toucado.
Nicolau Tolentino (1740-1811)
sexta-feira, 24 de junho de 2022
Escritores que leem o mar: Mário Cláudio
A ONU fixou dez metas a alcançar entre 2020 e 2030 no âmbito do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 14, sobre proteção da vida marinha, como a prevenção e redução da poluição e da acidificação, a proteção dos ecossistemas, a regulamentação da pesca e o aumento do conhecimento científico. As Nações Unidas consideram a conferência de Lisboa como uma oportunidade para um apelo à ação para reverter o declínio na saúde dos oceanos.
quinta-feira, 23 de junho de 2022
Booktrailer | O triunfo dos porcos, de George Orwell
Escritores que leem o mar: Djaimilia Pereira de Almeida
A ONU fixou dez metas a alcançar entre 2020 e 2030 no âmbito do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 14, sobre proteção da vida marinha, como a prevenção e redução da poluição e da acidificação, a proteção dos ecossistemas, a regulamentação da pesca e o aumento do conhecimento científico. As Nações Unidas consideram a conferência de Lisboa como uma oportunidade para um apelo à ação para reverter o declínio na saúde dos oceanos.
Viajar com Camilo | Porto - Cadeia da Relação
quarta-feira, 22 de junho de 2022
Escritores que leem o mar: Afonso Cruz
terça-feira, 21 de junho de 2022
Quando o solo pede ajuda
Dia mundial de combate à desertificação e à seca
- A perda de terras aráveis é estimada em 30 a 35 vezes a taxa histórica.
- Devido à seca e desertificação, 12 milhões de hectares são perdidos a cada ano (23 hectares por minuto). Num ano, 20 milhões de toneladas de grãos poderiam ter sido cultivadas.
- 74 por cento dos pobres são diretamente afetados pela degradação da terra em todo o mundo.
- A perda e a deterioração do habitat, em grande parte causadas por ações humanas, reduziram a integridade global do habitat terrestre em 30% em relação a uma linha de base não afetada.
segunda-feira, 20 de junho de 2022
Booktrailer | Como se transforma o ar em pão
Os alunos do 11º F produziram booktrailers no âmbito do projeto Escola a ler / 10 Minutos a Ler. O João Soares leu Como se transforma o ar em pão, do cientista Nuno Maulide, e este é o seu projeto.
Dia Mundial do Refugiado
Todos os anos, em 20 de junho, o mundo celebra o Dia Mundial do Refugiado. Neste ano, o foco será o direito de procurar proteção.
Cada pessoa neste planeta tem o direito de procurar proteção, se é forçada a fugir – seja quem for, seja de onde for e seja quando for.
quinta-feira, 16 de junho de 2022
Os contos e as lendas no imaginário popular
Como previsto, Alexandre Parafita esteve na Camilo, no passado dia 14 de junho.
Uma breve consulta do seu currículo rapidamente nos permite concluir que a sua área de atuação é a produção literária infantojuvenil e a literatura oral tradicional: é escritor (tem uma vasta produção ficcional e ensaística), etnólogo do Centro de Estudos de Letras da UTAD, investigador integrado do Centro de Tradições Populares Portuguesas da Universidade de Lisboa, nas áreas da mitologia e da literatura oral tradicional, vice-presidente do Observatório da Literatura InfantoJuvenil (OBLIJ) da UTAD, e elemento da equipa de investigação incumbida de realizar o "Arquivo e Catálogo do Corpus Lendário Português", no âmbito da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT). A sua obra faz parte do Plano Nacional de Leitura português e brasileiro.
Os alunos de 7º ano assistiram à sessão “Os contos e as lendas no imaginário popular” com muito interesse (e orgulho por estarem perante um ex-aluno e ex-professor da Escola com projeção nacional e internacional).
A
distinção entre conto e lenda tradicional, o reconto de lendas típicas
da região de Vila Real, a presença de elementos fantásticos no
imaginário popular, a origem de topónimos estranhos e o trabalho do
etnólogo, foram alguns dos tópicos abordados pelo escritor que prenderam
a atenção da jovem assistência e suscitaram a curiosidade e a
indagação.
Esta atividade, inserida nos Projetos "Conto 1 Conto" (apoiado pelo PNL) e Cientificamente Provável, foi desenvolvida em trabalho articulado entre a Biblioteca Escolar e os professores do Grupo Setorial de Português - 7º ano.
'Os segredos da escola' | Entrega de prémios e certificados
Marta e Rita vencem o 'Jornalistas em Rede - Entrevista'
'Os segredos da escola" | Trabalhos a concurso
Divulgação dos 38 trabalhos apresentados ao concurso.
quarta-feira, 15 de junho de 2022
segunda-feira, 13 de junho de 2022
Populismo: O povo é ignorante ou está farto de mentiras?
domingo, 12 de junho de 2022
Uma laranja para Alberto Caeiro
Técnicas de Expressão Artística | 2022
Uma laranja para Alberto Caeiro
Desmarcar sem culpa
CANCELA-SE POR MENSAGEM, ESTÁ-SE PRESO A GRUPOS DE WHATSAPP, CHEGA-SE MUITO ATRASADO. O SOCIAL PÓS-COVID
A
Arrisco. Um dos problemas do conflito na Ucrânia para nós que estamos longe dela é que veio somente trazer mais stresse a dois anos de stresse. Quando agora se deveria estar a vivenciar um momento de descompressão, juntou-se mais pressão, que surge através de imagens na TV ou da inflação ou dos preços da gasolina. E as pessoas ou acumulam e ficam bombas-relógio ou pura e simplesmente desligam e ficam-se a marimbar para tudo. Talvez demais. O “Wall Street Journal” garantia há dias que estava a acontecer algo na sociedade cosmopolita das cidades que era desconhecido ou inaceitável até então: os cancelamentos de última hora. As pessoas pura e simplesmente tinham perdido o sentido de “culpa” ao mandar um SMS em cima da hora a anunciar que já não iriam comparecer. “Você não sabe quais os planos são até realmente estar lá.” Ora, a perda dessa culpa social era filha da covid. Durante dois anos as pessoas tinham-se habituado a faltar a compromissos, a não poder ter planos completamente fechados porque podiam desmoronar-se no último minuto, e efetivamente a ter planos que eram desmarcados em cima da hora. Houve uma dessacralização do “vamos ter mesmo de ir senão o que é que eles vão pensar” e substituiu-se pelo “manda aí um SMS a dizer que não podemos ir”. Este laissez-faire tem tido fortes consequências na indústria da restauração (desmarcações em cima da hora com prejuízos), de casamentos e nas amizades (que levam ali uma martelada de cinzel, pode ficar uma picadinha ou pode rachar). Este é um problema: é que normalmente era o imperativo de não poder desmarcar que as obrigava a ir independentemente da disposição e que as colocava lá. Depois, afinal, até podiam divertir-se. Mas sem a penalização social, a estrutura desmembra-se.
Getty images |
E há problemas que têm de ser urgentemente resolvidos. Os grupos dos grupos do WhatsApp. Se calha a ser raptado para um seja de uma festa, ou casamento, evento ou viagem de bicicleta aos Alpes é o inferno. Não há hipóteses de recusar ser membro desse grupo (só irei anunciar via SMS que não vou na véspera). Há a probabilidade de não conhecer algumas das pessoas do grupo. E, acima de tudo, não posso sair — e normalmente são grupos muito produtivos em que duas ou três pessoas criam às dez mensagens numa hora. Só posso retirar as notificações. Sair do grupo iria colocar no feed a marca horrível: “Fulano deixou o grupo.” Se fosse à festa seria ainda mais ostracizado. O “deixar o grupo” tem várias interpretações, mas a alcateia reage sempre como se tivesse sido o elemento mais fraco e triste a autoexpurgar-se, não o mais cagão. E depois é incompreensível porque é que os senhores do WhatsApp não retiram aquilo: querem que fiquemos presos a grupos a que não queremos pertencer. O WhatsApp teve a decência de criar um modo de apagar mensagens que por vezes nos arrependemos ou enviamos enganadas para grupos/pessoas erradas (algumas delas, enfim, visando os próprios mas que a nossa mente, na sua infinita perversidade autossabotadora, faz com que enviemos para o alvo) mas deixa lá a bufaria: “Fulano apagou a mensagem.” Para quê? Não era para ajudar? Assim ainda cria mais curiosidade. Não, o WhatsApp não facilitou as festas. Criou essa ilusão para quem organiza. Que a determinado ponto tem aquilo controlado e todos vão aparecer.
Finalmente há o chegar à festa. Há muitas escolas de pensamento e fórmulas matemáticas sobre a hora a que se deve chegar. O que vem no convite é meramente uma abstração a partir da qual se deve construir o atraso. O objetivo é chegar quando a festa está a atingir o seu momentum. Mas para isso é necessário que já lá esteja um número suficiente de “outros”. É o conceito de fashionable late. Se todos pensarem nestes termos, a festa das 20 só arranca lá para meia-noite. A doutrina avança para que numa coisa tipo jantar se deva cumprir a regra dos 38 minutos, ainda há dias fui informado num artigo. Os 30 minutos é cedo e 45 é tarde. E há o risco de os verdadeiros fashionable porem mais 38 minutos sobre os 38 dos que querem ser... isto é complexo. Embora se estiver ainda na vida a tentar descobrir qual a hora para chegar a uma festa possa ser como eu: já desmarcou e faltou tantas vezes mesmo antes da covid que já não é convidado para nenhuma. E não ia porque continuava a ser pontual e chegava às 20 quando os anfitriões ainda nem estavam vestidos. Era destas coisas que devíamos estar a falar. Mas Putin estragou a festa como um sonso bêbado às duas da manhã. Há sempre um.
Luís Pedro Nunes, "Mito Lógico - Desmarcar sem culpa", in Expresso Semanário#2589, de 9 de junho de 2022