domingo, 29 de agosto de 2021
Escreve-me!
Uma palavra, uma palavra apenas,
Suave como o teu nome e casta
Como um perfume casto d'açucenas!
Escreve-me!Há tanto,há tanto tempo
Que te não vejo, amor!Meu coração
Morreu já,e no mundo aos pobres mortos
Ninguém nega uma frase d'oração!
"Amo-te!" Cinco letras pequeninas,
Folhas leves e tenras de boninas,
Um poema d'amor e felicidade!
Não queres mandar-me esta palavra apenas?
Olha, manda então...brandas...serenas...
Cinco pétalas roxas de saudade...
sábado, 28 de agosto de 2021
[IN] Pertinente
quinta-feira, 26 de agosto de 2021
O papel da mulher na sociedade
Porque mais do que nunca é preciso sublinhar...
Coordenação da professora Dulce Mesquita.
quarta-feira, 25 de agosto de 2021
Não há Terra 2.0
"Queridas gerações futuras, espero que possamos ver a vida selvagem do Ártico como vemos agora", escreve o fotógrafo da Your Shot, Florian Ledoux
Aceda ao Portefólio do fotógrafo da vida animal polar, Florian Ledoux, aqui.
terça-feira, 24 de agosto de 2021
Déjà vu
AQUI ESTÁ UM SPOILER PARA A VIDA REAL: JÁ SE PERCEBE O QUE ACONTECE QUANDO TEMOS UM DÉJÀ VU
Leituras: Ideias sobre cinema
O texto mais antigo é de 1933, o último de 2014. Ideias sobre o cinema, que Oliveira começou por considerar um processo sobretudo fotográfico e que viria a conceber como tendencialmente literário
TEXTO PEDRO MEXIA
D
Ainda assim, seria bizarro ignorar o seu mérito enquanto cineasta. “Ditos e Escritos”, editado pela Casa do Cinema da Fundação de Serralves, reúne textos muito diversos e muito esclarecedores, conferências, aforismos, poemas, discursos, depoimentos, artigos na imprensa portuguesa e estrangeira, até anotações no verso de postais ou numa página de jornal, documentos úteis e importantes, se bem que menos memoráveis, em termos estilísticos, do que a “Obra Escrita”, de João César Monteiro. O texto mais antigo é de 1933, o último de 2014, e a arrumação, não-cronológica, identifica linhas de continuidade, ideias sobre o cinema, que Oliveira começou por considerar um processo sobretudo fotográfico (a Casa do Cinema revelou recentemente a sua faceta de fotógrafo), e que viria a conceber como tendencialmente literário.
Há neste conjunto “uma ideia de cinema”, ou várias ideias que se integram num todo coerente. Uma dessas ideias é que o cinema é imaterial, quer dizer, é um processo material (actores, cenários) que produz imagens imateriais, fantasmáticas: “Assim, qualquer acontecimento verídico filmado e projetado no ecrã não é já a realidade desse acontecimento, mas simplesmente o fantasma dessa mesma realidade (...)”. Uma segunda ideia é que, em cinema, o termo “indústria” diz respeito às máquinas, à película, ao laboratório, mas nunca aos filmes. A terceira ideia é que “tempo é movimento”, ou seja, que acontecem coisas na imobilidade da passagem do tempo, e que a explicitação do tempo no cinema nos torna mais atentos àquilo que acontece. Quarta ideia: todo o documentário pode ser uma forma de ficção, incluindo a saída dos operários da fábrica dos Lumière. Quinta ideia, que aparece numa apologia do muito contestado “Branca de Neve”: o movimento tanto nasce da acção como da palavra. Sexta ideia, contra os deslumbrados: “O Cinema é o Pai do audiovisual e nunca foi nem poderá ser filho do videoclip.” Sétima ideia: só se é absolutamente moderno regressando às origens, aos primitivos russos, alemães, escandinavos. Oitava ideia: os filmes “são uma abstração que resulta da passagem de uma verdade a uma figuração indireta e relativa da verdade”, sendo que a “emoção”, em cinema, consiste nessa abstracção. Nona ideia: “uma imagem num só plano fixo e com movimento no interior, tendo como banda de som qualquer frase intimamente ligada à imagem” é o exemplo máximo de um “rigor extremo”. Décima ideia: o cinema é ilusão, mas não ilusionismo. Décima primeira ideia: quando os actores falam para a câmara estão a cultivar a cumplicidade com o espectador, não a distância brechtiana. Décima segunda ideia: o cinema é um enigma, porque não diz respeito à realidade visível, mas à verdade fugidia. É um pouco mais do que um decálogo: os 12 mandamentos de Oliveira.
Humanista cristão, discípulo da geração da “Presença”, o realizador rejeitou sempre o cinema-negócio do capitalismo e o cinema-propaganda ao estilo soviético-fascista, preferindo um “cinema-cinema”. Essa definição tautológica depende da resposta a uma pergunta que vem de 1895: “É o cinema uma arte? A arte existe? Se existe, o cinema será arte, na medida em que todo o cinema interpreta ou um sonho, uma ação concreta, ou um voo da imaginação.” Note-se a impaciência irónica, a que se segue uma definição prática dessa arte, uma arte que se queria alheia a malabarismos técnicos e a dirigismos culturais. E aqui entra a questão da especificidade do cinema português, uma “aventura permanente” de ímpetos e impasses, da Invicta Film ao Cinema Novo, e que tem sobrevivido a regimes, governos, hostilidades. Oliveira, cujo “Douro, Faina Fluvial” foi pateado na primeira exibição pública (era demasiado veloz e mostrava demasiados pobres, o oposto do que diriam os detractores tardios), afirma que não existe “má vontade” contra o cinema português, mas má-fé. Porque um cinema que produziu Rocha, Reis, Monteiro ou Costa não é, em lado nenhum, um cinema insignificante.
Entre os homenageados nesta colectânea (Renoir, Buñuel, Godard, Fellini, Kiarostami, Sokurov, a “austeridade moral sem orgulho” de Dreyer) há também lugar para alguns críticos, como Sadoul ou Daney. E o livro recupera uma curiosa carta a Gilles Deleuze, de 1991, seguida de um esclarecimento. Lembremos que Deleuze publicara “A Imagem-Movimento” e “A Imagem-Tempo”, e que esse segundo tomo não andava longe das preocupações de Oliveira. Mas o suposto desentendimento que a carta gerou não teve a ver com o tempo, antes com o conceito de “povo”, que o cineasta encaminhou para considerações quase-teológicas. Deleuze tinha dito, a propósito de Paul Klee: “Não há obra de arte que não se dirija a um povo que ainda não existe.” E, quando procura atenuar a hipotética polémica, Oliveira assume a relevância desse conceito eminentemente oliveiriano que é filmar para “um povo [um público] que ainda não existe”. Aliás, já o tinha escrito em 1963: “O público é sempre o último a compreender coisas, embora seja o que direta ou indiretamente mais beneficia. Parece bronco e insensível. Ele é sobretudo lento. Mas os jovens cineastas (e não apenas eles) estão com pressa, impacientes.” Chegado ao novo século, em 2000, voltará a garantir: “O cinema não foi, nem sequer começou.”
Pedro Mexia. Culturas - Cinema, cinema in E-Revista Expresso, Semanário#2547, de 20 de agosto de 2021. O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.
quinta-feira, 19 de agosto de 2021
Afeganistão | Dez livros para saber+
Fotografia: New York Times
Sugestão de leitura
Encontros com livros
Stefen Zweig
Relógio D'Água
agosto 2021
quarta-feira, 18 de agosto de 2021
Sugestão de Leitura
Presença Editora
agosto 2021
ISBN 9789722367660
Nº de Páginas: 136
terça-feira, 17 de agosto de 2021
A Natureza não existe para servir o Homem
As pessoas NÃO são superiores à natureza.
A natureza NÃO existe para servir aos humanos.
O mundo tem que adotar uma convivência mais harmoniosa com a natureza e reconhecer que todos estamos vinculados a uma relação recíproca - como muitos povos indígenas o fazem.
Por um planeta dos macacos
É MELHOR REVERMOS AS NOSSAS TESES GRANDIOSAS DE AUTOEXTINÇÃO. VAI SER COM IDIOTICE E MESQUINHEZ
A
tentemos nisto: as exuberantes florestas tropicais da América do Sul, nomeadamente a selva amazónica, surgiram apenas e só devido ao impacto na crosta terrestre do pedregulho que extinguiu os dinossauros — o famoso meteorito de 10 quilómetros de diâmetro que há 66 milhões de anos se esbardalhou na península do Iucatão, no México, e dizimou 75% das espécies e da flora que habitavam a Terra. Sem esse calhau não estaria a ler este texto. A vida por aqui teria seguido por outras vias e provavelmente não haveria macacos nus mais ou menos sapiens a dedilhar em teclados. Foi esse evento que permitiu que novos e variados ecossistemas surgissem. Não foi coisa de somenos. O impacto foi o equivalente a milhares de milhões de bombas nucleares em simultâneo, que produziram por todo o planeta terramotos e ondas de quilómetros de altura. Resumindo: o solo da Terra não só ficou mais fértil como aniquilou os grandes herbívoros que impediam as florestas de se expandir.
Estou a sacar a parte séria disto a um estudo recente de uma paleobotânica colombiana citado na revista “Science” e do qual podemos tirar duas lições: é bem provável que este planeta recupere bem à nossa breve presença por cá — seja mais umas dezenas, centenas ou milhares de anos; há quem diga milhões. Mas posso apostar que tal não vai acontecer, dada a burrice geral que grassa. Talvez seja possível garantir é que o planeta volte a regenerar-se. É sim de rever as teses de grandes extinções humanas com megabombas e cogumelos nucleares ou outras hipóteses plasmadas na cinematografia de catástrofe da Guerra Fria ou ataques de extraterrestres com naves sempre bem parqueadas sobre cidades dos EUA.
A nossa extinção nem terá o “tchan” de um filme baseado no Dan Brown que passa em loop nas TV: dar-se-á devido a um mercado de animais vivos, com um lagarto da Indonésia na sua jaula imunda a fazer um cagalhoto para cima de um sagui do Panamá. Cria-se aí uma mutação viral, que passa para um chinês que espirra para outro que apanha um comboio para Pequim que espirra para outro que voa para Itália. Soa familiar? Claro que não. Se isto alguma vez acontecesse, era óbvio que os humanos, na sua imensa sabedoria, poriam fim a tais bombas biológicas, a meteoritos pandémicos criados por incúria própria. Isso era se fosse num filme. A realidade é mais parva do que um filme de ficção científica dos anos 90. Como prever que meses mais tarde a um evento como o descrito haveria quem não quisesse tomar uma vacina que previne a ação do vírus porque pode ter efeitos secundários estatisticamente menores do que um comprimido para a dor de cabeça? Seria inverosímil.
Muitos cientistas, e bem, tentam encontrar inteligência nos animais para dar esperança aos humanos. Os macacos servem e serviram como modelo comportamental para inferirmos algo sobre nós. Ainda esta semana li que, “após uma catástrofe, os macacos tornam-se mais tolerantes com os outros, até com os seus rivais”. É um daqueles títulos que, em plena pandemia, nos faz carrear esperança para nós. Em setembro de 2017, reza a notícia, após o furacão Maria ter arrasado Porto Rico e quando Trump lançava lá rolos de papel higiénico aos que tinham ficado sem nada, os cientistas continuavam a estudar os habitantes símios de uma pequena ilha não povoada mas dominada por macacos, cujo comportamento é acompanhado há décadas. O furacão tinha destruído boa parte da vegetação da ilha de Cayo Santiago. Mas a atitude dos macacos havia sofrido alterações significativas. Passavam menos tempo com o seu círculo habitual para o dedicar a meros conhecidos, estranhos e até antigos rivais.
E isto é extraordinário, digo eu. Os cientistas esperavam que os macacos fechassem os seus clãs ao exterior para reagir à escassez de comida. Mas fizeram o contrário: expandiram as suas ligações com outros indivíduos para partilhar os recursos limitados. Saltando para a conclusão, constata-se que as relações com os outros e a tolerância social ampla pode ser a chave para sobreviver a desafios extremos. Não o egoísmo e a intransigência. Ora, neste, como noutros casos, ou somos os macacos tolerantes ou o Trump — súmula do humano egocêntrico e narcísico — a atirar papel higiénico para uma população que desprezava apenas para a foto que julgava que o iria beneficiar.
Ignoramos os cientistas que avisam que este pode nem ser o “tal” vírus fatal. Não estamos a “retirar lições” algumas. Os mercados de animais selvagens voltaram. Há países tão afetados pela pandemia e dirigidos por negacionistas, como o Brasil, que são “celeiros de estirpes”. Deixamos que a falta de solidariedade e o egoísmo determinem a produção e distribuição de vacinas. Ignoramos que as teorias da conspiração dos Facebooks possam destruir a reputação dessas vacinas com o apoio da inépcia dos líderes políticos. Faz sentido?
Nas causas da extinção humana, a idiotice é sempre um dos fatores determinantes: desde a autoaniquilação nuclear até às alterações climáticas induzidas por nós. Ora, a possibilidade de assistirmos a uma extinção por vírus que podia ser controlado mas que é sabotado por teorias absurdas criadas por outros humanos ultrapassa todas as escalas de cretinice. Por isso, apelo a que entreguem o comando do planeta aos macacos da ilha de Cayo Santiago. Neste momento de aflição necessitamos de uma liderança solidária e tolerante.
Luís Pedro Nunes. Mito lógico - Por um planeta dos macacos. In E-Revista Expresso, Semanário #2529, de 16 de abril de 2021
segunda-feira, 16 de agosto de 2021
Dostoievski Jornalista
PERCEBEMOS QUE O IMPULSO FICCIONAL E O NÃO-FICCIONAL SE ASSEMELHAM, COMO QUANDO O FOLHETINISTA SEGUE UM CORTEJO FÚNEBRE POR GOSTO DA EFABULAÇÃO
E
As “Noites...” nasceram de um punhado de artigos dominicais que o jovem Dostoievski escreveu em substituição de um amigo. Crónicas sobre uma cidade “doente”, “estranha” e “sombria”; sobre o tédio, a preguiça e a canícula; sobre Gogol quando Gogol começou a ser contestado; sobre o ocidentalismo, esse “fato de bom corte”; sobre os europeus que não compreendem a Rússia. À época, Dostoievski ainda é “de esquerda” e virá até a ser condenado à morte (e depois amnistiado) por actividades subversivas, mas o seu esquerdismo já vai vacilando. O mais interessante, no entanto, é o modo como estes textos redigidos por motivos económicos servem para apresentar figuras e personagens que conhecemos das novelas e dos romances: o espectador comovido, o sonhador incapaz, os homens que gozam por antecipação e não por consumação, as raparigas indomáveis mesmo quando submissas. É nesses textos de jornal que percebemos que o impulso ficcional e o não-ficcional se assemelham, como quando o folhetinista segue um cortejo fúnebre por interesse documental e gosto da efabulação.
“Diário de um Escritor”, ao contrário do que o título sugere, não é um diário, antes um conjunto de colaborações com a imprensa, incluindo os artigos que Dostoievski publicou originalmente num jornal que editou nos últimos anos de vida. Mantém-se a vontade e a voracidade de abordar todos os assuntos (o suicídio, as crianças, os direitos das mulheres, a utopia, a destruição das florestas), mas agora isso faz parte de um projecto, de um “laboratório criativo”, como lhe chamou Rosamund Bartlett. O escritor não procura, como dantes, os seus leitores, porque já os tem, e conversa com eles. E ao jovem revolucionário sucedeu-se o conservador, o defensor da ortodoxia, o eslavófilo. Em ‘O meu paradoxo’, pergunta: “Porque é que nos devemos afadigar para merecer a confiança da Europa? A Europa alguma vez confiou nos russos?” E em seguida acrescenta que se as pessoas que querem uma russa “civilizada” se tornam “europeus de esquerda”, então há que dizer que os europeus de esquerda detestam a civilização russa, alguns detestam até a civilização europeia. E que isso, paradoxalmente, é bastante eslavófilo.
Outros textos optam por um estilo coloquial, digressivo, às vezes ligeiro, ou melancólico, ou indignado, recorrendo a argumentos de autoridade mais biográficos e afectivos do que intelectuais. Um dos textos memoráveis é uma evocação de Pushkin, definido como o poeta da alma russa e, por isso, da alma universal. Outro é o elogio de “Anna Karénina” enquanto romance que não rasura a “culpa” e a “transgressão”, entidades morais que nenhum reformismo social conseguirá eliminar. E outro ainda é uma crítica aos tribunais que absolvem os réus porque consideram que o “meio” determinou as suas acções, como se não houvesse livre-arbítrio mas apenas estruturas sociais e inevitabilidades comportamentais.
“Noites de São Petersburgo” é uma curiosidade, enquanto o “Diário de um Escritor” inventa um género literário; mas ambos têm momentos que lembram os grandes romances pela intensidade, o patético, as inclinações sentimentais e metafísicas, o profetismo e a exasperação. Por inesperado que pareça, a ficção de Dostoievski está também no seu jornalismo.
Pedro Mexia. Fraco Consolo - Dostoievski jornalista in E-Revista Expresso, Semanário #2546, de 13 de agosto de 2021. Pedro Mexia escreve de acordo com a antiga ortografia
domingo, 15 de agosto de 2021
sábado, 14 de agosto de 2021
O peso dos livros
Pensava que os livros não têm peso. Quero dizer, flutuam no entendimento.
Na memória. Ou melhor: equilibram-se porque não são gente.
Não têm noites, não têm insónias. Não têm sono lá dentro.
Pensava que os livros são menos complexos do que nós. Mesmo quando
não temos linha, quando não temos palavra. Mesmo quando
não conseguimos respirar. Quando pensei nisso,
tive uma vaga noção de título.
E um hálito branco a querer ser página.
Filipa Leal
🔊 Ouça este e outros poemas ditos por Filipa Leal em Lyrik line - Listen to the Poet.
Manipular o tempo de férias
NÃO PASSA MAIS RÁPIDO OU MAIS LENTO. ESTÁ ESTUDADO. UMA HORA É UMA HORA
S
Há nuances. O que se constata não é bem que o tempo voa nas férias. Mas sim que temos a sensação que ele irá voar nas férias e que se está a arrastar até lá. O que é diferente. Basta pensar num fim de semana algures. Sente-se que esse fim de semana vai acabar praticamente assim que comece. Ora, mais que não fosse essa perceção acaba por ter influência nos planos traçados: ao parecer que não irá ter tempo para nada pode acabar por se eliminar muitas atividades e optar apenas por marcar um jantar pipi para aproveitar o “pouco tempo” que irá ter. Lá estando comprova-se que afinal há mais tempo. E no limite não se vai a fins de semana porque dois dias “não dá para nada”.
As férias são daqueles fenómenos que as pessoas querem que aconteçam quanto antes e durem mais tempo. Há uma dupla ansiedade. E é possível estudar esse fenómeno dado que há outros eventos de características similares. E em que até há pessoas que os odeiam — pelo que a sua perceção do que duram ou de quanto tempo falta até acontecerem é distinta. Por exemplo, a noite de Natal. Há quem deteste a noite de Natal com a família. É com estes dois tipos de pessoas que é possível estudar esta capacidade de “encolher” ou “distender” o tempo. Quem abomina a noite de Natal parece-lhe que aquilo dura umas excruciantes dezenas de horas. Cito este, mas há uma panóplia de estudos que decidiram analisar e compreender esta questão da “expansão” do tempo quando nos estamos a divertir. Além do que referi — “Time Will Fly During Future Fun (But Drag Until Then)”, da Society for Consumer Psychology —, refiro um com o sugestivo título “The Hedonic Consequences of Subjective Time Progression” (Sage Journals) ou “When an Hour Feels Shorter” (“Journal of Consumer Research”). Não vou alargar-me nisto, mas só para citar o 2º estudo, as conclusões são as de que as pessoas estão convencidas de que existe um fator hedónico na progressão do tempo (acham que quanto mais divertidas mais rápido o tempo passa). Pelo que atribuem a perceção da velocidade do tempo ao facto de se terem divertido ou não. Ou seja, se ontem o tempo passou depressa então de certeza foi porque me diverti, embora na altura não me parecesse ter estado alegre. Mas passou tão rápido... então é porque me diverti. Torcido isto. Estou a exigir demasiado de mim a escrever isto — que estou quase de férias — e a alguns leitores — que já poderão eles mesmo estar refastelados na praia.
Há, pois, umas dicas para “manusear” a velocidade do tempo em situações de férias. Uma é baixar a ansiedade que elas cheguem, e assim virão à velocidade normal; outra é pensar independentemente quantos dias forem eles não se vão comprimir só para nos lixar. Não são um sopro que terminará assim que se abrirem as malas. É baixar a ansiedade. Outra, que não é a perceção da velocidade do tempo que determina se houve divertimento: lá porque ontem a noite pareceu que passou rápido não quer dizer que foi boa. Pode ter bebido shots a mais ou teve a capacidade de negar que estava num abominável tédio.
Estamos obcecados em dominar o nosso tempo de lazer. Há uns bons anos, com base num livro de uma feminista americana que estava na berra, escrevi um texto sobre “O que as mulheres verdadeiramente querem”. E não revelei nem no título nem no primeiro parágrafo. Para a autora, o que as mulheres queriam não tinha nada a ver com os homens descobrirem a existência de G spots, ou de darem gritos do Ipiranga, mas sim com terem “tempo”. Fui chamado de aldrabão. Ainda acho que tenho razão. As mulheres precisam de tempo. E de aprender a fazer nada com ele. Os homens sabem atingir o zero absoluto com facilidade. Raramente vejo uma mulher a exercer a nobre arte da não existência. Até inventaram o mindfullness para tentar. Pagam a um guru para não pensar. Mas aí há um “propósito”.
Há dias a imprensa portuguesa exultou com o título da ilha norueguesa que queria abolir o tempo. É nesta altura do ano que recebemos ciclicamente um ensinamento da ancestral arte de viver harmoniosamente dos nórdicos. Decidi ler o texto. São 300 habitantes de uma ilha perto do Círculo Polar que passa metade do ano em escuridão e metade do ano em plena luz. E acham que os relógios não fazem falta no verão. A questão é que para uma cidade que tem luz 24 horas por dia não faz sentido que não se possa cortar a relva às 4 da manhã. Claro que se torna desafiante imaginar o que acontecerá aos restaurantes ou aos check out de hotéis. É mais uma coisa gira. Chega-se à ilha e pendura-se os relógios. Viver uns dias num local onde o tempo “não existe”: até que se tem de apanhar o ferry de volta no horário certo ou fica-se mais uma semana preso naquele lugar no cu de Judas. A gritar que os dias nunca mais passam.
Luís Pedro Nunes. O mito lógico - Manipular o tempo de férias. In E-Revista Expresso, Semanário #2545, de 6 de agosto de 2021
sexta-feira, 13 de agosto de 2021
Fernão de Magalhães segundo Henrique Leitão
Mapas do tempo de Emma Willard | Ensaio
(2021). Retrieved 13 August 2021, from https://publicdomainreview.org/essay/emma-willard-maps-of-time
quinta-feira, 12 de agosto de 2021
Dia internacioal da juventude
Os jovens estão na linha de frente da luta pela construção de um futuro melhor para todos. A pandemia COVID-19 destacou a extrema necessidade do tipo de mudança transformacional que buscam - e os jovens devem ser parceiros plenos nesse esforço. ” - Secretário-Geral da ONU António Guterres
Nations, U. (2021). International Youth Day | United Nations. Retrieved 12 August 2021, from https://www.un.org/en/observances/youth-day
terça-feira, 10 de agosto de 2021
Sugestões de Leitura
Partilhamos mais algumas sugestões de leitura, para este Verão.
Desta vez, a Biblioteca da Camilo escolheu alguns livros em que as Bibliotecas surgem como protagonistas ou como cenários privilegiados da narrativa.