domingo, 29 de agosto de 2021

This is fine! A nossa reação face ao caos global

 



Cartoon de Dino (Grécia)


Escreve-me!












Escreve-me! Ainda que seja só
Uma palavra, uma palavra apenas,
Suave como o teu nome e casta
Como um perfume casto d'açucenas!


Escreve-me!Há tanto,há tanto tempo
Que te não vejo, amor!Meu coração
Morreu já,e no mundo aos pobres mortos
Ninguém nega uma frase d'oração!


"Amo-te!" Cinco letras pequeninas,
Folhas leves e tenras de boninas,
Um poema d'amor e felicidade!


Não queres mandar-me esta palavra apenas?
Olha, manda então...brandas...serenas...
Cinco pétalas roxas de saudade...
Florbela Espanca

sábado, 28 de agosto de 2021

[IN] Pertinente

 

[IN] Pertinente é um podcast da Fundação Francisco Manuel dos Santos que pretende dar respostas às perguntas de todos, contribuindo para uma sociedade mais informada.

Todas as semanas: 4 comunicadores, 4 especialistas, 4 temas - Economia, Sociedade, Política e Ciência






quinta-feira, 26 de agosto de 2021

O papel da mulher na sociedade

 

Porque mais do que nunca é preciso sublinhar...





Partilhamos o trabalho de curadoria sobre a importância da mulher na sociedade, realizado pelos alunos do 8º F, na disciplina de Cidadania e Desenvolvimento. 

Coordenação da professora Dulce Mesquita.



quarta-feira, 25 de agosto de 2021

Não há Terra 2.0

 



"Queridas gerações futuras, espero que possamos ver a vida selvagem do Ártico como vemos agora", escreve o fotógrafo da Your Shot, Florian Ledoux





Aceda ao Portefólio do fotógrafo da vida animal polar, Florian Ledoux, aqui.





Onda

 



Cartoon de Dino


Nada diz mais sobre a opressão do que a burca.



terça-feira, 24 de agosto de 2021

Déjà vu

 



AQUI ESTÁ UM SPOILER PARA A VIDA REAL: JÁ SE PERCEBE O QUE ACONTECE QUANDO TEMOS UM DÉJÀ VU



Está mais ou menos instituído como verdade aceite que mesmo antes de morrermos, nomeadamente numa situação inesperada e violenta, a nossa vida desfila perante nós. Mas sempre tive para mim que a expressão “vi a minha vida passar frente aos meus olhos” tinha um significado que servia para explicar quão perto teríamos estado da morte. Ao ponto de chegar ao estágio de rever memórias. Mas há mesmo relatos de “vida a passar frente aos olhos” há mais de um século, só que os cientistas têm andado ocupados com outras coisas que acham mais importantes para a Humanidade. Não sei quanto aos demais, mas espero que se cair do Empire State Building a minha vida passe frente aos meus olhos. Mais que não seja para distrair do encontro desagradável que irei ter com o passeio. Entretém na viagem. E espero que seja um best of.

O primeiro caso descrito que se saiba pertence a um geólogo suíço, Albert Heim, que em 1892, caiu de um precipício e que garante que durante a queda viu toda a sua vida “desenrolar-se em numerosas cenas como se estivesse num palco ao longe”. Desde aí é algo que entrou na cultura popular. A cena típica do filme em que se fixa da pupila do ser em perigo, ou à beira de quinar, e vemos com ele os momentos mais importantes desde o nascimento ao primeiro beijo, etc. Um clássico.








Mas nem todos os casos são idênticos. Alguns reveem toda a sua vida, outros apenas alguns eventos que têm especial significado. Há algumas teorias vagas relatadas por publicações de Ciência. A minha favorita é a que quando estamos perto da morte as nossas memórias fazem um unload de conteúdos que provoca uma cascata de impressões mentais (é mais complexo que isto. É só para dar um lamiré). O problema é que nenhuma teoria explica que nesse flash antemorte — um período por vezes menor que um segundo — uma pessoa reveja todos os eventos de vida. Sim, como é possível o cérebro ordenar e processar uma tão vasta e complexa quantidade de informação?

Uma explicação complementar tem a ver com ignorar a velha noção do tempo como seta que se move do passado para o futuro no qual temos acesso através do presente. Não vou chamar Kant ou Einstein para estas crónicas (coitados) — mas vamos tentar aceitar que a perceção de tempo pode ser um produto do nosso estado de consciência. E em algumas situações o tempo desacelera tão dramaticamente que segundos parecem minutos. Contextos amplamente conhecidos em estados de emergência ou de meditação profunda ou atletas na “zona”. Será essa a explicação para que perante a inevitabilidade da morte tenhamos a possibilidade de esticar o tempo e rever uma rapsódia da nossa vida? Há quem se conforme e ache que estes são fenómenos sobre os quais, possivelmente, nunca teremos uma resposta definitiva. Tem sido assim com os túneis de luz descritos por muitos em experiências quase-morte. É o caminho para Além ou o cérebro a ficar sem oxigénio?

Eu sou pelo Saber. Há quem diga que acrescenta pouco à Humanidade e tira algum sabor à vida. Pode ser. Mesmo que seja um spoiler para filmes? Por exemplo, já se compreende o mecanismo cerebral que explica o déjà vu. Não, não está a vivenciar a mesma situação duas vezes. É o cérebro a pregar-lhe uma partida. Para já vou arriscar que não deve haver pessoa que não tenha experienciado aquela sensação bizarra de “já ter vivido” aquele momento. Daquilo estar a ser uma “repetição” ao ponto de fazer arrepios. Um déjà vu. Graças a deus que lá em cima há cientistas que se interessam por coisas terrenas. Claro que depois de termos acesso a esse conhecimento — mesmo na sua forma mais simplificada e formatada para leigos — já não há como voltar atrás. É como saber quem é o assassino no início do filme. Neurologistas da Universidade de Staint Andrew, Escócia, fizeram uma série de experiências com ressonâncias magnéticas para induzir situações de déjà vu. O previsível era que fossem ativadas áreas cerebrais dedicadas à memória, mas o que se viu foi um maior funcionamento das partes consagradas à tomada de decisões. Ora o que isso quer dizer é que o déjà vu ocorre quando as regiões frontais do cérebro estão revendo as nossas lembranças em busca de algum tipo de erro nas nossas memórias — o que provoca esse tipo de conflito entre a sensação de recordar um evento e o facto de sabermos que não há hipótese de o ter vivido antes.

“O cérebro tenta resolver o conflito”, mas atribui sinais errados da memória. Notamos uma estranha inconsistência nas nossas lembranças, mas continuamos com a nossa atividade sem modificar o nosso comportamento. Não deixamos de fazer o que estamos a fazer só porque tivemos um déjà vu. O estranho é que há pessoas com mais tendência para ter déjà vu. Ou o seu sistema de comprovação não está funcionando bem. Ou a sua memória erra pouco.

Os déjà vu tendem a desaparecer com a velhice. É possível que o cérebro vá calibrando a sua perceção das lembranças. Ou porque envelhecer é uma porcaria para o cérebro. Mas diz o líder desta investigação: “É importante deixar claro que isto é meramente especulativo”, embora a experiência tenha resultados muito consistentes. Há sempre a hipótese de ser como no filme com o Denzel Washington que voltou ao passado para evitar um atentado. Filme que se chama “Déjà Vu” que já vi várias vezes, mas só a meio me lembro que lá estou a ver de novo o mesmo filme. Não é déjà vu. É estar xexé.

Luís Pedro Nunes. Mito Lógico - Déjà vu, in E-Revista Expresso#2547, de 20 de agosto de 2021 

Leituras: Ideias sobre cinema

 





Ditos e Escritos
Manoel de Oliveira
Fundação Serralves
2021
Nº de Páginas: 288





O texto mais antigo é de 1933, o último de 2014. Ideias sobre o cinema, que Oliveira começou por considerar um processo sobretudo fotográfico e que viria a conceber como tendencialmente literário

TEXTO PEDRO MEXIA


D

o mudo ao digital, Manoel de Oliveira é um dos casos mais extraordinários da história do cinema. É possível defendê-lo sem entrar, digamos, no mérito da causa, admirando a obstinação, a vontade de fazer os filmes que queria fazer, a resistência a pressões de grupo, a travessias no deserto, a incompreensões. Ou o facto de ter conseguido filmar em 2010 um argumento que escreveu em 1952.


Ainda assim, seria bizarro ignorar o seu mérito enquanto cineasta. “Ditos e Escritos”, editado pela Casa do Cinema da Fundação de Serralves, reúne textos muito diversos e muito esclarecedores, conferências, aforismos, poemas, discursos, depoimentos, artigos na imprensa portuguesa e estrangeira, até anotações no verso de postais ou numa página de jornal, documentos úteis e importantes, se bem que menos memoráveis, em termos estilísticos, do que a “Obra Escrita”, de João César Monteiro. O texto mais antigo é de 1933, o último de 2014, e a arrumação, não-cronológica, identifica linhas de continuidade, ideias sobre o cinema, que Oliveira começou por considerar um processo sobretudo fotográfico (a Casa do Cinema revelou recentemente a sua faceta de fotógrafo), e que viria a conceber como tendencialmente literário.

Há neste conjunto “uma ideia de cinema”, ou várias ideias que se integram num todo coerente. Uma dessas ideias é que o cinema é imaterial, quer dizer, é um processo material (actores, cenários) que produz imagens imateriais, fantasmáticas: “Assim, qualquer acontecimento verídico filmado e projetado no ecrã não é já a realidade desse acontecimento, mas simplesmente o fantasma dessa mesma realidade (...)”. Uma segunda ideia é que, em cinema, o termo “indústria” diz respeito às máquinas, à película, ao laboratório, mas nunca aos filmes. A terceira ideia é que “tempo é movimento”, ou seja, que acontecem coisas na imobilidade da passagem do tempo, e que a explicitação do tempo no cinema nos torna mais atentos àquilo que acontece. Quarta ideia: todo o documentário pode ser uma forma de ficção, incluindo a saída dos operários da fábrica dos Lumière. Quinta ideia, que aparece numa apologia do muito contestado “Branca de Neve”: o movimento tanto nasce da acção como da palavra. Sexta ideia, contra os deslumbrados: “O Cinema é o Pai do audiovisual e nunca foi nem poderá ser filho do videoclip.” Sétima ideia: só se é absolutamente moderno regressando às origens, aos primitivos russos, alemães, escandinavos. Oitava ideia: os filmes “são uma abstração que resulta da passagem de uma verdade a uma figuração indireta e relativa da verdade”, sendo que a “emoção”, em cinema, consiste nessa abstracção. Nona ideia: “uma imagem num só plano fixo e com movimento no interior, tendo como banda de som qualquer frase intimamente ligada à imagem” é o exemplo máximo de um “rigor extremo”. Décima ideia: o cinema é ilusão, mas não ilusionismo. Décima primeira ideia: quando os actores falam para a câmara estão a cultivar a cumplicidade com o espectador, não a distância brechtiana. Décima segunda ideia: o cinema é um enigma, porque não diz respeito à realidade visível, mas à verdade fugidia. É um pouco mais do que um decálogo: os 12 mandamentos de Oliveira.

Humanista cristão, discípulo da geração da “Presença”, o realizador rejeitou sempre o cinema-negócio do capitalismo e o cinema-propaganda ao estilo soviético-fascista, preferindo um “cinema-cinema”. Essa definição tautológica depende da resposta a uma pergunta que vem de 1895: “É o cinema uma arte? A arte existe? Se existe, o cinema será arte, na medida em que todo o cinema interpreta ou um sonho, uma ação concreta, ou um voo da imaginação.” Note-se a impaciência irónica, a que se segue uma definição prática dessa arte, uma arte que se queria alheia a malabarismos técnicos e a dirigismos culturais. E aqui entra a questão da especificidade do cinema português, uma “aventura permanente” de ímpetos e impasses, da Invicta Film ao Cinema Novo, e que tem sobrevivido a regimes, governos, hostilidades. Oliveira, cujo “Douro, Faina Fluvial” foi pateado na primeira exibição pública (era demasiado veloz e mostrava demasiados pobres, o oposto do que diriam os detractores tardios), afirma que não existe “má vontade” contra o cinema português, mas má-fé. Porque um cinema que produziu Rocha, Reis, Monteiro ou Costa não é, em lado nenhum, um cinema insignificante.

Entre os homenageados nesta colectânea (Renoir, Buñuel, Godard, Fellini, Kiarostami, Sokurov, a “austeridade moral sem orgulho” de Dreyer) há também lugar para alguns críticos, como Sadoul ou Daney. E o livro recupera uma curiosa carta a Gilles Deleuze, de 1991, seguida de um esclarecimento. Lembremos que Deleuze publicara “A Imagem-Movimento” e “A Imagem-Tempo”, e que esse segundo tomo não andava longe das preocupações de Oliveira. Mas o suposto desentendimento que a carta gerou não teve a ver com o tempo, antes com o conceito de “povo”, que o cineasta encaminhou para considerações quase-teológicas. Deleuze tinha dito, a propósito de Paul Klee: “Não há obra de arte que não se dirija a um povo que ainda não existe.” E, quando procura atenuar a hipotética polémica, Oliveira assume a relevância desse conceito eminentemente oliveiriano que é filmar para “um povo [um público] que ainda não existe”. Aliás, já o tinha escrito em 1963: “O público é sempre o último a compreender coisas, embora seja o que direta ou indiretamente mais beneficia. Parece bronco e insensível. Ele é sobretudo lento. Mas os jovens cineastas (e não apenas eles) estão com pressa, impacientes.” Chegado ao novo século, em 2000, voltará a garantir: “O cinema não foi, nem sequer começou.”

Pedro Mexia. Culturas - Cinema, cinema in E-Revista Expresso, Semanário#2547, de 20 de agosto de 2021. O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.


📌Para saber+ sobre Manoel de Oliveira, leia o artigo Manoel de Oliveira, o cineasta de um século, de Lucas Brandão.


Manoel de Oliveira



quinta-feira, 19 de agosto de 2021

Afeganistão | Dez livros para saber+

 



Fotografia: New York Times




Nos últimos dias, o mundo tem assistido, horrorizado, ao regresso dos talibãs ao poder, na cidade de Cabul, capital do Afeganistão. Para as mulheres afegãs, esta é uma perspetiva especialmente preocupante, uma vez que pode significar o regresso aos tempos em que direitos humanos essenciais, como o da educação, lhes eram negados. Relembrando as palavras da proeminente ativista pelo direito à educação das mulheres no Médio Oriente, Malala Yousafzai, que defende que "um livro, uma caneta, uma criança e um professor podem mudar o mundo", partilhamos consigo uma lista de dez livros que podem ajudar a ter uma melhor compreensão da ameaça que paira atualmente sobre o Afeganistão.



1. Rapazes de Zinco, de Svetlana Alexievich

Para entender a situação atual no Afeganistão, é preciso olhar primeiro para o seu passado. Entre 1979 e 1989, o exército soviético combateu o Afeganistão, numa guerra que gerou cerca de quinze mil mortos e mais de quatrocentos e cinquenta mil feridos e doentes. Tendo o movimento talibã surgido como consequência da oposição dos EUA à União Soviética neste conflito armado, este é um livro essencial para entender uma guerra que marcou profundamente uma geração, com consequências que perduram até aos dias de hoje.

Da autoria de Svetlana Alexievich, jornalista e vencedora do prémio Nobel da Literatura em 2015, este livro (tal como muitos dos livros desta autora) dá voz às vítimas desta guerra, as mães dos soldados e soldados sobreviventes da guerra, que presenciaram o horror em primeira mão. O título, Rapazes de Zinco, alude simbolicamente aos caixões de zinco usados para transportar os mortos para casa, perante o olhar de um regime que negava o horror e a destruição causados pelo conflito.


2. As meninas proibidas de Cabul, de Jenny Nordberg

Em 2014, quando Jenny Norberg, uma jornalista premiada, viajou até ao Afeganistão, ficou surpreendida por descobrir que, apesar de os direitos das mulheres não serem respeitados neste país, algumas raparigas afegãs conseguiam movimentar-se livremente na rua e sem medo de represálias. O seu segredo? Disfarçarem-se de rapazes, ao abrigo de uma tradição secreta ancestral chamada bacha posh, que nasceu da necessidade de contornar o estigma criado à volta de famílias afegãs sem filhos varões, que, por essa razão, vestem e apresentam ao mundo as suas filhas como se fossem rapazes. Contudo, este estado de graça só dura até à puberdade, altura em que são obrigadas a assumir a sua identidade feminina e, consequentemente, a enfrentar uma realidade muito diferente da liberdade de que usufruíram até então.

Em As meninas proibidas de Cabul, são reunidos testemunhos de diversas mulheres corajosas que nos dão uma perspetiva sobre o que significa ser mulher no Afeganistão e os sacrifícios a que estas são submetidas.


3. Mil Sóis Resplandecentes, de Kahled Hosseini

Da autoria do autor afegão Kahled Hosseini, Mil Sóis Resplandecentes é um bestseller traduzido em trinta países. Neste, o narrador passa em revista os últimos trinta anos no Afeganistão através da comovente história de duas mulheres afegãs casadas com o mesmo homem. Unidas pela amizade e pela dor proveniente dos abusos que lhes são infligidos em nome do machismo e da violência política vigente durante o regime talibã, separam-nas apenas a idade e as aspirações na vida.

Embora a Colombia Pictures detenha os direitos cinematográficos deste romance, até à data a adaptação ainda não foi produzida.



4. 100 mitos sobre o Médio Oriente, de Fred Halliday

Com o objetivo de clarificar alguns mitos, clichés e convicções erróneas, desajustadas e infundadas que se têm formado acerca do Médio Oriente nos últimos anos, Fred Halliday, professor de Relações Internacionais na London School of Economics, selecionou uma centena destas ideias para analisar e explicar, de forma detalhada. Em 100 mitos sobre o Médio Oriente, a crise israelo-palestiniana, a guerra Irão-Iraque, as incursões lideradas pelos EUA no Golfo Pérsico, o conflito entre o Afeganistão e a União Soviética, e outros acontecimentos fulcrais para a compreensão da história moderna do Médio Oriente, são escrupulosamente analisados, apresentando conclusões tão persuasivas e contrárias ao pensamento dominante que poderão surpreender o leitor.


5. Os talibãs, de Ahmed Rashin

Da autoria do jornalista paquistanês Ahmed Rashin, Os talibãs é um livro essencial para entender o nascimento desta organização, os seus elementos fundacionais e os seus objetivos.


6. The wrong enemy, de Carlota Gall

Carlota Gall é uma jornalista britânica que fez cobertura política do Afeganistão e do Paquistão durante doze anos, tendo sido reconhecida com um Prémio Pullitzer. Em The Wrong Enemy, desconstrói por completo tudo aquilo que pensamos saber sobre movimentos terroristas como os talibãs e a Al-Qaeda, argumentando que eles não são os verdadeiros inimigos, mas sim aqueles que permitem a sua existência - segundo a autora, o governo altamente corrupto do Paquistão.


7. Eu, Malala, de Malala Yousafzai

Embora a história de Malala devesse servir apenas como testemunho dos atentados aos direitos humanos cometidos pelos talibãs no passado, é hoje, infelizmente, uma perspetiva assustadora do futuro para muitas raparigas e mulheres afegãs. No dia 9 de outubro de 2012, Malala, então com quinze anos, regressava a casa vinda da escola quando a carrinha onde viajava foi mandada parar e um homem armado disparou três vezes sobre a jovem. Eu, Malala, é a história, contada na primeira pessoa, da menina que se recusou a baixar os braços e a deixar que os talibãs lhe ditassem a vida. É também a história do pai que nunca desistiu de a encorajar a seguir os seus sonhos numa sociedade que dá primazia aos homens, e de uma região dilacerada por décadas de conflitos políticos, religiosos e tribais.


8. Persépolis, de Marjane Strapi

Embora situe a sua narrativa no Irão, e não no Afeganistão, Persépolis, considerado um dos 100 melhores livros do século XXI pelo The Guardian, oferece um relato poderoso da vida de uma menina de dez anos sob o domínio de um regime teocrático. Nesta autobiografia gráfica, Marjane Satrapi conta a história da sua infância e adolescência, durante as quais familiares e amigos desaparecem, mulheres e raparigas são obrigadas a usar véu, os bombardeamentos iraquianos fazem parte do quotidiano e a música rock é ilegal. Apesar de tudo, a sua família resiste, tentando viver uma vida com um sentido de normalidade.


9. Afghanistan, Thomas Barfield

Antropologista e presidente do Instituto Americano de Estudos Afegãos, Thomas Barfield é o autor de Afghanistan, uma incrivelmente detalhada História política e cultural do Afeganistão.


10. Dancing in the mosque, de Homeira Qaderi

Da autoria da ativista afegã Homeira Qaderi, Dancing in the mosque é um livro de memórias poderoso, escrito como uma carta para o filho que teve que deixar para trás, perante um país aterrorizado pelo domínio talibã. Apesar de todo o sofrimento vivido, mais tarde, Homeira arriscou a sua vida para ensinar crianças a ler e a escrever, lutando ainda hoje pelos direitos das mulheres em sociedades altamente patriarcais.


Porque acreditamos que LER É PODER, pode encontrar mais livros sobre este assunto aqui. 

10 livros que ajudam a compreender a situação no Afeganistão. (2021). Retrieved 19 August 2021, from https://www.bertrand.pt/blogue-somos-livros/livrolicos/artigo/10-livros-que-ajudam-a-compreender-a-situacao-no-afeganistao/193605



Sugestão de leitura

 



Encontros com livros
Stefen Zweig
Relógio D'Água
agosto 2021
Nº de Páginas: 112



Excerto:

Todos ou quase todos os movimentos de ideias do nosso tempo têm a sua base no livro, e aquela configuração partilhada da vida que está acima do plano material e a que damos o nome de cultura seria impensável sem a presença dele. Só raramente tomamos consciência deste poder do livro para dilatar a alma e construir o mundo da nossa vida privada e pessoal mais íntima. E, quando tal acontece, não estamos em condições de partilhar esse conhecimento. O livro converteu‑se de há muito numa coisa natural no nosso quotidiano, mas a maravilha que ele é continua a suscitar o nosso assombro e a nossa gratidão. Assim como não temos consciência do oxigénio que recebemos ao respirar, nem dos misteriosos processos químicos com que o nosso sangue assimila este alimento invisível, também não damos conta da matéria espiritual que os nossos olhos continuamente absorvem e que dessa forma alimenta ou debilita o nosso organismo pensante. Para nós, filhos e netos de séculos de escrita, ler converteu‑se numa função quase física, um automatismo, e o livro, ao alcance das nossas mãos desde o primeiro dia de escola, é visto como uma coisa natural que sempre nos acompanha, que faz parte do ambiente que nos envolve, pelo que quase sempre o abrimos com a negligente indiferença com que empunhamos a bengala, pegamos nas luvas, num cigarro ou em qualquer outro objecto de consumo massificado e produzido em série. O que se obtém com facilidade será sempre menos venerável, e, nos momentos verdadeiramente produtivos da nossa vida, quando reflectimos e nos entregamos à contemplação interior, só então conseguimos que o que se tornou habitual e vulgar volte a ser admirável. Somente nessas horas reflexivas nos tornamos conscientesda força mágica e animadora que o livro infunde na nossa vida e que no‑lo torna tão importante, a ponto de hoje, no século xx, não podermos conceber aquela sem o milagre da sua existência.

Stefen Zweig (2021). "O livro como acesso ao mundo", in Encontros com livros. Lisboa: Relógio D'Água.



SINOPSE

Stefan Zweig fala-nos aqui, combinando análise literária com a vida dos autores, de Goethe, Sigmund Freud, Thomas Mann e Honoré de Balzac.
O seu artigo sobre As Mil e Uma Noites é uma abordagem original que ficará certamente na memória dos que o leiam.
Stefan Zweig conheceu pessoalmente ou correspondeu-se com os maiores romancistas do seu tempo e também com o próprio Freud.
A sua relação com os livros está condensada no texto inicial desta obra, O Livro como Acesso ao Mundo.


quarta-feira, 18 de agosto de 2021

Sugestão de Leitura

 




Se os Gatos Desaparecessem do Mundo
Genki Kawamura
Presença Editora
agosto 2021
ISBN 9789722367660
Nº de Páginas: 136




Sinopse 

Tão belo quanto comovente, este é um romance sobre a perda e sobre o quão importante é estarmos próximos e presentes na vida de quem amamos. Em pleno século XXI, o que importa realmente na vida?
Os dias do jovem carteiro estão contados. Afastado da família, vive sozinho e tem por companhia o seu gato Repolho. Nada o preparou para a notícia que acaba de receber: o médico diz-lhe que tem apenas alguns meses de vida. Mesmo antes de começar a escrever a lista de coisas que tem de fazer antes de morrer, o Diabo aparece para lhe propor um trato: se ele fizer desaparecer apenas uma coisa do mundo, ganha um dia de vida. Assim começa uma estranhíssima semana…
Pensemos: como podemos escolher o que conta realmente na nossa vida? Como separamos as coisas sem as quais viveríamos daquelas de que mais gostamos? Perante a oferta do Diabo, o protagonista desta história e o seu adorado gato são levados até aos limites da escolha, da aceitação e da reconciliação.
Um romance-fábula sobre um homem e a sua luta para descobrir o que realmente importa na vida.

                                                      

terça-feira, 17 de agosto de 2021

A Natureza não existe para servir o Homem

 




As pessoas NÃO são superiores à natureza. 

A natureza NÃO existe para servir aos humanos. 

O mundo tem que adotar uma convivência mais harmoniosa com a natureza e reconhecer que todos estamos vinculados a uma relação recíproca - como muitos povos indígenas o fazem.


Por um planeta dos macacos

 


É MELHOR REVERMOS AS NOSSAS TESES GRANDIOSAS DE AUTOEXTINÇÃO. VAI SER COM IDIOTICE E MESQUINHEZ

A

tentemos nisto: as exuberantes florestas tropicais da América do Sul, nomeadamente a selva amazónica, surgiram apenas e só devido ao impacto na crosta terrestre do pedregulho que extinguiu os dinossauros — o famoso meteorito de 10 quilómetros de diâmetro que há 66 milhões de anos se esbardalhou na península do Iucatão, no México, e dizimou 75% das espécies e da flora que habitavam a Terra. Sem esse calhau não estaria a ler este texto. A vida por aqui teria seguido por outras vias e provavelmente não haveria macacos nus mais ou menos sapiens a dedilhar em teclados. Foi esse evento que permitiu que novos e variados ecossistemas surgissem. Não foi coisa de somenos. O impacto foi o equivalente a milhares de milhões de bombas nucleares em simultâneo, que produziram por todo o planeta terramotos e ondas de quilómetros de altura. Resumindo: o solo da Terra não só ficou mais fértil como aniquilou os grandes herbívoros que impediam as florestas de se expandir.

Estou a sacar a parte séria disto a um estudo recente de uma paleobotânica colombiana citado na revista “Science” e do qual podemos tirar duas lições: é bem provável que este planeta recupere bem à nossa breve presença por cá — seja mais umas dezenas, centenas ou milhares de anos; há quem diga milhões. Mas posso apostar que tal não vai acontecer, dada a burrice geral que grassa. Talvez seja possível garantir é que o planeta volte a regenerar-se. É sim de rever as teses de grandes extinções humanas com megabombas e cogumelos nucleares ou outras hipóteses plasmadas na cinematografia de catástrofe da Guerra Fria ou ataques de extraterrestres com naves sempre bem parqueadas sobre cidades dos EUA.

A nossa extinção nem terá o “tchan” de um filme baseado no Dan Brown que passa em loop nas TV: dar-se-á devido a um mercado de animais vivos, com um lagarto da Indonésia na sua jaula imunda a fazer um cagalhoto para cima de um sagui do Panamá. Cria-se aí uma mutação viral, que passa para um chinês que espirra para outro que apanha um comboio para Pequim que espirra para outro que voa para Itália. Soa familiar? Claro que não. Se isto alguma vez acontecesse, era óbvio que os humanos, na sua imensa sabedoria, poriam fim a tais bombas biológicas, a meteoritos pandémicos criados por incúria própria. Isso era se fosse num filme. A realidade é mais parva do que um filme de ficção científica dos anos 90. Como prever que meses mais tarde a um evento como o descrito haveria quem não quisesse tomar uma vacina que previne a ação do vírus porque pode ter efeitos secundários estatisticamente menores do que um comprimido para a dor de cabeça? Seria inverosímil.

Muitos cientistas, e bem, tentam encontrar inteligência nos animais para dar esperança aos humanos. Os macacos servem e serviram como modelo comportamental para inferirmos algo sobre nós. Ainda esta semana li que, “após uma catástrofe, os macacos tornam-se mais tolerantes com os outros, até com os seus rivais”. É um daqueles títulos que, em plena pandemia, nos faz carrear esperança para nós. Em setembro de 2017, reza a notícia, após o furacão Maria ter arrasado Porto Rico e quando Trump lançava lá rolos de papel higiénico aos que tinham ficado sem nada, os cientistas continuavam a estudar os habitantes símios de uma pequena ilha não povoada mas dominada por macacos, cujo comportamento é acompanhado há décadas. O furacão tinha destruído boa parte da vegetação da ilha de Cayo Santiago. Mas a atitude dos macacos havia sofrido alterações significativas. Passavam menos tempo com o seu círculo habitual para o dedicar a meros conhecidos, estranhos e até antigos rivais.


Um grupo de macacos na ilha Cayo Santiago, Porto Rico, depois da passagem do furacão Maria, em setembro de 2017. 
Imagem: Lauren Brent


E isto é extraordinário, digo eu. Os cientistas esperavam que os macacos fechassem os seus clãs ao exterior para reagir à escassez de comida. Mas fizeram o contrário: expandiram as suas ligações com outros indivíduos para partilhar os recursos limitados. Saltando para a conclusão, constata-se que as relações com os outros e a tolerância social ampla pode ser a chave para sobreviver a desafios extremos. Não o egoísmo e a intransigência. Ora, neste, como noutros casos, ou somos os macacos tolerantes ou o Trump — súmula do humano egocêntrico e narcísico — a atirar papel higiénico para uma população que desprezava apenas para a foto que julgava que o iria beneficiar.

Ignoramos os cientistas que avisam que este pode nem ser o “tal” vírus fatal. Não estamos a “retirar lições” algumas. Os mercados de animais selvagens voltaram. Há países tão afetados pela pandemia e dirigidos por negacionistas, como o Brasil, que são “celeiros de estirpes”. Deixamos que a falta de solidariedade e o egoísmo determinem a produção e distribuição de vacinas. Ignoramos que as teorias da conspiração dos Facebooks possam destruir a reputação dessas vacinas com o apoio da inépcia dos líderes políticos. Faz sentido?

Nas causas da extinção humana, a idiotice é sempre um dos fatores determinantes: desde a autoaniquilação nuclear até às alterações climáticas induzidas por nós. Ora, a possibilidade de assistirmos a uma extinção por vírus que podia ser controlado mas que é sabotado por teorias absurdas criadas por outros humanos ultrapassa todas as escalas de cretinice. Por isso, apelo a que entreguem o comando do planeta aos macacos da ilha de Cayo Santiago. Neste momento de aflição necessitamos de uma liderança solidária e tolerante.

Luís Pedro Nunes. Mito lógico - Por um planeta dos macacos. In E-Revista Expresso, Semanário #2529, de 16 de abril de 2021



segunda-feira, 16 de agosto de 2021

Dostoievski Jornalista

 


PERCEBEMOS QUE O IMPULSO FICCIONAL E O NÃO-FICCIONAL SE ASSEMELHAM, COMO QUANDO O FOLHETINISTA SEGUE UM CORTEJO FÚNEBRE POR GOSTO DA EFABULAÇÃO

E

m ano de bicentenário, tenho andado a ler os escritos breves de Dostoievski, que conhecia mal. Os textos jornalísticos, em particular, permitem acompanhar, década após década, toda uma série de experiências, reincidências e mudanças. Não serão tão canónicos ou importantes como “Crime e Castigo” e “Os Irmãos Karamazov”, mas são utilíssimos a quem leia esses livros. É o caso das crónicas intituladas “Noites de São Petersburgo” (1847) e de uma notabilíssima miscelânea de textos (ensaios, discursos, críticas, polémicas, ficções), o “Diário de um Escritor” (1873-1881).

As “Noites...” nasceram de um punhado de artigos dominicais que o jovem Dostoievski escreveu em substituição de um amigo. Crónicas sobre uma cidade “doente”, “estranha” e “sombria”; sobre o tédio, a preguiça e a canícula; sobre Gogol quando Gogol começou a ser contestado; sobre o ocidentalismo, esse “fato de bom corte”; sobre os europeus que não compreendem a Rússia. À época, Dostoievski ainda é “de esquerda” e virá até a ser condenado à morte (e depois amnistiado) por actividades subversivas, mas o seu esquerdismo já vai vacilando. O mais interessante, no entanto, é o modo como estes textos redigidos por motivos económicos servem para apresentar figuras e personagens que conhecemos das novelas e dos romances: o espectador comovido, o sonhador incapaz, os homens que gozam por antecipação e não por consumação, as raparigas indomáveis mesmo quando submissas. É nesses textos de jornal que percebemos que o impulso ficcional e o não-ficcional se assemelham, como quando o folhetinista segue um cortejo fúnebre por interesse documental e gosto da efabulação.

Diário de um Escritor”, ao contrário do que o título sugere, não é um diário, antes um conjunto de colaborações com a imprensa, incluindo os artigos que Dostoievski publicou originalmente num jornal que editou nos últimos anos de vida. Mantém-se a vontade e a voracidade de abordar todos os assuntos (o suicídio, as crianças, os direitos das mulheres, a utopia, a destruição das florestas), mas agora isso faz parte de um projecto, de um “laboratório criativo”, como lhe chamou Rosamund Bartlett. O escritor não procura, como dantes, os seus leitores, porque já os tem, e conversa com eles. E ao jovem revolucionário sucedeu-se o conservador, o defensor da ortodoxia, o eslavófilo. Em ‘O meu paradoxo’, pergunta: “Porque é que nos devemos afadigar para merecer a confiança da Europa? A Europa alguma vez confiou nos russos?” E em seguida acrescenta que se as pessoas que querem uma russa “civilizada” se tornam “europeus de esquerda”, então há que dizer que os europeus de esquerda detestam a civilização russa, alguns detestam até a civilização europeia. E que isso, paradoxalmente, é bastante eslavófilo.


Fiodor Dostoievski

Outros textos optam por um estilo coloquial, digressivo, às vezes ligeiro, ou melancólico, ou indignado, recorrendo a argumentos de autoridade mais biográficos e afectivos do que intelectuais. Um dos textos memoráveis é uma evocação de Pushkin, definido como o poeta da alma russa e, por isso, da alma universal. Outro é o elogio de “Anna Karénina” enquanto romance que não rasura a “culpa” e a “transgressão”, entidades morais que nenhum reformismo social conseguirá eliminar. E outro ainda é uma crítica aos tribunais que absolvem os réus porque consideram que o “meio” determinou as suas acções, como se não houvesse livre-arbítrio mas apenas estruturas sociais e inevitabilidades comportamentais.

Noites de São Petersburgo” é uma curiosidade, enquanto o “Diário de um Escritor” inventa um género literário; mas ambos têm momentos que lembram os grandes romances pela intensidade, o patético, as inclinações sentimentais e metafísicas, o profetismo e a exasperação. Por inesperado que pareça, a ficção de Dostoievski está também no seu jornalismo.

Pedro Mexia. Fraco Consolo - Dostoievski jornalista in E-Revista Expresso, Semanário #2546, de 13 de agosto de 2021. Pedro Mexia escreve de acordo com a antiga ortografia


sábado, 14 de agosto de 2021

O peso dos livros

 


      The Red Vest, de Françoise Gilot



Pensava que os livros não têm peso. Quero dizer, flutuam no entendimento.
Na memória. Ou melhor: equilibram-se porque não são gente.
Não têm noites, não têm insónias. Não têm sono lá dentro.

Pensava que os livros são menos complexos do que nós. Mesmo quando
não temos linha, quando não temos palavra. Mesmo quando
não conseguimos respirar. Quando pensei nisso,
tive uma vaga noção de título.

E um hálito branco a querer ser página.

Filipa Leal


🔊 Ouça este e outros poemas ditos por Filipa Leal em Lyrik line - Listen to the Poet.


Manipular o tempo de férias

 


Relógio decorativo inspirado em Salvador Dali


NÃO PASSA MAIS RÁPIDO OU MAIS LENTO. ESTÁ ESTUDADO. UMA HORA É UMA HORA

S

abemos por intuição que o tempo não corre igual em todas as alturas do ano. No caso das férias temos mesmo a certeza de estarmos num daqueles momentos em que o tempo voa de tal forma que mesmo o “fazer nada” — como esplendor máximo do lazer — deve ser bem escolhido não vá ser um “fazer nada” mal empregue e desperdiçado. Há a ideia de que o tempo nas férias acelera indecentemente. Quando devia pelo menos ter o decoro de manter o mesmo passo arrastado de quando estamos numa reunião Zoom ou na sala de espera do dentista. Este é um sentimento que é de tal forma comum que se decidiu estudar se seria assim tão disseminado essa perceção, por exemplo, numa viagem de fim de semana.

Há nuances. O que se constata não é bem que o tempo voa nas férias. Mas sim que temos a sensação que ele irá voar nas férias e que se está a arrastar até lá. O que é diferente. Basta pensar num fim de semana algures. Sente-se que esse fim de semana vai acabar praticamente assim que comece. Ora, mais que não fosse essa perceção acaba por ter influência nos planos traçados: ao parecer que não irá ter tempo para nada pode acabar por se eliminar muitas atividades e optar apenas por marcar um jantar pipi para aproveitar o “pouco tempo” que irá ter. Lá estando comprova-se que afinal há mais tempo. E no limite não se vai a fins de semana porque dois dias “não dá para nada”.

As férias são daqueles fenómenos que as pessoas querem que aconteçam quanto antes e durem mais tempo. Há uma dupla ansiedade. E é possível estudar esse fenómeno dado que há outros eventos de características similares. E em que até há pessoas que os odeiam — pelo que a sua perceção do que duram ou de quanto tempo falta até acontecerem é distinta. Por exemplo, a noite de Natal. Há quem deteste a noite de Natal com a família. É com estes dois tipos de pessoas que é possível estudar esta capacidade de “encolher” ou “distender” o tempo. Quem abomina a noite de Natal parece-lhe que aquilo dura umas excruciantes dezenas de horas. Cito este, mas há uma panóplia de estudos que decidiram analisar e compreender esta questão da “expansão” do tempo quando nos estamos a divertir. Além do que referi — “Time Will Fly During Future Fun (But Drag Until Then)”, da Society for Consumer Psychology —, refiro um com o sugestivo título “The Hedonic Consequences of Subjective Time Progression” (Sage Journals) ou “When an Hour Feels Shorter” (“Journal of Consumer Research”). Não vou alargar-me nisto, mas só para citar o 2º estudo, as conclusões são as de que as pessoas estão convencidas de que existe um fator hedónico na progressão do tempo (acham que quanto mais divertidas mais rápido o tempo passa). Pelo que atribuem a perceção da velocidade do tempo ao facto de se terem divertido ou não. Ou seja, se ontem o tempo passou depressa então de certeza foi porque me diverti, embora na altura não me parecesse ter estado alegre. Mas passou tão rápido... então é porque me diverti. Torcido isto. Estou a exigir demasiado de mim a escrever isto — que estou quase de férias — e a alguns leitores — que já poderão eles mesmo estar refastelados na praia.

Há, pois, umas dicas para “manusear” a velocidade do tempo em situações de férias. Uma é baixar a ansiedade que elas cheguem, e assim virão à velocidade normal; outra é pensar independentemente quantos dias forem eles não se vão comprimir só para nos lixar. Não são um sopro que terminará assim que se abrirem as malas. É baixar a ansiedade. Outra, que não é a perceção da velocidade do tempo que determina se houve divertimento: lá porque ontem a noite pareceu que passou rápido não quer dizer que foi boa. Pode ter bebido shots a mais ou teve a capacidade de negar que estava num abominável tédio.

Estamos obcecados em dominar o nosso tempo de lazer. Há uns bons anos, com base num livro de uma feminista americana que estava na berra, escrevi um texto sobre “O que as mulheres verdadeiramente querem”. E não revelei nem no título nem no primeiro parágrafo. Para a autora, o que as mulheres queriam não tinha nada a ver com os homens descobrirem a existência de G spots, ou de darem gritos do Ipiranga, mas sim com terem “tempo”. Fui chamado de aldrabão. Ainda acho que tenho razão. As mulheres precisam de tempo. E de aprender a fazer nada com ele. Os homens sabem atingir o zero absoluto com facilidade. Raramente vejo uma mulher a exercer a nobre arte da não existência. Até inventaram o mindfullness para tentar. Pagam a um guru para não pensar. Mas aí há um “propósito”.

Há dias a imprensa portuguesa exultou com o título da ilha norueguesa que queria abolir o tempo. É nesta altura do ano que recebemos ciclicamente um ensinamento da ancestral arte de viver harmoniosamente dos nórdicos. Decidi ler o texto. São 300 habitantes de uma ilha perto do Círculo Polar que passa metade do ano em escuridão e metade do ano em plena luz. E acham que os relógios não fazem falta no verão. A questão é que para uma cidade que tem luz 24 horas por dia não faz sentido que não se possa cortar a relva às 4 da manhã. Claro que se torna desafiante imaginar o que acontecerá aos restaurantes ou aos check out de hotéis. É mais uma coisa gira. Chega-se à ilha e pendura-se os relógios. Viver uns dias num local onde o tempo “não existe”: até que se tem de apanhar o ferry de volta no horário certo ou fica-se mais uma semana preso naquele lugar no cu de Judas. A gritar que os dias nunca mais passam.

Luís Pedro Nunes. O mito lógico - Manipular o tempo de férias. In E-Revista Expresso, Semanário #2545, de 6 de agosto de 2021


sexta-feira, 13 de agosto de 2021

Fernão de Magalhães segundo Henrique Leitão

 






Conversa com o físico e historiador Henrique Leitão sobre o prodigioso feito de Magalhães e sobre a ciência portuguesa dos Descobrimentos, nos 500 anos da viagem de circum-navegação.

Mapas do tempo de Emma Willard | Ensaio

 



Por Susan Schulten




O templo do tempo (1846), por Emma Willard — Fonte (Cartography Associates: CC BY-NC-SA 3.0).



No século 21, os infográficos estão por toda parte. Na sala de aula, no jornal, nos relatórios do governo, essas representações visuais concisas de informações complicadas mudaram a maneira como imaginamos nosso mundo. Susan Schulten explora o trabalho pioneiro de Emma Willard (1787-1870), uma importante educadora feminista cujos mapas inovadores do tempo estabeleceram as bases para os gráficos e gráficos de hoje.

Pode ler o artigo completo aqui.


(2021). Retrieved 13 August 2021, from https://publicdomainreview.org/essay/emma-willard-maps-of-time





Vacinação

 



 Cartoon de Maarten Wolterink


Testado(a)

Vacinado(a)

Pela Liberdade



quinta-feira, 12 de agosto de 2021

Dia internacioal da juventude

 








Os jovens estão na linha de frente da luta pela construção de um futuro melhor para todos. A pandemia COVID-19 destacou a extrema necessidade do tipo de mudança transformacional que buscam - e os jovens devem ser parceiros plenos nesse esforço. ” - Secretário-Geral da ONU António Guterres






Transformando os sistemas alimentares
- Inovação da juventude para a saúde humana e planetária

Com a expectativa de que a população mundial aumente em 2 bilhões de pessoas nos próximos 30 anos, várias partes interessadas reconheceram que simplesmente produzir um volume maior de alimentos mais saudáveis ​​de forma mais sustentável não garantirá o bem-estar humano e planetário. Outros desafios cruciais também devem ser enfrentados, como as interligações incorporadas pela Agenda 2030, incluindo a redução da pobreza; inclusão social; cuidados de saúde; conservação da biodiversidade; e mitigação das mudanças climáticas. Foi reconhecido que há uma necessidade de mecanismos de apoio inclusivos que garantam que os jovens continuem a ampliar os esforços coletiva e individualmente para restaurar o planeta e proteger a vida, ao mesmo tempo que integram a biodiversidade na transformação dos sistemas alimentares.

O tema do Dia Internacional da Juventude 2021, “Transformando os Sistemas Alimentares: Inovação Juvenil para a Saúde Humana e Planetária”, vem sublinhar que o sucesso de tal esforço global não será alcançado sem a participação significativa dos jovens.

Durante o Fórum da Juventude ECOSOC 2021 (EYF) , as questões e prioridades destacadas pelos jovens participantes incluíram o impacto da pandemia COVID-19, particularmente relacionada ao seu efeito na saúde humana, no meio ambiente e nos sistemas alimentares. Como parte das recomendações de resultados oficiais do FEJ, os jovens participantes enfatizaram a importância de trabalhar para sistemas alimentares mais equitativos. Além disso, eles destacaram a necessidade de os jovens tomarem decisões informadas sobre as escolhas alimentares, aumentando a educação global sobre as opções mais saudáveis ​​e sustentáveis ​​para os indivíduos e o meio ambiente. Também houve recomendações sobre o fornecimento de desenvolvimento de capacidade adequado com respeito à resiliência dos sistemas alimentares, em particular durante a pandemia de COVID-19 em curso e em suas consequências.

Por meio da educação de jovens, envolvimento, inovação e soluções empreendedoras, o Dia Internacional da Juventude deste ano tem como objetivo fornecer uma plataforma para que os jovens continuem com o ímpeto do FEJ rumo à Cúpula de Sistemas Alimentares de alto nível. Este ano, o Dia Internacional da Juventude será convocado virtualmente pela DESA em parceria com a Organização para a Alimentação e Agricultura das Nações Unidas e o Grupo Principal para Crianças e Jovens.


Nations, U. (2021). International Youth Day | United Nations. Retrieved 12 August 2021, from https://www.un.org/en/observances/youth-day



terça-feira, 10 de agosto de 2021

Sugestões de Leitura

 

Partilhamos mais algumas sugestões de leitura, para este Verão.

Desta vez, a Biblioteca da Camilo escolheu alguns livros em que as Bibliotecas surgem como protagonistas ou como cenários privilegiados da narrativa.




Boas Leituras!