TRÊS CONTOS
Eugenio Carmi e Umberto Eco
Gradiva, 2021, trad. de Bárbara Villalobos, 116 págs.
Livro ilustrado
Nos anos 60, o escritor Umberto Eco e o artista plástico Eugenio Carmi criaram duas breves narrativas, em verso livre e com ilustrações, pensadas para leitores juvenis. Duas décadas mais tarde, beneficiando do enorme sucesso comercial de “O Nome da Rosa”, de Eco, essas narrativas foram reeditadas em Itália e traduzidas em várias línguas, levando os autores a criar uma nova história, que acabou por formar com as anteriores uma obra única. “A Bomba e o General” e “Os Três Cosmonautas” são de 1966 e “Os Gnomos de Gnu” de 1992, cronologia importante na medida em que as três histórias refletem o tempo em que foram criadas, assumindo uma voz interventiva nas orientações político-sociais desse tempo.
A energia nuclear e a conquista do espaço, espelhando a luta geopolítica de então, marcam as duas primeiras histórias, dedicando-se a terceira à proteção ambiental. A escrita de Eco foge de pedagogismos básicos e opta pela lógica, mostrando o absurdo de certos gestos, ou pelo humor, como modo de convocar a reflexão e a vontade de pensar sem as baias da inevitabilidade. O diálogo entre as palavras de Eco e as composições de Carmi, marcadas pelas formas geométricas e pela sobreposição de desenho e colagem, é ele próprio um convite ao desvio do pensamento dominante, ao questionamento sobre as coisas que se apresentam como se não pudessem ser diferentes.
O trabalho visual de Carmi com a abstração adapta-se aqui a uma linguagem amena, imediata, sem perder as possibilidades semânticas criadas por algumas indefinições e pelas metáforas visuais (como a dos três cosmonautas, representados por recortes com imagens de produtos ou caracteres que remetem para as suas nacionalidades) que abrem a leitura a múltiplas interpretações. Porque um livro que apela ao pensamento livre, como este, não poderia fechar-se em si próprio.
Sara Figueiredo Costa. E-Revista Expresso, Semanário#2545
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