TIK TOK, 5G, COMPUTADORES QUÂNTICOS, SUPERSOLDADOS... A REALIDADE NÃO PRECISA DE TEORIAS DA CONSPIRAÇÃO
P
Alguém disse que as guerras do Trump com a China eram as certas. Mas o modo como as fez foram completamente erradas. Houve ali um momento que entre escolher Trump ou a China me deixou confuso. Mas este dezembro tem sido fértil em notícias (ou deliberadamente não noticiados? Alô conspiracionistas, atenção!). Eis o que li sobre a China este mês. Dia 5 calhou uma notícia tipo filme da Marvel. Investigadores de uma universidade chinesa garantem ter construído um computador quântico que consegue fazer cálculos em 200 segundos que demorariam dez mil anos num computador normal. É um trilião de vezes mais rápido que outros supercomputadores já existentes — como o Sycamore da Google. Estou a citar de um jornal português e espero que os “triliões” estejam corretos, mas enfim, se forem biliões também não está mal, não senhor. Não é que este computador possa já ser aplicado a tarefas específicas. Mas mostra onde a China está. E na minha escala, isto é do caraças.
Sigamos as notícias. Há meses que a Huawei clama que é totalmente independente do Governo chinês e que os receios quanto a ser a detentora da rede 5G na Europa são infundados. Também aqui a Administração Trump teve uma aproximação de puto bruto no recreio com ameaças à Europa. Mas parece evidente que entregar o 5G aos chineses é uma ideia triliões de vezes pior do que, sei lá, nós darmos-lhes a REN — a Rede Elétrica. E digo isto não porque a tecnologia não seja bestial (na minha escala), mas porque é uma empresa chinesa e porque o Estado chinês é o Estado chinês. Mandou a Huawei fazer uma tecnologia de Inteligência Artificial (IA) para reconhecimento facial de deteção de Uigures (a minoria muçulmana perseguida) — algo que a empresa sabe que irá ser utilizado contra os Direitos Humanos. E a Huawei fez. Pode ler no “Washington Post” de 8 de dezembro num extenso artigo sobre os “Alarmes Uigures” da Huawei. A Huawei não irá mandar coronavírus pela rede 5G. Acho que podemos estar descansados. Mas quando Xi mandar ajoelhar, quem duvida que a Huawei ajoelhe?
Isto não é uma teoria da conspiração. São notícias. Vou chutar três: “A China está a conduzir testes biológicos para criar supersoldados, garante espião americano” (“The Guardian”, 4 de dezembro). Já vimos filmes mauzitos nos anos 80 de Van Damme com este argumento. Mas 2020 é o ano da cena. No mesmo jornal a 15 de dezembro: “China está a acelerar o seu programa de modificação do tempo — e devemos estar preocupados”, onde se explica como um megaprojeto para fazer chover e nevar e controlar as condições meteorológicas pode levar a devastação nos países vizinhos mas também ser usado de forma militar.
Já sou lelé que baste para embarcar em teses alucinadas. Chega a verdade para me acagaçar. E a verdade é que a China é um hoje um grave problema que deve ser encarado de forma coordenada pelas democracias ocidentais, que ignoraram o que se passou em Hong Kong enquanto estávamos confinados. Só precisei de notícias de dezembro para o demonstrar. Uma superpotência tem os dados pessoais e gostos e ansiedades dos miúdos ocidentais organizados em IA, deseja controlar a net do mundo com o 5G, tem o computador mais rápido de sempre e está a criar supersoldados e controlar a meteorologia. Isto era suposto assustar. Nem precisa de teorias sobre ter criado o coronavírus em laboratório para destruir as economias ocidentais — embora a ser verdade desse um belo toque unificador a esta história — para estar quase a tomar conta disto à frente de todos sem precisar de conspirações ocultas.
Luís Pedro Nunes. Fiem-se na China. E-Revista Expresso, Semanário# 2513, 24 de dezembro de 2020
Sem comentários:
Enviar um comentário