sábado, 12 de dezembro de 2020

Na era digital, educação mediática combina com todas as disciplinas

 






Especialistas explicam por que as competências necessárias para um bom uso dos media digitais são fundamentais em qualquer área do conhecimento e como favorecem o exercício da cidadania. 



Mensagens de texto quase 24 horas sem parar, memes, posts nos perfis de redes sociais, publicidade e muito mais. Hoje isso cabe na palma da mão e segue um fluxo rápido, afinal é só apertar encaminhar ou partilhar. Num mundo no qual uma quantidade infinita de conteúdo é produzida por segundo – a chamada Era da Informação –, a educação mediática apoia e encoraja a leitura crítica, a escrita com responsabilidade e a participação ativa na sociedade.

Para Mariana Ochs, coordenadora do programa EducaMídia, essas são habilidades fundamentais para um exercício pleno da cidadania. “Num mundo onde todos produzem conteúdo, este não passa mais por um filtro que diz se a informação foi verificada e se é de qualidade. Portanto, podemos consumir algo enviesado ou mal intencionado. Enquanto produtores, também temos uma responsabilidade quanto à qualidade daquele conteúdo e consequentemente a manutenção de um ambiente saudável”, afirma.

Cada vez mais, a educação mediática torna-se fundamental para a alfabetização. “A definição de alfabetização precisa ser atualizada a cada vez que muda o contexto tecnológico ou social de produção e circulação de informação na sociedade. Ser competente literacicamente, hoje em dia, passa por ter as habilidades necessárias para saber encontrar a informação de que se precisa, decodificar textos em vários formatos e linguagens, ler criticamente e entender a sua natureza, de onde vem, quem publicou, com qual intenção, e saber se é confiável ou não. Tudo isso faz parte das habilidades necessárias para construir conhecimento.”

Esse debate é tema central do livro Guia da Educação Mediática, publicação organizada por Mariana Ochs, Daniela Machado e Ana Claudia Ferrari. Destinado a gestores e educadores, o material apresenta o contexto e definição da educação mediática, além de verbetes, conceitos e exemplos práticos de atividades.

Mariana explica que o livro foi pensado de forma a orientar os educadores a trabalhar a construção das habilidades com os alunos inserindo-a nos objetivos curriculares de qualquer disciplina. O Guia tem um conjunto de 15 sugestões de atividades e planos de aula de várias componentes curriculares. “Essa foi uma tentativa de demonstrar como, ao planear uma aula, o educador pode pensar no objetivo curricular e também no objetivo mediático a ser trabalhado, seja ele discussão sobre fontes, confiabilidade, o papel das hashtags na sociedade, discurso de ódio, diversidade e representação nos media e muitos outros”.


A educação mediática de forma transdisciplinar na escola

É importante pensar a educação mediática como um conjunto de ferramentas capaz de alcançar diferentes áreas de conhecimento, de forma a articulá-la com trabalhos e projetos desenvolvidos em cada disciplina, e não como uma componente à parte. “Trata-se de, dentro da proposta da disciplina, seja ela qual for, ensinar o aluno a trabalhar, ler e perceber os media naquele tema ou contexto. Não é algo separado, mas sim sobre a forma como o professor dá a aula usando os media disponíveis e todas as estratégias de educação mediática”, diz Carla Arena, cofundadora do Amplifica, que apoia a formação de professores em educação mediática.

No contexto educacional, os professores precisam de pensar em atividades que possibilitem que os alunos desenvolvam essas habilidades e, nesse sentido, o docente atua não como um detentor de conhecimento, mas como um orientador da aprendizagem do estudante. Portanto, antes de os alunos colocarem em prática essas habilidades, é preciso que o professor compreenda o conceito e as estratégias para trabalhar a educação mediática.


Educação mediática com distanciamento social

Mesmo que professores e alunos estejam fisicamente distantes, impossibilitando a supervisão de pesquisas, por exemplo, é possível praticar a educação mediática fazendo uso amplo e criativo das ferramentas digitais disponíveis. Nesse processo, Carla reforça a importância de os alunos tornarem a sua pesquisa o mais visível possível, de forma que o professor consiga acompanhar o processo de aprendizagem de forma online.

“Se estão a trabalhar essa parte de investigação e pesquisa, o aluno pode usar o editor de textos e formulários, vídeos, representações visuais, textos, sínteses ou qualquer ferramenta para sistematizar o conhecimento que está a pesquisar. A partir do momento em que faz esse registo, o professor pode ir acompanhando. Ao mesmo tempo que fica mais visível para o aluno, fica também para o docente.”

Mariana, por sua vez, frisa que a pandemia e o ensino remoto acentuaram ainda mais a necessidade de a educação para o século XXI ir além da entrega de conteúdo. “Todo esse trabalho de construção da fluência digital nas escolas teve que ser muito acelerado e precisamos estar atentos, porque podemos cristalizar uma coisa muito errada, que é transpor para o online as aulas meramente expositivas, ou podemos aproveitar para construir um tipo de educação que dá mais autonomia para que os alunos possam investigar, explorar e criar aprendizagem baseada em investigação, problemas e projetos.”

Um dos especialistas ouvidos para a elaboração do conteúdo do Guia do EducaMídia afirma que, atualmente, não é apenas uma vantagem ter um letramento digital e mediático – mais do que isso, é uma desvantagem debilitante não o ter. “Hoje em dia, a inclusão não está só no acesso à tecnologia, mas também na qualidade da experiência que se tem ao aceder à informação no ambiente digital. A construção dessas habilidades é a diferença entre ter ou não ter uma experiência fortalecedora e construtiva no ambiente digital, que representa a sua inclusão e a possibilidade do exercício da cidadania plena”, ressalta Mariana.

Fonte: Maria Victória Oliveira. Porvir, Inovações em Educação. 20 de outubro 2020 (texto adaptado). 


Sem comentários: