Título: Mary John
Autor: Ana Pessoa
Ilustrador: Bernardo Carvalho
Editor: Planeta Tangerina
Há semanas que ando a escrever-te. Não sei bem porquê. Não sei bem para quê. Quem és tu, Júlio Pirata? Ando a pensar na nossa história. Desde o princípio. Desde o primeiro encontro. Desde a primeira pergunta: "És menino ou menina?"Eu sou uma menina por tua causa, Júlio. Deixei crescer o cabelo para ti, furei as orelhas para ti. Eu vivo e morro para ti. Todos os meses tenho o período, morro um bocadinho e penso em ti. Tu dizes: "Morreste!" E eu morro. Atiro-me para o chão de qualquer maneira.E eu não quero isso. Eu nunca mais quero morrer, Júlio. Eu quero viver para sempre. Todos os minutos de todas as horas de todos os dias.
Um livro juvenil escrito com o fôlego desenfreado das perguntas sem resposta por uma protagonista juvenil. Um livro juvenil sobre amor e desamor, desentendimentos, fugas, ausências, saudade. Um livro juvenil sobre o corpo, a auto-imagem, o sentimento de não pertença, a indiferença. Um livro juvenil sobre a descoberta de outro lugar com outras pessoas, outros corpos, outras perguntas e uma nova pertença. Um livro juvenil sem auto-censura, onde os nomes não são eufemismos, e há constrangimentos eventuais. Um livro juvenil em forma de carta sem resposta, tão directo quanto paradigmático de um tempo que acelera e não se recupera jamais. Melancólico, certeiro na composição de cada personagem, rigorosamente atual na captação dos contextos verbais e não verbais, Mary John é uma obra-prima que pode exemplarmente representar o que significa a catalogação de literatura juvenil. Sem nada que a memorize, bem pelo contrário. Sem ser um livro crossover, que depõe barreiras etárias, é um texto sobre jovens e para jovens. Os adultos que o lerem não têm como ficar indiferentes.
Plano Nacional de Leitura 2027
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