quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

CNL2021 | Obra selecionada para o 3º Ciclo

 






Título: Mary John
Autor: Ana Pessoa
Ilustrador: Bernardo Carvalho 
Editor: Planeta Tangerina


Há semanas que ando a escrever-te. Não sei bem porquê. Não sei bem para quê. Quem és tu, Júlio Pirata? Ando a pensar na nossa história. Desde o princípio. Desde o primeiro encontro. Desde a primeira pergunta: "És menino ou menina?"
Eu sou uma menina por tua causa, Júlio. Deixei crescer o cabelo para ti, furei as orelhas para ti. Eu vivo e morro para ti. Todos os meses tenho o período, morro um bocadinho e penso em ti. Tu dizes: "Morreste!" E eu morro. Atiro-me para o chão de qualquer maneira.
E eu não quero isso. Eu nunca mais quero morrer, Júlio. Eu quero viver para sempre. Todos os minutos de todas as horas de todos os dias.



Um livro juvenil escrito com o fôlego desenfreado das perguntas sem resposta por uma protagonista juvenil. Um livro juvenil sobre amor e desamor, desentendimentos, fugas, ausências, saudade. Um livro juvenil sobre o corpo, a auto-imagem, o sentimento de não pertença, a indiferença. Um livro juvenil sobre a descoberta de outro lugar com outras pessoas, outros corpos, outras perguntas e uma nova pertença. Um livro juvenil sem auto-censura, onde os nomes não são eufemismos, e há constrangimentos eventuais. Um livro juvenil em forma de carta sem resposta, tão directo quanto paradigmático de um tempo que acelera e não se recupera jamais. Melancólico, certeiro na composição de cada personagem, rigorosamente atual na captação dos contextos verbais e não verbais, Mary John é uma obra-prima que pode exemplarmente representar o que significa a catalogação de literatura juvenil. Sem nada que a memorize, bem pelo contrário. Sem ser um livro crossover, que depõe barreiras etárias, é um texto sobre jovens e para jovens. Os adultos que o lerem não têm como ficar indiferentes.

Plano Nacional de Leitura 2027



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