sexta-feira, 30 de outubro de 2020

Estudo | Educação Literária

 







Enquadramento

É função da escola formar pessoas competentes e qualificadas nos vários domínios disciplinares e criar leitores autónomos, que façam da leitura um gosto e um hábito para a vida, encontrando nos livros a motivação para ler e continuar a aprender. A leitura constitui uma das melhores estratégias na formação cultural e socioafetiva do indivíduo, pressupondo e contribuindo para o domínio de competências que tornem o leitor capaz de refletir criticamente e agir sobre o mundo que o rodeia a partir do seu próprio contexto sociocultural. Para gerar motivação intrínseca pela leitura literária é fundamental respeitar a individualidade de cada leitor e dar-lhe liberdade de escolha, oferecendo-lhe um amplo leque de livros de qualidade que sejam significativos e vão ao encontro das suas capacidades prévias de compreensão e metacompreensão leitoras e das suas expectativas.

A oportunidade e o envolvimento na seleção e leitura de obras de forma independente constituem um fator determinante do desejo autorregulado de ler para lá das leituras obrigatórias ou mais ou menos determinadas pela cultura letrada que a escola privilegia.

Neste sentido, a Educação Literária em vigor poderá beneficiar com uma maior abertura a outras obras de educação leitora, clássicas e atuais, que não se esgotem num cânone tradicional, rígido e restrito, e se aproximem do aluno real e das práticas e usos sociais e culturais de leitura com que este hoje convive, cultivando o prazer de ler e a fruição de obras literárias variadas, indispensáveis a uma formação leitora plena, para a qual contribuirá a existência de professores mediadores de leitura empenhados e eficazes.

Ao prescrever uma lista restrita de obras e excertos, fechada e obrigatória, numa área como a Educação Literária, compromete-se a liberdade e a variedade de escolhas que deve presidir às necessidades, gostos e motivações individuais dos alunos, tornando-a mais um conteúdo escolar a aprender e a avaliar, em vez de um incentivo, uma prática social e cultural a enraizar, desenvolver e aferir qualitativamente.

A Educação Literária permanece, assim, contaminada por uma lógica marcadamente escolar e didático-pedagógica, em vez de se constituir como uma área de formação mais livre e autónoma dos objetivos específicos inerentes ao Português, distinguindo claramente aquilo que é o ensino disciplinar da leitura, da escrita e da história da literatura, ou seja, daquilo que é a formação de alunos leitores e a promoção de hábitos de leitura.

É, deste modo, importante que, além da atenção dada às leituras escolares, canónicas e iguais para todos, sejam criadas oportunidades de mudança das práticas de mediação dos docentes, de modo a que os alunos valorizem e exercitem as suas competências e atividades de leitura literária e estas se enraízem como um hábito cultural, convertendo a Educação Literária, numa verdadeira via de capacitação para a receção de qualquer texto, com criatividade e sentido crítico próprios.

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