sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

Palavras de autor: José Luís Peixoto




José Luís Peixoto: “Não venho aqui afirmar que sou o futuro Saramago”


Morreste-me, o primeiro livro de José Luís Peixoto, era sobre o pai. O último, Autobiografia, é sobre outro tipo de filiação: a literária. José Saramago é uma das principais personagens da última obra do escritor nascido em Galveias, Alentejo, em 1974. E cruza-se com uma outra, um jovem escritor atormentado pelos vícios. A dado momento quase se transformam na mesma pessoa. O último romance de Peixoto, que no próximo ano comemora 20 anos de caminho, mistura ficção e realidade e explora diferentes formas literárias. Neste Palavra de Autor, o escritor conversa com Cristina Margato, e lê passagens de Autobiografia, nomeadamente aquela em que no anúncio da atribuição do Nobel a Saramago se transforma numa chuva de sapos, ao jeito do cinema de Paul Thomas Anderson, no bíblico Magnólia. Peixoto assegura ainda que o Nobel não é a sua ambição, mas tem outras como a de que lhe roubem os seus livros.






A um jovem escritor é encomendada uma biografia de José Saramago, escritor consagrado. O jovem chama-se José, como José Luís Peixoto, ou como o único Nobel da Literatura português. As duas figuras principais, assim como algumas das personagens secundárias – como é o caso da mulher de Saramago, Pilar Del Río — não são decalques fiéis das pessoas reais, mas vivem coladas à realidade delas, ou constroem-se a partir de algumas particularidades fáceis de identificar.

José, o aprendiz de escritor, não é Peixoto, mesmo que nele existam alguns traços; e, José Saramago é Saramago, mesmo que as suas acções sejam ficcionadas.
Autobiografia, edição Quetzal, o último livro de José Luís Peixoto, é também um livro bem diferente daqueles que ele escreveu até hoje. O escritor, galardoado com o Prémio José Saramago, em 2001, mistura géneros literários, e em determinados momentos deixa-se contaminar pela escrita do Nobel e desenvolve alguns dos temas 'saramaguianos'. Peixoto, preenche vazios, provavelmente, porque, como diz quase no fim do livro, “a literatura é feita de espaços vazios a serem preenchidos por quem os interpreta.”
José Luís Peixoto nasceu em 1974, em Galveias. No próximo ano, terão passado 20 anos sobre Morreste-me, obra publicada pelo próprio autor, e o com a qual se tornou notado pela crítica. Tem livros traduzidos em mais de 30 países nas áreas de ficção, poesia, viagem e infanto-juvenil.
Cristina Margato, Expresso, Palavra de autor #28, 9 de outubro de 2019


📌Morreste-me está disponível na Biblioteca para consulta (presencial e domiciliária)



Sem comentários: