sábado, 10 de junho de 2017

Noutra varanda assim





Foto: "Varanda de Ricarei" (2012), óleo/tela, de Lina Lina Santos




VARANDAS


É na varanda que os poemas emergem

Quando se azula o rio e brilha

O verde-escuro do cipreste — quando

Sobre as águas se recorta a branca escultura

Quasi oriental quasi marinha

Da torre aérea e branca

E a manhã toda aberta

Se torna irisada e divina

E sobre a página do caderno o poema se alinha



Noutra varanda assim num Setembro de outrora

Que em mil estátuas e roxo azul se prolongava

Amei a vida como coisa sagrada

E a juventude me foi eternidade


Sophia de Melo Breyner Andresen, Obra Poética, Editorial Caminho, 2ª edição, Lisboa 2001.



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