A velocidade das mudanças que temos vivido desde a popularização da internet demonstra que já não estamos a viver uma época de mudança. Mais do que isso: trata-se de uma mudança de época!
Enquanto as épocas anteriores valorizavam a igualdade, isto é, a padronização e a homogeneização dos modos de vida, hoje tem-se confrontado essas pretensões de universalização de determinados valores. Sob o impacto das novas tecnologias, novas subjetividades vão sendo construídas.
Ao falarmos em multiculturalismo, temos aí duas perspectivas possíveis: a primeira delas é a perspectiva assimilacionista. Esse ponto de vista procura favorecer a integração de todos na sociedade e e a sua incorporação na cultura dominante. Assim, propõe a universalização da escolarização, sem abrir espaço para a discussão sobre a relevância deste ou daquele conhecimento para a comunidade escolar.
Porém, se noutros tempos os movimentos sociais giravam em torno da afirmação da igualdade, hoje existe um discurso que exalta o direito à diferença.
Cria-se, assim, uma tensão entre o universal e o particular: até que ponto a garantia dos mesmos direitos, a todos os membros da sociedade enquanto “iguais”, soluciona os problemas advindos da diferença?
Daí decorre uma segunda abordagem para o multiculturalismo: a diferencialista, também chamada essencialista ou “monocultura plural”. Aqui, tem-se uma visão estática da formação das identidades culturais, desconsiderando os processos de contacto e confronto entre essas identidades. É o famoso identitarismo!
Essa perspetiva pode levar a uma visão essencialista e extremista das identidades culturais [...]. Daí o nome monoculturalismo plural: culturas homogéneas que não se misturam, de modo que indivíduos pertencentes a elas não possam ter experiências divergentes das do grupo.
Naturalmente, precisamos de uma terceira perspetiva. O multiculturalismo plural, adequado aos intercâmbios por meio da migração e dos meios digitais, é aquele pautado pela interculturalidade: o prefixo inter representa integração, diálogo permanente, construção conjunta.
A abordagem intercultural aproxima-se do chamado multiculturalismo crítico, que consiste em entender que as relações culturais não foram, nem são, pacíficas estão atravessadas por relações de poder, envolvendo preconceitos, discriminações e batalhas diversas.
Portanto, as categorias que constituem a identidade já não são entendidas como estanques e dissociadas de um contexto sociohistórico, mas, sim, como produto das lutas sociais sobre signos e significações.
Segundo essa perspetiva, o papel da educação é despertar para o reconhecimento das diferenças, com o objetivo de construir uma sociedade que articule políticas de igualdade e de identidade. Porém, só conseguiremos atingir esse objetivo se partirmos do questionamento do caráter monocultural que está presente na escola.
Por outras palavras, é necessário reconhecer que a visão predominante de multiculturalismo na nossa sociedade é a primeira: a assimilacionista que pretende abranger todos os grupos, desde que estes se integrem passivamente à ideologia dominante. E é esse assimilacionismo que dá origem ao identitarismo estanque!
Uma educação para a negociação cultural envolve resgatar os processos de construção das identidades culturais e promover experiências significativas de interação. Afinal, nenhuma cultura é monolítica, e nenhuma cultura é completa em si mesma. Seres humanos são diferentes entre si.
A única forma de construir uma sociedade plural e democrática é educar para a diferença.
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