#cinema
nº 116| março 2025
Finda a época mais importante de prémios, um “novo” ano abre-se. Abre-se a novas histórias, a novos protagonistas, a novos realizadores. «Anora», vencedor da Palma de Ouro em Cannes, acabou por ser o grande vencedor da 97.ª edição dos Óscares de Hollywood, arrecadando as estatuetas de Melhor Filme, Melhor Realização, Melhor Atriz Principal e Melhor Argumento Original.
Após a cerimónia, surgiram notícias a confirmar o investimento dos produtores do filme (Neon, a mesma produtora de «Parasitas») em campanhas de marketing e comunicação no valor de 18 milhões de dólares, um montante significativamente superior ao orçamento da própria produção, que rondou os seis milhões. Na realidade, «Anora» já gerou mais de 50 milhões de dólares em receitas a nível global, competindo de forma justa com filmes cujas campanhas de comunicação ultrapassaram os 60 milhões.
Números e polémicas à parte, «Anora» trilhou o seu próprio caminho, como qualquer outro filme. Como Sean Baker afirmou ao receber a estatueta das mãos de Quentin Tarantino, «Anora» não existiria se antes não tivesse existido «Era Uma Vez… em Hollywood», filme onde Baker descobriu a sua protagonista, Mikey Madison. E também não existiria se o próprio Baker tivesse desistido de fazer cinema quando, atolado em dívidas, decidiu que «Tangerine», filmado com um iPhone 5, seria o seu último trabalho caso o filme não vingasse.
A verdade é que Sean Baker nunca poderia desistir, porque a sua sensibilidade e o seu olhar sobre a sociedade – e, em particular, sobre pessoas marginalizadas – são únicos, tocando o coração de muitos amantes da pura arte de contar histórias através do cinema.
Numa altura em que o mundo está mais polarizado do que nunca, escutemos, com toda a disponibilidade que o nosso coração permitir, as palavras de Sean Baker no seu discurso de aceitação do Óscar de Melhor Realizador: “Estamos todos aqui porque amamos cinema. E onde é que nos apaixonámos pelos filmes? Nas salas de cinema. Ver um filme no cinema, com uma audiência, é uma experiência partilhada: podemos rir, chorar, gritar ou lutar juntos. Talvez até sentirmo-nos devastados em conjunto. É uma experiência coletiva que simplesmente não podemos ter em casa.”
Um discurso que se estendeu a outros realizadores e produtores, incentivando-os a não desistirem de fazer filmes para as salas de cinema, mas também a todos os pais que estão a criar uma nova geração de amantes da sétima arte.
Inspirados por Sean Baker, que este “novo” ano nos traga muitas idas ao cinema, não apenas para ver grandes filmes, mas também para partilhar memórias com outras pessoas – momentos que, com o tempo, podem revelar-se transformadores e abrir novos caminhos na vida e no imaginário de cada um.
Sara Afonso. Revista Metrópolis

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