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Observa como as tuas escolhas atuais se traduzirão num possível mundo futuro — poderás ficar surpreendido!
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A 11 de maio de 2022 a Comissão adotou uma nova estratégia europeia para uma Internet melhor para as crianças (BIK +) que tem como objetivo promover conteúdos e serviços em linha acessíveis, adequados à idade e informativos, que sejam no interesse superior das crianças.
A Estratégia está assente em 3 pilares fundamentais:
Se for preciso, irei buscar um sol
para falar de nós:
ao ponto mais longínquo
do verso mais remoto que te fiz
Devagar, meu amor, se for preciso,
cobrirei este chão
de estrelas mais brilhantes
que a mais constelação,
para que as mãos depois sejam tão
brandas
como as desta tarde
Na memória mais funda guardarei
em pequenas gavetas
palavras e olhares, se for preciso:
tão minúsculos centros
de cheiros e sabores
Só não trarei o resto
da ternura em resto esta tarde,
que nem nos foi preciso:
no fundo do amor, tenho-a comigo.
quando a quiseres –
Ana Luísa Amaral, in Imagias, Gótica, 2002
A Biblioteca da Escola Secundária Camilo Castelo Branco associa-se às comemorações dos 50 anos do Expresso com uma exposição bibliográfica constituída por revistas E do Semanário.
Podcast editado pela biblioteca escolar, a partir dos registos áudio da leitura de excertos do Diário de Anne Frank feita pelos alunos do 8º ano na aula de Português.
"Nunca mais iremos a um 'site' de pesquisa, nunca mais iremos à Amazon": Bill Gates antecipa Inteligência Artificial arrasadora
Michael Cohen/Getty Images
Multimilionário Bill Gates antecipa um assistente de Inteligência Artificial capaz de entender as necessidades e hábitos de uma pessoa e que acabará com o uso da Internet como a conhecemos
Expresso, 23 de maio de 2023
Editado pela primeira vez em 6 de janeiro de 1973, o Expresso celebra em 2023 o seu 50º aniversário. Para assinalar meio século de vida, este podcast passa em revista a história do país e do mundo, segundo a lente do jornalismo. Guiado pelas vozes dos jornalistas do Expresso, conheça ano a ano o que de mais relevante aconteceu entre 1973 e 2023. Ao todo são 250 minutos de política, história, cultura e muitas curiosidades, publicados em episódios de 5 minutos. Celebre connosco os 50 anos do maior jornal português!
100EduardoLourenço
Eduardo Lourenço: “Olho para a minha vida com o espanto de que ela não possa recomeçar”
O filósofo Eduardo Lourenço, um dos maiores pensadores do nosso tempo, abre aqui o livro da sua vida. Fala do passado, do seu grande amor, o gosto pela música, pelo cinema e comenta o país, a Europa e o mundo com uma lucidez, rapidez de raciocínio e vigor raros.
Lourenço, que foi distinguido em 2016 com o prémio Vasco Graça Moura e era por altura da sua morte conselheiro de Estado do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, revela ainda um encantamento com Catarina Martins e Mariana Mortágua, “pequenos Fidel Castros”.
No dia em que faria 100 anos, o Expresso republicou esta conversa íntima para ouvir no podcast “A Beleza das Pequenas Coisas” , que aqui reproduzimos.
Col. Clássicos da Literatura em BD |
Somos alunos do 11º G e a nossa turma, no âmbito do projeto de
Cidadania e Desenvolvimento, está envolvida num campanha de angariação de
material escolar e livros infantojuvenis. Gostaríamos, por isso, de pedir a
vossa ajuda.
Todos os materiais e livros recolhidos vão ser enviados
para crianças e jovens carenciados para o Norte de Moçambique com a ajuda da Helpo,
uma Organização Não Governamental para o Desenvolvimento.
Depois de falarmos com uma representante desta
organização, pudemos ficar a conhecer melhor a situação atual de pobreza
extrema que se vive nesta região de Moçambique, especialmente depois das cheias
e outros desastres naturais terem afetado o país.
A Helpo já está a atuar na área da Educação para o
Desenvolvimento da Cidadania Global e esta é a forma que encontramos para
ajudar.
É nosso objetivo recolher livros infantis e juvenis em
bom estado e material escolar. O material escolar pode ser algo simples e
económico, tal como cadernos pretos, lápis HB e borrachas.
Até ao próximo dia 14 de junho, podem entregar o vosso
contributo na biblioteca da escola.
Se entretanto tiverem alguma dúvida, podem contactar a nossa Diretora de Turma, a Professora Rosa Mendes, ou o Delegado de Turma, Vasco
Guedes.
21 de maio
"Neste Dia Mundial, a UNESCO deseja convidar todas as pessoas a celebrar a diversidade cultural e, assim, construir a solidariedade intelectual e moral da humanidade." - Audrey Azoulay, Diretora-Geral da UNESCO
#LerAntesClicarDepois
Col. Clássicos da literatura em BD |
Depois de construírem os seus minilivros, os alunos do 1A1 deram asas à imaginação, escolheram um tema e escreveram o seu livro.
Projeto Camilo aLer+2027 - Ler na palama da mão
Esta manhã, os alunos do 1A1, estiveram na Biblioteca a participar num Workshop sobre a construção de livros em miniatura, orientado por professoras de Educação Especial.
Concluída a elaboração, os alunos procederam à escrita do livro - "O autor sou eu!". Vários foram os títulos escolhidos: Sobre o amor, Poetas Portugueses, versos de Eugénio de Andrade, ...
A produção dos minilivros é uma atividade incluída na Ler na palma da Mão, inserida no projeto aLer+2027.
Tiago Reis Marques, um dos coautores do estudo, alerta para a formação de uma “cicatriz biológica” no cérebro das mulheres Foto: Getty Images |
Ressonâncias magnéticas provam pela primeira vez que a discriminação feminina reduz a ‘massa cinzenta’
VERA LÚCIA ARREIGOSO
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Quase oito mil ressonâncias magnéticas do cérebro de homens e mulheres de 29 países foram estudadas pelos investigadores — todos psiquiatras e dedicados, sobretudo, à doença bipolar — e permitiram provar pela primeira vez que a desigualdade de género inflige uma lesão no cérebro feminino. O dano cerebral é evidente nas mulheres que vivem em países socialmente pouco desenvolvidos.
As nações participantes foram ordenadas por índices locais de igualdade de género e de desenvolvimento, de acordo com a classificação do Banco Mundial. “Tivemos uma grande dificuldade em encontrar amostras de países com muitas desigualdades, mas conseguimos imagens da Índia, África do Sul, Chile, Colômbia, México ou China. Há exceção da Turquia, não temos países de matriz muçulmana. O outro fator muito importante foi controlar as variáveis que poderiam trazer viés, como idade, Produto Interno Bruto do país, estrato social... Tivemos muito cuidado para não existir interferência de outros elementos que explicassem as alterações cerebrais além da desigualdade de género”, garante Tiago Reis Marques, psiquiatra, investigador do King’s College em Londres e um dos autores.
O olhar atento dos investigadores permitiu ver que a discriminação das mulheres reduz a espessura cortical — a ‘massa cinzenta’ onde se concentram os neurónios — em comparação com o cérebro masculino. “Homens e mulheres não devem ter diferenças na espessura cortical, área que tem uma relação direta com a função cognitiva. Aliás, onde há maior paridade de género, a espessura do córtex é igual e por vezes até maior nas mulheres”, explica o psiquiatra.
A análise foi feita em áreas cerebrais com mais interesse, tendo sido avaliadas 68 subregiões, e foi ainda observado que os danos “são mais acentuados em regiões do cérebro associadas à resposta ao stresse, à resiliência ou a estruturas de controlo emocional”. Ou seja, a desigualdade promove um declínio cognitivo e um maior risco de problemas psíquicos. “Estas consequências não são um reflexo pontual no tempo, vêm de idades muito jovens ao nível do neurodesenvolvimento, da infância e adolescência até ao início da idade adulta”, afirma Tiago Reis Marques.
LESÕES AO LONGO DA VIDA
Nas conclusões publicadas, é salientado o efeito do estímulo prolongado no tempo. “Na generalidade, a associação observada pode resultar da exposição a um ambiente adverso e à consequente resposta ao stresse ao longo da vida. Isto pode significar que as diferenças entre sexos na espessura cortical teria sido menor no início do desenvolvimento, aumentando com a idade. Isto corrobora as descobertas que destacam o papel da desigualdade de género na maior prevalência de depressão entre as raparigas durante a adolescência”, escrevem os autores.
“Não sabemos se a lesão é reversível, mas o cérebro é bastante plástico e está em constante remodelação face à exposição ambiental. Portanto, é natural que se adapte caso exista um novo estímulo”, acredita o investigador. Neste caso, o tratamento é viver numa sociedade sem desigualdade de género, com oportunidades iguais independentemente do sexo.
As razões para a ‘massa cinzenta’ feminina ficar mais fina com a discriminação são, por agora, desconhecidas. “Sobre o porquê só podemos especular. Provavelmente, porque a desigualdade de género reflete-se em menos oportunidades e num stresse aumentado face ao que sofrem”, admite o médico português. “Sabíamos já que o cérebro responde aos estímulos no ambiente, sejam negativos ou positivos. Por exemplo, à alimentação, à exposição a ambientes mais ricos em criança, ao stresse, às drogas, à educação, à violência.” E agora as ressonâncias magnéticas revelaram o dano infligido em concreto.
“Este estudo acrescenta o imperativo biológico aos imperativos moral, social e ético que já existia para atuar pela paridade entre homens e mulheres.” A intervenção social ganhou mais um ímpeto, pois a cada dia que passa há lesões a formarem-se no cérebro de mulheres discriminadas. Tiago Reis Marques chama-lhe mesmo uma “cicatriz biológica”.
Os psiquiatras destacam que a descoberta da existência de uma consequência neurobiológica negativa para as mulheres que vivem em ambientes sociais com desigualdade de género não pode ser inconsequente. Os investigadores reclamam que estas conclusões sejam consideradas em futuras políticas públicas, principalmente naquelas onde a desigualdade de género é mais evidente.
PORTUGAL SEM DADOS
“Estes resultados destacam a relevância do ambiente macrossocial onde se manifestam as diferenças sexuais na estrutura cerebral. São necessários estudos futuros para examinar os mecanismos envolvidos, os fatores moderadores e o tempo de desenvolvimento, oferecendo novas oportunidades para políticas informadas pelas neurociências para a promoção da igualdade de género”, lê-se no documento.
Tiago Reis Marques revela que o estudo não contou com ressonâncias magnéticas do cérebro de portuguesas. Não há muitos dados — o exame é dispendioso, mesmo ao abrigo do Serviço Nacional de Saúde —, mas também não faria diferença. “Felizmente, estamos no patamar dos países com maior igualdade de género.”
Computadores que contam histórias vão alterar o curso da história humana
TEXTO YUVAL NOAH HARARI HISTORIADOR, FILÓSOFO E AUTOR DE “SAPIENS”, “HOMO DEUS” E DA SÉRIE DE LIVROS JUVENIS “INDOMÁVEIS”
O
receio em relação à inteligência artificial (IA) tem assombrado a Humanidade desde o início da era dos computadores. Até agora, esses medos têm estado focados em máquinas que usam meios físicos para matar, escravizar ou substituir pessoas, mas ao longo dos últimos dois anos surgiram novas ferramentas que ameaçam a sobrevivência da civilização humana vindas de onde menos se esperava. A IA ganhou algumas habilidades notáveis para manipular e gerar linguagem, seja com palavras, sons ou imagens. A IA pirateou o sistema operacional da nossa civilização.
A língua é o material sobre o qual quase toda a cultura humana se baseia. Os direitos humanos, por exemplo, não estão inscritos no nosso ADN. Pelo contrário, são artefactos culturais que criámos contando histórias e escrevendo leis. Os deuses não são realidades físicas, são artefactos culturais que criámos inventando mitos e escrevendo escrituras.
O dinheiro também é um artefacto cultural. As notas são apenas pedaços de papel coloridos e, atualmente, mais de 90% do dinheiro nem sequer é físico — são apenas informações digitais em computadores. O que dá valor ao dinheiro são as histórias que banqueiros, ministros das finanças e gurus da criptomoeda nos contam. Sam Bankman-Fried, Elizabeth Holmes e Bernie Madoff não eram particularmente bons em criar valor real, mas todos eles eram contadores de histórias extremamente capazes.
O que poderá acontecer quando uma inteligência não humana se torna melhor do que o ser humano médio a contar histórias, compor melodias, desenhar imagens e escrever leis e escrituras? Quando pensamos sobre o ChatGPT e outras novas ferramentas de IA, pensamos em exemplos como o dos alunos que usam a IA para escrever os seus trabalhos da escola. O que acontecerá com o sistema escolar quando as crianças o começarem a fazer? Mas esse tipo de pergunta não abrange o panorama geral. Esqueçam os trabalhos da escola. Pensem nas próximas eleições presidenciais americanas, em 2024, e tentem imaginar o impacto das ferramentas de IA, que podem ser criadas para produzir conteúdo político em massa, histórias de notícias falsas e escrituras para novos cultos.
Nos últimos anos, o culto QAnon une-se em torno de mensagens online anónimas, conhecidas como “q drops”. Os seguidores recolhem, veneram e interpretam estes “q drops” como se fossem um texto sagrado. Enquanto até agora, tanto quanto sabemos, todos os “q drops” eram criados por humanos e os bots simplesmente ajudaram a disseminá-los, no futuro podemos assistir aos primeiros cultos da história cujos textos sagrados foram escritos por uma inteligência não humana. As religiões ao longo da história reivindicaram uma fonte não humana para os seus livros sagrados. Em breve isso pode ser uma realidade.
Num nível mais prosaico, em pouco tempo podemos estar a manter longas discussões online sobre o aborto, alterações climáticas ou a invasão russa da Ucrânia com entidades que pensamos serem humanos, mas são, na realidade, IA. O problema é que é absolutamente inútil gastarmos o nosso tempo a tentar mudar as opiniões declaradas de um bot uma vez que a IA poderá aprimorar as suas mensagens de forma tão precisa que existe a possibilidade de nos influenciar.
Através do seu domínio da linguagem, a IA poderia até formar relacionamentos íntimos com as pessoas e usar o poder dessa intimidade para mudar as nossas opiniões e visões do mundo. Embora não haja nenhuma indicação de que a IA tenha qualquer tipo de consciência ou sentimentos, o promover uma intimidade falsa com os seres humanos é suficiente, se fizer com que se sintam emocionalmente ligados a si. Em junho de 2022, Blake Lemoine, um engenheiro da Google, afirmou publicamente que o chatbot LaMDA, em que tinha estado a trabalhar, se tornara senciente. A alegação controversa custou-lhe o emprego. A coisa mais interessante sobre este episódio não foi a afirmação, que provavelmente era falsa, foi sim a sua vontade de arriscar o seu emprego lucrativo por causa de um chat de IA. Se a IA pode influenciar as pessoas a arriscar os seus empregos por sua causa, o que mais poderia induzi-las a fazer?
Numa batalha política para conquistar mentes e corações, a intimidade é a arma mais eficiente e a IA acaba de ganhar a capacidade de criar, em massa, relações íntimas com milhões de pessoas. Todos sabemos que ao longo da última década as redes sociais se tornaram um campo de batalha para controlar a atenção humana. Com a nova geração de IA, a frente de batalha está a passar da atenção para a intimidade. O que acontecerá com a sociedade e psicologia humanas à medida que as diferentes IA lutam entre si para conseguir formar falsas relações íntimas connosco, que podem depois ser usadas para nos levar a votar em políticos específicos ou comprar produtos específicos?
Mesmo sem criar uma “intimidade falsa”, as novas ferramentas de AI teriam uma imensa influência nas nossas opiniões e visões de mundo. As pessoas podem passar a consultar apenas uma IA como um oráculo único e omnisciente. Não admira que a Google esteja apavorada. Para que é que me vou dar ao trabalho de pesquisar, se posso simplesmente perguntar ao oráculo? As empresas de comunicação social e publicidade também devem estar aterrorizadas. Para quê ler um jornal se posso apenas pedir ao oráculo para me contar as últimas notícias? E para que servem os anúncios, se posso simplesmente pedir ao oráculo para me dizer o que comprar?
E mesmo estes cenários imaginários não captam verdadeiramente o panorama geral. Aquilo de que estamos a falar é, potencialmente, do fim da história da humanidade. Não o fim da história, apenas o fim da sua parte dominada pelo homem. A história é a interação entre biologia e cultura; entre as nossas necessidades biológicas, e desejos por coisas como comida e sexo, e as nossas criações culturais, como religiões e leis. A história é o processo através do qual as leis e as religiões moldam a comida e o sexo.
O que acontecerá com o rumo da história quando a IA tomar conta da cultura e começar a produzir histórias, melodias, leis e religiões? Ferramentas anteriores, como a imprensa gráfica e a rádio, ajudaram a espalhar as ideias culturais dos seres humanos, mas nunca criaram novas ideias culturais próprias. A IA é fundamentalmente diferente, pode criar ideias completamente novas, uma cultura completamente nova.
No início, a IA provavelmente imitará os protótipos humanos em que foi treinada na sua infância. Mas a cada ano que passa, a sua cultura vai corajosamente até onde nenhum ser humano já foi. Há milénios que os seres humanos vivem dentro dos sonhos de outros seres humanos. Nas próximas décadas podemos dar por nós a viver dentro dos sonhos de uma inteligência alienígena.
O medo da IA assombra a humanidade há apenas algumas décadas, mas durante milhares de anos os seres humanos foram assombrados por um medo muito mais profundo. Sempre reconhecemos o poder das histórias e imagens para manipular as nossas mentes e criar ilusões. Consequentemente, desde os tempos antigos, os humanos temeram estar presos num mundo de ilusões.
No século XVII, René Descartes temia que talvez um demónio malicioso o estivesse a prender dentro de um mundo de ilusões, criando tudo o que já tinha visto e ouvido. Na Grécia antiga, Platão contou a famosa alegoria da Caverna, na qual um grupo de pessoas estão acorrentadas dentro de uma caverna durante toda a sua vida, de frente para uma parede em branco. Um ecrã. Nesse ecrã veem várias sombras projetadas. Os prisioneiros confundem as ilusões que ali veem com a realidade.
Na antiga índia, sábios budistas e hindus diziam que todos os seres humanos viviam presos dentro de Maya — o mundo das ilusões. O que normalmente consideramos ser a realidade é muitas vezes apenas uma ficção nas nossas próprias mentes. As pessoas conseguem travar guerras inteiras, matando-se umas às outras e estando dispostas a morrer por causa de uma crença nesta ou naquela ilusão.
A revolução da IA coloca-nos frente a frente com o demónio de Descartes, com a caverna de Platão e com Maya. Se não tivermos cuidado, podemos ficar presos atrás de uma cortina de ilusões, que não conseguimos rasgar nem mesmo perceber que ali está.
Claro que o novo poder da IA também poderia ser usado para o bem. Não vou refletir sobre isso, porque as pessoas que desenvolvem a IA já o fizeram que chegue. O trabalho de historiadores e filósofos como eu é apontar os perigos. Certamente que a IA pode ajudar-nos de inúmeras maneiras, desde encontrar novas curas para o cancro até descobrir soluções para a crise ecológica. A pergunta que enfrentamos é como garantir que as novas ferramentas de IA são usadas para o bem e não para o mal. Para tal, primeiro precisamos compreender as verdadeiras capacidades dessas ferramentas.
Desde 1945 que sabemos que a tecnologia nuclear poderia gerar energia barata para o benefício dos seres humanos, mas também poderia destruir fisicamente a civilização humana. Por conseguinte, reformulámos toda a ordem internacional para proteger a humanidade e para garantir que a tecnologia nuclear fosse utilizada principalmente para o bem. Agora temos de lidar com uma nova arma de destruição em massa que pode aniquilar o nosso mundo mental e social.
Ainda vamos a tempo de regular as novas ferramentas de IA, mas temos de agir rapidamente. Enquanto as bombas atómicas não conseguem inventar bombas atómicas mais poderosas, a IA consegue criar uma IA exponencialmente mais poderosa. O primeiro passo essencial é exigir verificações de segurança rigorosas antes das poderosas ferramentas de IA serem lançadas para o domínio público. Assim como uma empresa farmacêutica não pode lançar novos medicamentos antes de testar os seus efeitos secundários de curto e longo prazo, as empresas de tecnologia não devem lançar novas ferramentas de IA antes de serem seguras. Precisamos de um equivalente da Food and Drug Administration para novas tecnologias e precisamos dele para ontem.
O abrandamento da implementação pública de IA não fará com que as democracias fiquem para trás de regimes autoritários mais cruéis? É exatamente o oposto. A implementação de IA não regulamentada criaria o caos social, que beneficiaria os autocratas e arruinaria as democracias. A democracia é um diálogo e os diálogos dependem da linguagem. Quando a IA modifica a linguagem, pode destruir a nossa capacidade de ter diálogos importantes, destruindo assim a democracia.
Acabámos de encontrar uma inteligência alienígena, aqui na Terra. Não sabemos muito sobre ela, exceto que pode destruir a nossa civilização. Devíamos pôr um travão à implementação irresponsável de instrumentos de IA na esfera pública e regulamentar a IA antes que seja ela a regulamentar-nos a nós. E o primeiro regulamento que gostaria de sugerir é que seja obrigatório uma IA dizer que é uma IA. Se estou a conversar com alguém e não consigo perceber se é um ser humano ou uma IA, esse é o fim da democracia.
Este texto foi produzido por um ser humano.
Ou será que foi?
Tradução Joana Henriques
Copyright The Economist Newspaper Limited, London, 2023
Expresso Revista, Semanário#2637, 12 de maio de 2023