segunda-feira, 8 de maio de 2017

Do bom uso do fracasso



porque a nossa vida canta!





"Aconteceu com ele [Herman Melville, o autor de Moby Dick] o que frequentemente acontece connosco: a sua obra-prima começou por ser o seu maior fracasso. «Estás a ouvir? - perguntou o principezinho. - Acordámos o poço e ele pôs- se a cantar...». Não se espera que existam poços num desero. O pequeno herói de Saint-Exupéry garante, porém, que «o que torna belo um deserto que ele esconde um poço em algum lugar». Resmungamos com a vida. Falta-lhe alguma coisa, nunca nada é perfeito, nada está acabado ou resolvido. É como se estivéssemos a jogar um jogo insolúvel: se temos o poço, falta-nos a corda; se temos a corda, falta-nos o balde; se temos a corda, o balde e o poço, falta-nos a força de irmos até ao fundo da nascente buscar a água que nos dessedente. «O Principezinho» declara que não nos falta nada. Cada um de nós tem tudo o que precisa para experimentar a alegria. Não é um problema de conhecimento, é uma questão de olhar. Olharmos para o que somos e para o que nos rodeia com um coração simples, capaz de perceber o dom que nos habita. Pois, se encostarmos o ouvido até mesmo junto das nossas maiores derrotas, compreenderemos que a nossa vida canta!"
José Tolentino Mendonça, "Que coisa são as nuvens - Do bom uso do fracasso", E-A Revista Expresso, 29 de abril de 2017, p.94   


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