sexta-feira, 2 de agosto de 2019

Os poetas a cantar são ecos da voz do mar!




Imagem de Pietro Cataudella



Passei o dia ouvindo o que o mar dizia


Eu ontem passei o dia 
Ouvindo o que o mar dizia. 

Chorámos, rimos, cantámos. 

Falou-me do seu destino, 
Do seu fado... 

Depois, para se alegrar, 
Ergueu-se, e bailando, e rindo, 
Pôs-se a cantar 
Um canto molhado e lindo. 

O seu hálito perfuma, 
E o seu perfume faz mal! 

Deserto de águas sem fim. 

Ó sepultura da minha raça 
Quando me guardas a mim?... 

Ele afastou-se calado; 
Eu afastei-me mais triste, 
Mais doente, mais cansado... 

Ao longe o Sol na agonia 
De rôxo as águas tingia. 

«Voz do mar, misteriosa; 
Voz do amor e da verdade! 
- Ó voz moribunda e doce 
Da minha grande Saudade! 
Voz amarga de quem fica, 
Trémula voz de quem parte...» 
. . . . . . . . . . . . . . . . 

E os poetas a cantar 
São ecos da voz do mar! 

António Botto, Canções 




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