quarta-feira, 29 de junho de 2022

Um homem precisa viajar

 


Pior que não terminar uma viagem é nunca partir. 
Um homem precisa viajar. 
Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou tv. 
Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. 
Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. 
Conhecer o frio para desfrutar o calor. 
E o oposto. 
Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. 
Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser. 
Que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver.

Solidão foi a única coisa que eu não senti, depois que parti…Nunca…Em momento algum. 
Estava, sim, atacado de uma voraz saudade. 
De tudo e de todos, de coisas e de pessoas que há muito tempo não via. 
Mas a saudade às vezes faz bem ao coração. 
Valoriza os sentimentos, acende as esperanças e apaga as distâncias.

Um homem precisa viajar, por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros e tevês, precisa viajar, por si, com os olhos e pés, para entender o que é seu … 

Descobri como é bom chegar quando se tem paciência. 
E para se chegar, onde quer que seja, aprendi que não é preciso dominar a força, mas a razão. 
É preciso, antes de mais nada, querer.

Um homem precisa viajar, de Amyr Klink, dito por Jorge Borges



Para saber mais sobre Amyr Klink:

A navegador e escritor Amyr Klink é entrevistado por Beny Schmidt, no programa brasileiro Ciência Livre.



terça-feira, 28 de junho de 2022

Inquérito: Os livros dos meus professores - Livros em corredores

 










Está a decorrer, desde o passado dia 3 de junho, a aplicação de um inquérito, junto do corpo docente.

Questionar os alunos sobre as suas preferências de leitura é habitual e expectável no contexto escolar. Mas é menos habitual os professores partilharem os seus gostos literários com os alunos. Este questionário desafia os docentes da escola a recuarem no tempo, até à adolescência, a recordarem o livro que mais os marcou e a partilharem as suas impressões de leitura.

A análise dos resultados será divulgada junto da Comunidade Escolar. Os livros apresentados serão objeto de uma exposição no início do próximo ano letivo

Se é professor da Camilo, colabore! / Participe!


Podcast | Na poesia cabem todas as cores: A.M. Pires Cabral

 




 


🔊

Clarão”, de A. M. Pires Cabral, in Caderneta de Lembranças, 1.ª edição, Edições Tinta-da-china, novembro de 2021, ISBN: 978-989-671-652-3, p. 10.

domingo, 26 de junho de 2022

Booktrailers | Bichos, de Miguel Torga

 

 





Continuamos a divulgar os booktrailers produzidos pelos alunos do 11ºF, na disciplina de Português, no âmbito do projeto 10 Minutos a Ler.


Este é o booktrailer do Alexandre Coutinho, que optou por ler Bichos, de Miguel Torga.

Crónica | Tornar ao espanto

 



O SUJEITO SABE QUE DESEJA, MAS NÃO SABE O QUE DESEJA. O DESEJO É A FORMA DE EXISTÊNCIA DE UM SUJEITO QUE É EM SI MESMO FALTA

T

ornemos ao espanto. Se virmos bem, ele é feito de visitação e de surpresa. Espantamo-nos pela manifestação de alguma coisa que nos visita, mas não como mera ocorrência: essa surpreende-nos, tem uma luminosidade que nos atinge, que nos apanha desprevenidos, que (misteriosamente, como dizia Aristóteles) estabelece connosco um encontro. Entre o mundo como aporia e o mundo como encontro, dá-se a surpresa. É como se se abrisse uma entrada até então desconhecida, e o que aparece tivesse o poder de reconfigurar a direção habitual das coisas, implicando o nosso olhar. Na experiência do espanto somos atravessados, a surpresa atravessa-nos, pois não se trata tanto de um evento surpreendente quanto do facto de se ser surpreendido. Disso fala, por exemplo, um texto de Adília Lopes. Diz o seguinte: “Lembro-me com gosto do laboratório de Química do Liceu Pedro Nunes. Lembro-me da reação do sódio com a água, liberta uma luz amarela. A reação do potássio com a água liberta uma luz violeta. Tinha um colega, o Pinto, que dizia: ‘Isto para a Maria José é melhor do que ir ao cinema’.” A surpresa é isso. Não é apenas o registo de uma reação que se dá exteriormente. É uma revelação que deflagra em nós uma espécie de luz. Inesperadamente uma coisa surge como nunca antes a havíamos visto. Assim a lemos, pelo menos, alcançando um estádio de consciência novo, não só sobre o agente da revelação, mas também acerca de nós mesmos. O espanto constitui uma rutura com o quadro ordinário e rotineiro em que funcionámos, e face ao qual nos tornámos indiferentes. Basta-nos, contudo, esse instante de graça para intuirmos a possibilidade de uma relação mais profunda e prodigiosa com o real.

Reação do potássio com a água 
Imagem sob licença Creative Commons, 
via Cyberchemist.

Uma coisa fique clara: o espanto liga-se ao desejo, não às necessidades. Caímos frequentemente na tentação de pensar que necessidades e desejos talvez não sejam argumentos diferentes, já que refletem a mesma experiência: a da falta. Porém, entre ambos, como explicou Jacques Lacan, existe uma diferença insuperável: é que “o desejo não tem objeto”. A posse de um objeto satisfaz uma necessidade, mas o desejo é de outra ordem. O sujeito sabe que deseja, mas não sabe o que deseja. O desejo é a forma de existência de um sujeito que é em si mesmo falta. Emerge em nós como perceção profunda de que somos lacuna (ou, na precisa definição de Lacan, de que somos um “aparato lacunar”). Por isso, mais do que oferecer-nos uma flecha, o desejo destapa em nós uma ferida. É uma força que atua por esvaziamento. O desejo desarma-nos primeiro para que possa acontecer o espanto. Como naquela história contada pela antropóloga americana Ruth Benedict sobre os índios da ilha de Vancouver, que organizavam entre si diversas provas para aferir quem possuía a verdadeira grandeza. E a competição consistia num exercício que pode parecer brutal: a alienação dos próprios bens. Os índios lançavam ao fogo os seus barcos, dispersavam por terra o seu azeite de peixe ou os vasos com as ovas de salmão, do cimo de um promontório atiravam ao mar mantas e tendas. Vencia aquele que se despojasse de mais coisas. Tinham razão os índios: o desejo devolve-nos a uma nudez propedêutica. Sem ela, a nossa vida não estremeceria (e não se transformaria) pela experiência do espanto. No espanto descobrimo-nos desprovidos diante daquilo que nos alcança, daquilo que nos investe diretamente e nos responsabiliza pela unicidade do nosso próprio ser. Mas, deste modo paradoxal, tornamo-nos capazes de enfrentar a pergunta sobre o que significa para nós viver.

José Tolentino Mensonça. Que coisa são as nuvens - Tornar ao espanto, in Expresso-Semanário#2590, de 17 de junho de 2022

Podcast | Histórias que os livros contam

 














Numa era em que o conhecimento se transmite principalmente de forma digital, o livro antigo permite-nos saber a evolução do nosso pensamento e do conhecimento científico, desde que os humanos foram capazes de escrever na pedra, no pergaminho ou no papel. Em árabe, em latim, em grego ou mais tarde na língua de cada nação, os livros são a nossa memória.

Da Astronomia à Álgebra, da Matemática ao Desenho, da História Natural à Medicina, a Universidade do Porto possui, nas suas faculdades, bibliotecas de Fundo Antigo com um conjunto de obras de autores portugueses que vão do século XV ao século XIX.

Neste podcast, serão contadas algumas das histórias que estes livros escondem.


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Centuria prima, Amato Lusitano, 1551



A Biblioteca do Fundo Antigo da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto apresenta um dos livros mais valiosos do seu espólio documental: a Centuria prima, escrito por um autor médico português e publicado em Florença. Nesta obra, um dos casos descritos, considerado a sua descoberta principal e um dos grandes legados que Amato Lusitano deixou à medicina, é a circulação do sangue.
Por Júlia Borges

Pode ouvir aqui as histórias que este livro conta. 


sábado, 25 de junho de 2022

... Uma questão de tamanho (2)

 


Well-a-Day, Is this my Son Tom (ca. 1773),
publicado por Carrington Bowles.  — Fonte .
O Macaroni, uma personagem real no
Late Masquerade
 (1773). — Fonte .


No século XVIII, a moda dos penteados extravagantes também chegou aos homens e com ela, surgiu a figura do Macaroni.

Entre as décadas de 1770 e 1780, apareceram os Macaronis, que cultivavam o exagero absoluto em termos de moda. Eram jovens ingleses que adotaram a alta moda de França e Itália. O estilo deles era espalhafatoso, exagerado, muito ornamentado e frívolo. Usavam altíssimas perucas empoadas, pequeninos chapéus tricórnio e ramalhetes de flores. Pela sua aparência, eram vítimas de muitas piadas e objeto de caricaturas agressivas. Para além da sua obsessão pela moda, havia uma outra razão para o escândalo: no século XVIII, pela primeira vez, a moda passou a estar associada ao género e a ser considerada um assunto de mulheres. Os Macaronis vinham destruir esta regra, de forma escandalosa.

Escritores que leem o mar: Lídia Jorge

 



















A propósito da Conferência dos Oceanos, o PÚBLICO convidou quatro escritores a lerem um excerto, que gostassem, de um livro sobre o mar. De Norte a Sul do país, Afonso Cruz, Mário Cláudio, Djaimilia Pereira de Almeida e Lídia Jorge aceitaram o nosso desafio.

Lídia Jorge escolheu a Praia da Falésia, em Boliqueime, para ler um excerto do livro Ode Marítima, de Fernando Pessoa.

A Conferência dos Oceanos das Nações Unidas, que decorre em Lisboa entre 27 de Junho a 1 de Julho, pretende impulsionar a comunidade internacional a adotar soluções para a gestão sustentável do oceano, incluindo o combate à acidificação da água, poluição, pesca ilegal e perda de habitats e biodiversidade. Esta conferência da ONU, que a pandemia de covid-19 adiou de 2020 para este ano, é co-organizada por Portugal e pelo Quénia.

A ONU fixou dez metas a alcançar entre 2020 e 2030 no âmbito do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 14, sobre proteção da vida marinha, como a prevenção e redução da poluição e da acidificação, a proteção dos ecossistemas, a regulamentação da pesca e o aumento do conhecimento científico. As Nações Unidas consideram a conferência de Lisboa como uma oportunidade para um apelo à ação para reverter o declínio na saúde dos oceanos.

Público

... Uma questão de tamanho (1)

  

 


No século XVIII, a moda exigia que as mulheres se expandissem vertical e horizontalmente. Os vestidos foram alargados com anquinhas e o cabelo foi elevado com almofadas. Os penteados eram elaborados e muitas vezes elevados a proporções inimagináveis!

O cabelo era penteado, encaracolado, untado com pomada e polvilhado com pó. Inseriam-se almofadas no penteado e utilizava-se cabelo falso para aumentar o comprimento. Outra tendência consistia em estilizar o cabelo de acordo com um tema, adicionando itens como navios de brinquedo, pedras preciosas ou vasos que continham flores vivas. Um especialista em moda chegou a criar um modelo de penteado que tinha mais de um metro de altura e incluía uma gaiola dourada com um pássaro vivo lá dentro, a cantar!

Esta moda dos penteados femininos extravagantes também chegou a Portugal, como se pode verificar a partir da leitura do poema satírico de Nicolau Tolentino, O colchão dentro do toucado:

 

Chaves na mão, melena desgrenhada,
Batendo o pé na casa, a mãe ordena,
Que o furtado colchão, fofo e de penas,
A filha o ponha ali, ou a criada.

A filha, moça esbelta, e aperaltada,
Lhe diz co’a doce voz, que o ar serena:
“Sumiu-se lhe um colchão, é forte pena;
Olhe não fique a casa arruinada:”

“Tu respondes assim? Tu zombas disto?
Tu cuidas que por ter pai embarcado,
Já a mãe não tem mãos?” E dizendo isto,

Arremete-lhe à cara e ao penteado;
Eis senão quando (caso nunca visto!)
Sai-lhe o colchão de dentro do toucado.

Nicolau Tolentino (1740-1811)


sexta-feira, 24 de junho de 2022

Escritores que leem o mar: Mário Cláudio

 

















A propósito da Conferência dos Oceanos, o PÚBLICO convidou quatro escritores a lerem um excerto, que gostassem, de um livro sobre o mar. De Norte a Sul do país, Afonso Cruz, Mário Cláudio, Djaimilia Pereira de Almeida e Lídia Jorge aceitaram o nosso desafio.

Mário Cláudio​ escolheu a Praia da Aguda, em Vila Nova de Gaia, para ler um excerto do seu livro Peregrinação de Barnabé das Índias.

A Conferência dos Oceanos das Nações Unidas, que decorre em Lisboa entre 27 de Junho a 1 de Julho, pretende impulsionar a comunidade internacional a adotar soluções para a gestão sustentável do oceano, incluindo o combate à acidificação da água, poluição, pesca ilegal e perda de habitats e biodiversidade. Esta conferência da ONU, que a pandemia de covid-19 adiou de 2020 para este ano, é co-organizada por Portugal e pelo Quénia.

A ONU fixou dez metas a alcançar entre 2020 e 2030 no âmbito do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 14, sobre proteção da vida marinha, como a prevenção e redução da poluição e da acidificação, a proteção dos ecossistemas, a regulamentação da pesca e o aumento do conhecimento científico. As Nações Unidas consideram a conferência de Lisboa como uma oportunidade para um apelo à ação para reverter o declínio na saúde dos oceanos.

Público




quinta-feira, 23 de junho de 2022

Booktrailer | O triunfo dos porcos, de George Orwell

 






Continuamos a divulgar os booktrailers produzidos pelos alunos do 11º F, na disciplina de Português, no âmbito do projeto 10 Minutos a Ler.

Este é o booktrailer do Daniel Pereira, que optou por ler O triunfo dos porcos, de George Orwell.


Escritores que leem o mar: Djaimilia Pereira de Almeida

 





















A propósito da Conferência dos Oceanos, o PÚBLICO convidou quatro escritores a lerem um excerto, que gostassem, de um livro sobre o mar. De Norte a Sul do país, Afonso Cruz, Mário Cláudio, Djaimilia Pereira de Almeida e Lídia Jorge aceitaram o nosso desafio.

Djaimilia Pereira de Almeida​ escolheu a Doca dos Pescadores, em Setúbal, para ler um excerto do livro Os Pescadores, de Raul Brandão.

A Conferência dos Oceanos das Nações Unidas, que decorre em Lisboa entre 27 de Junho a 1 de Julho, pretende impulsionar a comunidade internacional a adotar soluções para a gestão sustentável do oceano, incluindo o combate à acidificação da água, poluição, pesca ilegal e perda de habitats e biodiversidade. Esta conferência da ONU, que a pandemia de covid-19 adiou de 2020 para este ano, é co-organizada por Portugal e pelo Quénia.

A ONU fixou dez metas a alcançar entre 2020 e 2030 no âmbito do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 14, sobre proteção da vida marinha, como a prevenção e redução da poluição e da acidificação, a proteção dos ecossistemas, a regulamentação da pesca e o aumento do conhecimento científico. As Nações Unidas consideram a conferência de Lisboa como uma oportunidade para um apelo à ação para reverter o declínio na saúde dos oceanos.

Público


Viajar com Camilo | Porto - Cadeia da Relação

 



"Faleceu‑me ânimo para entrar no teatro de Vila Real, onde mancebos de primoroso engenho, que os há ali para tudo, representavam regularmente. Aquele teatro era de minha família: nunca teria nascido, se eu não tivesse escrito um mau drama, que dediquei a meu tio. Mas que ambiente de mil aromas eu respirava naqueles meus vinte anos! Como as paixões de então me desabrochavam lindas e imaculadas! O que eu via, e esperava dos homens e de Deus!

Na primeira noite de récita, recordo‑me eu que fiquei ouvindo de minha tia a história de meu avô assassinado, de meu tio morto no degredo, de meu pai levado pela demência a uma congestão cerebral. 

Que delicioso recordar, quando eu me estava vigorizando para entrar nos cárceres da Relação do Porto, e estender os pulsos às gramalheiras d’ ouro, que os meus inimigos batiam na bigorna da moral pública!

Saí dali, sem dizer à família o meu destino. Espavori algum raro amigo a quem o revelei. Era propósito que nem a perspetiva do patíbulo demoveria.

Cheguei ao Porto em meado de setembro de 1860. Custódio Vieira, Marcelino de Matos e Júlio Xavier sustiveram quinze dias a pressão dos esbirros, porque me viram com mais alma que corpo para encarar na morte da liberdade, e na outra que desprende a alma dos podres vínculos da matéria.

Terminado o prazo das tréguas, que os aguazis me concederam magnanimamente, fui ao tribunal do crime, pedi um mandado de prisão, mediante o qual obtive do carcereiro licença de recolher‑me a uma das masmorras altas da Relação.

Era o primeiro dia de outubro de 1860. O céu estava azul como nos meses estivos. O sol parecia vestido das suas galas de abril. A bafagem do sul vinha ainda aquecida das últimas lufadas do outono. Que formoso céu, e sol; que suave respirar eu sentia, quando apeei da carruagem à porta da cadeia!"

Camilo Castelo Branco. Memórias do Cárcere. Lisboa: IN-CM, 2021, pp. 41-42






quarta-feira, 22 de junho de 2022

Escritores que leem o mar: Afonso Cruz

 

#SalvarOsOceanos









🔊


A propósito da Conferência dos Oceanos, o PÚBLICO convidou quatro escritores a lerem um excerto, que gostassem, de um livro sobre o mar. Afonso Cruz foi o primeiro escritor a aceitar o desafio do PÚBLICO. Na Praia Azul, em Leça da Palmeira, leu um excerto do seu livro Enciclopédia da Estória Universal: Mar (editora Alfaguara Portugal). 


A Conferência dos Oceanos das Nações Unidas, que decorre em Lisboa entre 27 de Junho a 1 de Julho, pretende impulsionar a comunidade internacional a adotar soluções para a gestão sustentável do oceano, incluindo o combate à acidificação da água, poluição, pesca ilegal e perda de habitats e biodiversidade. Esta conferência da ONU, que a pandemia de covid-19 adiou de 2020 para este ano, é co-organizada por Portugal e pelo Quénia. 

A ONU fixou dez metas a alcançar entre 2020 e 2030 no âmbito do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 14, sobre proteção da vida marinha, como a prevenção e redução da poluição e da acidificação, a proteção dos ecossistemas, a regulamentação da pesca e o aumento do conhecimento científico. As Nações Unidas consideram a conferência de Lisboa como uma oportunidade para um apelo à ação para reverter o declínio na saúde dos oceanos.

Público

terça-feira, 21 de junho de 2022

Quando o solo pede ajuda

 

Dia mundial de combate à desertificação e à seca






Em Faux-Cap, Madagascar, as dunas e os ventos fortes ameaçam as plantações. Com armas mais verdes, os seus habitantes trabalharam durante 120 dias para garantir 75 hectares de dunas. Uma vez resolvido, o risco acabou.
FOTO: PNUD Madagascar








A desertificação é a degradação da terra em áreas áridas, semi-áridas e sub-húmidas secas. É causada principalmente por atividades humanas e variações climáticas. A desertificação não se refere à expansão dos desertos existentes. Isso ocorre porque os ecossistemas de terras secas, que cobrem mais de um terço da área terrestre do mundo, são extremamente vulneráveis ​​à superexploração e uso inadequado da terra. Pobreza, instabilidade política, desmatamento, pastoreio excessivo e más práticas de irrigação podem minar a produtividade da terra.

O Dia Mundial de Combate à Desertificação e à Seca é observado todos os anos para promover a consciencialização pública sobre os esforços internacionais para combater a desertificação. O dia é um momento único para lembrar a todos que a neutralidade da degradação da terra é alcançável através da resolução de problemas, forte envolvimento da comunidade e cooperação em todos os níveis.

O assunto requer ainda mais atenção agora. Quando a terra se degrada e deixa de ser produtiva, os espaços naturais deterioram-se e transformam-se. Assim, as emissões de gases de efeito estufa aumentam e a biodiversidade diminui. Isso também significa que há menos espaços selvagens para amortecer zoonoses, como o COVID-19, e nos proteger de eventos climáticos extremos, como secas, inundações e tempestades de areia e poeira.



DESERTIFICAÇÃO

Sabia que...

  • A perda de terras aráveis ​​é estimada em 30 a 35 vezes a taxa histórica.
  • Devido à seca e desertificação, 12 milhões de hectares são perdidos a cada ano (23 hectares por minuto). Num ano, 20 milhões de toneladas de grãos poderiam ter sido cultivadas.
  • 74 por cento dos pobres são diretamente afetados pela degradação da terra em todo o mundo.
  • A perda e a deterioração do habitat, em grande parte causadas por ações humanas, reduziram a integridade global do habitat terrestre em 30% em relação a uma linha de base não afetada.

Fonte: Objetivo de desenvolvimento sustentável 15, ONU


segunda-feira, 20 de junho de 2022

Booktrailer | Como se transforma o ar em pão

 




Os alunos do 11º F produziram booktrailers no âmbito do projeto Escola a ler / 10 Minutos a Ler. O João Soares leu Como se transforma o ar em pão, do cientista Nuno Maulide, e este é o seu projeto. 


Dia Mundial do Refugiado

 




















Cartoon de @Royaards



Todos os anos, em 20 de junho, o mundo celebra o Dia Mundial do Refugiado. Neste ano, o foco será o direito de procurar proteção.

Cada pessoa neste planeta tem o direito de procurar proteção, se é forçada a fugir – seja quem for, seja de onde for e seja quando for.


O que significa procurar proteção?




quinta-feira, 16 de junho de 2022

Os contos e as lendas no imaginário popular

 




















Como previsto, Alexandre Parafita esteve na Camilo, no passado dia 14 de junho. 

Uma breve consulta do seu currículo rapidamente nos permite concluir que a sua área de atuação é a produção literária infantojuvenil e a literatura oral tradicional: é escritor (tem uma vasta produção ficcional e ensaística), etnólogo do Centro de Estudos de Letras da UTAD, investigador integrado do Centro de Tradições Populares Portuguesas da Universidade de Lisboa, nas áreas da mitologia e da literatura oral tradicional, vice-presidente do Observatório da Literatura InfantoJuvenil (OBLIJ) da UTAD, e elemento da equipa de investigação incumbida de realizar o "Arquivo e Catálogo do Corpus Lendário Português", no âmbito da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT). A sua obra faz parte do Plano Nacional de Leitura português e brasileiro. 

Os alunos de 7º ano assistiram à sessão Os contos e as lendas no imaginário popular” com muito interesse (e orgulho por estarem perante um ex-aluno e ex-professor da Escola com projeção nacional e internacional). 

A distinção entre conto e lenda tradicional, o reconto de lendas típicas da região de Vila Real, a presença de elementos fantásticos no imaginário popular, a origem de topónimos estranhos e o trabalho do etnólogo, foram alguns dos tópicos abordados pelo escritor que prenderam a atenção da jovem assistência e suscitaram a curiosidade e a indagação.

Esta atividade, inserida nos Projetos "Conto 1 Conto" (apoiado pelo PNL) e Cientificamente Provável, foi desenvolvida em trabalho articulado entre a Biblioteca Escolar e os professores do Grupo Setorial de Português - 7º ano.


'Os segredos da escola' | Entrega de prémios e certificados
















Biblioteca. Dia 14 de junho. 15:00

Cerimónia de entrega dos prémios e certificados aos alunos do 10ºE, participantes na 1ª edição do concurso 'Os segredos da escola'.

Parabéns a todos pelos excelentes trabalhos apresentados!

 


Marta e Rita vencem o 'Jornalistas em Rede - Entrevista'













Este ano letivo, o Público na Escola, em parceria com a Rede de Bibliotecas Escolares, lançou o projeto Jornalistas em Rede, propondo aos alunos do 9º ao 12º ano a produção de uma reportagem e / ou de uma entrevista. 

Os alunos da Camilo do 11º F responderam ao repto e participaram na modalidade "Entrevista", realizada no âmbito da disciplina de Português.

A Rede de Bibliotecas Escolares divulgou hoje o prémio (nacional) atribuído às alunas Marta Gonçalves e Rita Abreu, tendo reproduzido a entrevista na sua plataforma. 




O prémio atribuído à melhor entrevista é a publicação da mesma nas plataformas digitais e redes sociais do PÚBLICO na Escola e da RBE e um voucher, por aluno, no valor de 150 euros para a aquisição de livros/ equipamentos. Será, também, oferecida a assinatura digital anual do PÚBLICO ou uma coleção de livros à biblioteca da escola.

Parabéns às vencedoras!



'Os segredos da escola" | Trabalhos a concurso

 


Divulgação dos 38 trabalhos apresentados ao concurso. 






segunda-feira, 13 de junho de 2022

Populismo: O povo é ignorante ou está farto de mentiras?

 















Portugal vive há mais tempo em democracia do que em ditadura. 
Porque é que os eleitores continuam a ser tão sensíveis ao discurso populista? Há populismo em Portugal? perguntas para o debate com o autor da obra “Populismo – Lá fora e cá dentro”, José Pedro Zúquete, o político Sérgio Sousa Pinto e o historiador José Miguel Sardica.

Veja o vídeo do debate aqui.










Lembrar Fernando Pessoa

 

Faz hoje 134 anos que nasceu Fernando Pessoa



























domingo, 12 de junho de 2022

Uma laranja para Alberto Caeiro

 

Técnicas de Expressão Artística | 2022



Uma laranja para Alberto Caeiro

Venho simplesmente dizer
que uma laranja é uma laranja
e comove saber que não é ave


se o fosse não seriam ambas
uma só coisa volátil e doce
de que a ave é o impulso de partir
e a laranja o instinto de ficar.


Não sei de nada mais eterno
do que haver sempre uma só coisa
e ela ser muitas e diferentes
e cada coisa ternamente ocupar
só o espaço que pode rodeada
pelo espaço que a pode rodear.


Sei que depois de laranja
a laranja poderá ser até
mesmo laranja se necessária
mas cada vez que o for
sê-lo-á rigorosamente
como se de laranja fosse
a exata fome inadiável.


De ser laranja gomo a gomo
o íntimo pomo como se enternece
e não cabe em si de amor
embriagada de saber
que a sua morte nos será doce.


Natália Correia, in "O Vinho e a Lira", O Diário de Cynthia
Poesia Completa

Desmarcar sem culpa

 



CANCELA-SE POR MENSAGEM, ESTÁ-SE PRESO A GRUPOS DE WHATSAPP, CHEGA-SE MUITO ATRASADO. O SOCIAL PÓS-COVID

A

guerra na Ucrânia está a ser desagradável em muitos sentidos, mas toca todos os níveis da sociedade portuguesa — mesmo geograficamente estando no extremo do continente europeu onde se sofrem os verdadeiros horrores do conflito. Dou um exemplo. Gostava de ter visto o filme da covid chegar ao fim. Isto assim não teve graça. Continuo a receber mensagens de negacionistas que vão buscar uma declaração do Bill Gates ou uns dados sobre a ineficácia de máscaras ou das vacinas e limito-me a responder. “A guerra...” Tipo, que interessa uma frase descontextualizada quando há um conflito que pode descambar na extinção da Humanidade por armas termonucleares? É uma sacanice? Sim. Resolve? Sim. Mas sofro o mesmo mal. Quero discutir as alterações comportamentais ocorridos no regresso à (falsa) normalidade e ouço uma voz imaginária: sério? E a guerra?

Arrisco. Um dos problemas do conflito na Ucrânia para nós que estamos longe dela é que veio somente trazer mais stresse a dois anos de stresse. Quando agora se deveria estar a vivenciar um momento de descompressão, juntou-se mais pressão, que surge através de imagens na TV ou da inflação ou dos preços da gasolina. E as pessoas ou acumulam e ficam bombas-relógio ou pura e simplesmente desligam e ficam-se a marimbar para tudo. Talvez demais. O “Wall Street Journal” garantia há dias que estava a acontecer algo na sociedade cosmopolita das cidades que era desconhecido ou inaceitável até então: os cancelamentos de última hora. As pessoas pura e simplesmente tinham perdido o sentido de “culpa” ao mandar um SMS em cima da hora a anunciar que já não iriam comparecer. “Você não sabe quais os planos são até realmente estar lá.” Ora, a perda dessa culpa social era filha da covid. Durante dois anos as pessoas tinham-se habituado a faltar a compromissos, a não poder ter planos completamente fechados porque podiam desmoronar-se no último minuto, e efetivamente a ter planos que eram desmarcados em cima da hora. Houve uma dessacralização do “vamos ter mesmo de ir senão o que é que eles vão pensar” e substituiu-se pelo “manda aí um SMS a dizer que não podemos ir”. Este laissez-faire tem tido fortes consequências na indústria da restauração (desmarcações em cima da hora com prejuízos), de casamentos e nas amizades (que levam ali uma martelada de cinzel, pode ficar uma picadinha ou pode rachar). Este é um problema: é que normalmente era o imperativo de não poder desmarcar que as obrigava a ir independentemente da disposição e que as colocava lá. Depois, afinal, até podiam divertir-se. Mas sem a penalização social, a estrutura desmembra-se.


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E há problemas que têm de ser urgentemente resolvidos. Os grupos dos grupos do WhatsApp. Se calha a ser raptado para um seja de uma festa, ou casamento, evento ou viagem de bicicleta aos Alpes é o inferno. Não há hipóteses de recusar ser membro desse grupo (só irei anunciar via SMS que não vou na véspera). Há a probabilidade de não conhecer algumas das pessoas do grupo. E, acima de tudo, não posso sair — e normalmente são grupos muito produtivos em que duas ou três pessoas criam às dez mensagens numa hora. Só posso retirar as notificações. Sair do grupo iria colocar no feed a marca horrível: “Fulano deixou o grupo.” Se fosse à festa seria ainda mais ostracizado. O “deixar o grupo” tem várias interpretações, mas a alcateia reage sempre como se tivesse sido o elemento mais fraco e triste a autoexpurgar-se, não o mais cagão. E depois é incompreensível porque é que os senhores do WhatsApp não retiram aquilo: querem que fiquemos presos a grupos a que não queremos pertencer. O WhatsApp teve a decência de criar um modo de apagar mensagens que por vezes nos arrependemos ou enviamos enganadas para grupos/pessoas erradas (algumas delas, enfim, visando os próprios mas que a nossa mente, na sua infinita perversidade autossabotadora, faz com que enviemos para o alvo) mas deixa lá a bufaria: “Fulano apagou a mensagem.” Para quê? Não era para ajudar? Assim ainda cria mais curiosidade. Não, o WhatsApp não facilitou as festas. Criou essa ilusão para quem organiza. Que a determinado ponto tem aquilo controlado e todos vão aparecer.

Finalmente há o chegar à festa. Há muitas escolas de pensamento e fórmulas matemáticas sobre a hora a que se deve chegar. O que vem no convite é meramente uma abstração a partir da qual se deve construir o atraso. O objetivo é chegar quando a festa está a atingir o seu momentum. Mas para isso é necessário que já lá esteja um número suficiente de “outros”. É o conceito de fashionable late. Se todos pensarem nestes termos, a festa das 20 só arranca lá para meia-noite. A doutrina avança para que numa coisa tipo jantar se deva cumprir a regra dos 38 minutos, ainda há dias fui informado num artigo. Os 30 minutos é cedo e 45 é tarde. E há o risco de os verdadeiros fashionable porem mais 38 minutos sobre os 38 dos que querem ser... isto é complexo. Embora se estiver ainda na vida a tentar descobrir qual a hora para chegar a uma festa possa ser como eu: já desmarcou e faltou tantas vezes mesmo antes da covid que já não é convidado para nenhuma. E não ia porque continuava a ser pontual e chegava às 20 quando os anfitriões ainda nem estavam vestidos. Era destas coisas que devíamos estar a falar. Mas Putin estragou a festa como um sonso bêbado às duas da manhã. Há sempre um.

Luís Pedro Nunes, "Mito Lógico - Desmarcar sem culpa", in Expresso Semanário#2589, de 9 de junho de 2022