Já somos todos ciborgues e em breve teremos implantes no cérebro
Musk quer testar chips neurais em humanos em 2020. Zuckerberg prefere ler o pensamento dos utilizadores
JOÃO MIGUEL SALVADOR
N
ós construímos as ferramentas e as ferramentas constroem-nos”, considera o futurista venezuelano Jason Silva desde que se dedicou a pensar o amanhã. Foi assim com o fogo, com a roda e será assim quando cada humano tiver dentro de si — como se dele fizesse parte — um chip neural que lhe permita desenvolver capacidades superiores às que tem no presente. “Temos de perceber que não somos apenas aquilo que está por baixo da nossa pele, uma vez que as nossas ferramentas são a nossa segunda pele”, considerou em entrevista ao Expresso quando apresentava o seu projeto “Origens: A Jornada da Humanidade”. E as suas palavras voltam a ecoar agora, numa semana em que surgiram novos desenvolvimentos sobre a integração de formas de inteligência artificial em completa sintonia com a inteligência humana que nos caracteriza.
Estamos num processo de evolução constante, ao qual não é estranho o meio em que nos inserimos, e os desenvolvimentos tecnológicos mais recentes estão a fazer acelerar o processo evolutivo destes ciborgues que têm em cada smartphone uma extensão do seu ser. E há seres que não podem ser ignorados quando o que está em causa é a exploração da mente para lá do que alguma vez foi estudada. À semelhança com o que está a fazer com o espaço e possível colonização de Marte, Elon Musk tem um fascínio especial pela mente humana e os 100 milhões de dólares (cerca de 90 milhões de euros) que já investiu na sua empresa Neurolink fazem desta uma aposta séria.
O objetivo a curto prazo, cerca de um ano, é inserir o primeiro implante num cérebro humano e os preparativos estão já a avançar. O pedido para a intervenção já foi submetido na Food and Drug Administration (a reguladora norte-americana para a alimentação e saúde) e segue-se a um teste já efetuado num primata. “Um macaco conseguiu controlar um computador com o seu cérebro, para vossa informação”, informou Elon Musk na semana passada. E esse é o primeiro passo para atingir um dos objetivos do multimilionário.
É público que o visionário quer entrar o quanto antes no mundo da medicina regenerativa e ajudar doentes com patologias do foro neurológico, mas a aspiração é ainda maior. Para isso é necessária calma, uma vez que elevar a capacidade de processamento humana, criando uma espécie de super-humanos, demorará o seu tempo e traz novos desafios bioéticos. Numa altura em que a computação quântica continuará a afinar-se e a ganhar força, será a única possibilidade de colocar os humanos ao nível das máquinas, sem que se perceba ainda quais serão as alterações que algo desta magnitude pode ter na própria composição da sociedade.
O maior alerta é do próprio Musk, que frisa os perigos da “simbiose” entre o ser humano e a inteligência artificial, ao mesmo tempo que continua a apostar na investigação deste tipo de inovações. Para ele, um desenvolvimento descontrolado pode até levar ao fim da Humanidade, pelo que deixa uma garantia do produto que já apresentou. Os chips da Neurolink “não controlarão os cérebros das pessoas”.
Enquanto esse tempo da simbiose não chega, há outras empresas poderosas a apostar na interação entre o cérebro e os computadores. É o caso da rede social Facebook, controlada por Mark Zuckerberg, que está a trabalhar num projeto de BCI (brain-computer interface, no original) que pretende dar aos utilizadores a possibilidade de navegarem por mundos alternativos — através de realidade virtual e realidade aumentada — apenas com a sua mente. Mas aqui a abordagem é diferente. Para Zuckerberg, e ao contrário de Musk, o futuro não está nos implantes. “Se estás mesmo a tentar construir coisas que toda a gente vai utilizar, terás de te focar em coisas não invasivas”, considerou o empreendedor em Harvard. O problema é que a sua empresa está a tentar desenvolver uma máquina para ler os pensamentos dos utilizadores.
Expresso, 27 de abril de 2019
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