segunda-feira, 7 de setembro de 2020

Camilo Pessanha

 


Foto do Camilo Pessanha




Quem poluiu, quem rasgou os meus lençóis de linho,
Onde esperei morrer - meus tão castos lençóis?
Do meu jardim exíguo os altos girassóis
Quem foi que os arrancou e lançou no caminho?

Quem quebrou (que furor cruel e simiesco!)
A mesa de eu cear - tábua tosca de pinho?
E me espalhou a lenha? E me entornou o vinho?
- Da minha vinha o vinho acidulado e fresco...

Ó minha pobre mãe!... Nem te ergas mais da cova.
Olha a noite, olha o vento. Em ruína a casa nova...
Dos meus ossos o lume a extinguir-se breve.

Não venhas mais ao lar. Não vagabundes mais,
Alma da minha mãe... Não andes mais à neve,
De noite a mendigar às portas dos casais.



Camilo Pessanha nasceu a 7 de setembro de 1867, em Coimbra. Admirado por importantes escritores portugueses, como Fernando Pessoa e António Nobre, é, enquanto poeta, considerado o expoente máximo do simbolismo em língua portuguesa, tendo sido um precursor do movimento modernista e uma grande referência para a Geração de Orpheu.  


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