sexta-feira, 13 de setembro de 2019

A conquista de Ceuta




RTP Ensina



A abertura do caminho da expansão que fez de Portugal “o primeiro império global da História”








A aventura africana de D. João I foi a primeira incursão de Portugal além-fronteiras. Uma expedição como nunca antes se fizera, meticulosamente planeada e mantida em segredo durante anos, apoiada pelos filhos mais velhos do rei e pelos nobres que lutaram a seu lado em Aljubarrota. Dos preparativos ao dia de combate, a conquista de Ceuta tem história contada com pormenor de reportagem na crónica de Gomes Eanes de Zurara.


O risco em avançar para um destino tão longínquo no norte de África existia e exigia gastos consideráveis, mas D. João I estava determinado em iniciar um novo capítulo na história do reino que, desde a fundação, sobrevivia com uma independência frágil, apoiada numa economia deficitária. Queria o rei português impressionar a Europa com uma expedição de grande envergadura, fazer uma demonstração de força para dissuadir futuras incursões castelhanas e colocar o país numa nova estratégia de afirmação política.

O plano de atacar Ceuta agrada a todos e serve as intenções da casa de Avis, a precisar de consolidar o seu nome tanto no plano interno como externo. Os filhos mais velhos do rei – D. Henrique, D. Pedro e D. Duarte – ambicionam ser armados cavaleiros numa luta a sério para provar que estão à altura da geração de Aljubarrota. Os nobres guerreiros e o condestável Nuno Álvares Pereira, os que fizeram esta “batalha impossível de vencer“, como a caracteriza o historiador João Paulo Oliveira e Costa, cansados do período de tréguas com Castela, entusiasmam-se com o projeto e com a oportunidade de tirarem para si proveitos económicos.

Sabia-se com toda a certeza que aquela praça portuária tinha cereais mas também ouro, sedas e especiarias. Conquistá-la significava controlar um importante entreposto comercial, mas também ficar com um porto naval estratégicos no estreito de Gibraltar, à entrada do mediterrâneo e, não menos importante, continuar a derramar sangue dos inimigos da cristandade.

Os preparativos são postos em marcha e, durante anos, mantidos no maior dos segredos. D. João I traça um plano meticuloso, consciente que tem pela frente um desafio difícil. A aventura africana do monarca ganha forma grandiosa e, como nunca antes se vira, uma armada de naus, fustas e galés, com milhares de homens lança-se à conquista de uma cidade “muito azada para se tomar”. A 21 de agosto de 1415 a frota surpreende os mouros e, após uma batalha que durou das seis da manhã às sete e meia da tarde, Ceuta é facilmente controlada.

O que nos chega deste dia que abriu caminho à expansão e fez de Portugal “o primeiro império global da História” está relatado nas páginas da crónica da Tomada de Ceuta, de Gomes Eanes de Zurara, escrita trinta e cinco anos depois da arriscada aventura. O cronista do rei e guardador-mor da Torre do Tombo, com base nas memórias da altura e do que lhe contara em primeira mão o Infante D. Henrique, faz uma “reportagem exaustiva dos acontecimentos”, sublinha João Paulo Oliveira e Costa neste excerto do programa Visita Guiada. O que escreveu Zurara é uma lição de história com mais de seiscentos anos.



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