quarta-feira, 21 de março de 2018

Arte poética




Escrever um poema 
é como apanhar um peixe 
com as mãos 
nunca pesquei assim um peixe 
mas posso falar assim 
sei que nem tudo o que vem às mãos 
é peixe 
o peixe debate-se 
tenta escapar-se 
escapa-se 
eu persisto 
luto corpo a corpo 
com o peixe 
ou morremos os dois 
ou nos salvamos os dois 
tenho de estar atenta 
tenho medo de não chegar ao fim 
é uma questão de vida ou de morte 
quando chego ao fim 
descubro que precisei de apanhar o peixe 
para me livrar do peixe 
livro-me do peixe com o alívio 
que não sei dizer 

Adília Lopes, in Um Jogo Bastante Perigoso

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