Maria Susarenko, artista contemporânea da República do Cazaquistão,
conhecida pelas suas paisagens urbanas e ilustrações semi-abstratas.
Um viciado em ópio perde-se na selva; homens fazem guerra a um império de mutantes; um jovem e belo pirata confronta-se com a sua execução; e a população mundial está infetada por uma epidemia radioativa. Estas histórias ligam-se através de uma narrativa maior de mutilação e caos. Cidades da Noite Vermelha, publicado em 1981, marca uma nova etapa na escrita de William S. Burroughs, que desenvolve aqui a sua poética plástica, recorrendo à incorporação de variadíssimos níveis de linguagem e diferentes meios de expressão artística, como a pintura ou a música.
A ação desenvolve-se em dois planos, fazendo-nos navegar entre o século XVIII, em que a atuação de um grupo de piratas se rege pelos «Artigos» do capitão James Mission (que antecederam em cem anos os princípios da Revolução Francesa), e o século XX, em que um detetive investiga o desaparecimento e a morte ritual de um rapaz.
«Podia ser isto: um "travelling" ininterrupto de fachadas iguais, janelas em quadrícula miúda e cimento vivo onde a tinta cedeu ao tempo, o colorido sujo, disperso, da roupa estendida, os grafites em risco descontínuo, o ceú em recorte oblíquo, a incongruência áspera do sol.
[...]
Talvez sejamos todos suburbanos. Mas uns, como no ditado orwelliano, são mais que os outros. É desses que trata este livro. É o ponto de vista deles - esse ponto de vista que por sistema o olhar sobre a periferia ilide e rasura, porque impróprio no poema - que se procura. Porque eles vivem.»
Cidades Sem Nome - Crónica da Condição Suburbana, editado pela Tinta da China, é o resultado de um trabalho de investigação jornalística realizado por Fernanda Câncio a convite da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo, entre 2003 e 2004.
A cidade encontra-se numa encruzilhada. É palco, cenário e actor de grande parte dos nossos actuais dilemas e possibilidades. A maioria das cidades são hoje meta ou mesmo hípercidades, estendidas as suas influências por vastos territórios relacionais e pelas mais variadas escalas de quotidianos, de sofrimentos e de expressões cívicas. Em formas muito mais complexas - mas também muito mais fascinantes - de as compreender e governar; muito para além de velhas muralhas ou divisões administrativas; de estruturas políticas e socioprofissionais corporativas; de lógicas de governação baseadas em simples determinismos, sectorialismos ou relações directas de causa-efeito. Por entre os vieses da democracia e as dúvidas do progresso, novas e magníficas oportunidades - de desenvolvimento, de justiça e de inclusão, de qualidade de vida, de realização cívica - se irão formar e expandir. Como as apoiar e consolidar? Com inteligência, estratégia e compromisso. Defendendo princípios sólidos, como o direito à cidade, ao habitat, à mobilidade; à inclusão social, ao consumo sustentável, ao empreendedorismo local; à participação. E a uma cidadania activa, responsável e atenta. Inteligência global, decerto, mas muita inteligência local. Inteligência urbana, portanto. Como escreveu Jorge Luís Borges, «a cidade impõe-nos o terrível dever da esperança». O livro A cidade na encruzilhada é editado pela Afrontamento.
«"As Cidades Invisíveis" apresenta-se como uma série de relatos de viagem que Marco Polo faz a Kublai Kan, imperador dos tártaros. [...] A este imperador melancólico, que percebeu que o seu poder ilimitado conta pouco num mundo que caminha em direção à ruína, um viajante visionário fala de cidades impossíveis, por exemplo, uma cidade microscópica que se expande, se expande até que termina formada por muitas cidades concêntricas em expansão, uma cidade teia de aranha suspensa sobre um abismo, ou uma cidade bidimensional como Moriana. [...] Creio que o livro não evoca apenas uma ideia atemporal de cidade, mas que desenvolve, ora implícita ora explicitamente, uma discussão sobre a cidade moderna. [...] Penso ter escrito algo como um último poema de amor às cidades, quando é cada vez mais difícil vivê-las como cidades.». Livro editado pela Dom Quixote.
Para uma Cartografia Imaginária pretende interpretar todos os lugares que o leitor/a vê ao viajar pelas Cidades Invisíveis. O caminho traçado por Calvino desvendanos subtis relações entre personagens sem nome, que nos contam como vivem, onde vivem ou onde poderiam viver. Ao deixar em aberto quais são as cidades descritas, o autor conduz o nosso imaginário por diversos cenários e épocas sem nunca ser possível identificar, com uma certeza inequívoca, a cidade que o autor retrata. Esbate-se a cidade real e a cidade utópica para nascer a cidade invisível.
A desfragmentação que se apresenta nesta dissertação resulta de uma intenção de refletir sobre a cidade. Neste sentido, a nova sequência narrativa que aqui propomos corresponde a uma análise realizada sob o ponto de vista arquitetónico e urbanístico, mas abriu espaço a que outras áreas que se consideraram pertinentes se inscrevessem e diluíssem nesta análise. As cidades foram reagrupadas e analisadas sequencialmente, segundo o tema em que se inserem, e foram realizados vários quadros onde se procuraram conexões variáveis, consoante os pressupostos que interessava analisar. À semelhança do que acontece num tabuleiro de xadrez, tema recorrente no texto, as cidades (como peças) foram deslocadas, propondo novas ligações.
Foi possível estabelecer uma conexão entre as várias narrativas de As Cidades Invisíveis; aliás, a sua leitura individual torna-as incompletas, sendo apenas na sua continuidade que se complementam. A estrutura dúplice presente na obra é uma das características que estimula a criação de esquemas abstratos, onde se estabelecem ligações que impulsionam a especulação sobre diversos temas, tendo sempre como pretexto uma vontade de pensar a cidade.
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