quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

Diálogos | Saramago & Eduardo Lourenço

 








3 de novembro de 1997

Lisboa. Hotel Altis. Casa cheia, apesar da chuva. Apresentação de Todos os Nomes. Muito belas e inteligentes (novidade seria o contrário) as palavras ditas por Eduardo Lourenço. Uma frase sua que vai dar (dará?) discussão: «Todos os Nomes é a história de amor mais intensa da literatura portuguesa de todos os tempos.» É evidente que me agrada que uma pessoa com as responsabilidades de Lourenço tenha dito isto de um livro meu, mas adivinho que Camilo Castelo Branco, lá onde estiver, protestou indignado: «Então, e o Amor de Perdição?…» Talvez a diferença (menciono esta, não as outras…), esteja precisamente no teor, não na dimensão, de intensidade, que o nosso tempo afere de outra maneira e com outros instrumentos. Talvez. E tão-pouco vale a pena que me preocupe. O mais certo será cair a frase no esquecimento, e o próprio Eduardo Lourenço poderá confessar amanhã: «Realmente, exagerei um bocado…»

José Saramago, Último Caderno de Lanzarote




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