quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

Plágio | Propriedade e apropriação em Eça, Zola e outros...

 






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Introdução

Quando Machado de Assis, no comentário crítico que fez a O Primo Basílio e O Crime do Padre Amaro, acusou este último romance de ser uma simples imitação de La faute de l´abbé Mouret, iniciou um processo retórico de restrições nos códigos de leitura do romance criticado, cujas consequências, do nosso ponto de vista, dificilmente poderão ser alteradas. Entre estas, a mais evidente é a que leva a associar, quase sempre, a questão do plágio ao romance de Eça. Contudo, não se trata de uma acusação evidente de plágio, a que fez o mestre brasileiro.

O processo, como veremos melhor adiante, é insidioso e ambíguo. Ficam no ar, quando a questão do plágio é convocada, uma série de interrogações perturbantes. Comecemos por observar atentamente o enunciado mais diretamente comprometedor da crítica de Machado de Assis: “O próprio Crime do Padre Amaro é imitação do romance de Zola, La faute de l'abbé Mouret. Situação análoga, iguais tendências; diferença do meio; diferença do desenlace; idêntico estilo; algumas reminiscências como no capítulo da missa, e outras; enfim o mesmo título” (Machado de Assis, 1878 – numa crítica publicada no jornal carioca, O Cruzeiro). Como se observa, de imediato, a acusação surge numa espécie eufemismo, dentro de uma frase que parece surgir apenas como um pormenor complementar, na argumentação a propósito de outra coisa. Não é para reparar muito atentamente, é para ficar como uma sentença cuja veracidade nem se discute.


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