terça-feira, 25 de dezembro de 2018

Tolentino Mendonça : “Os presentes são artefactos para calar o vazio entre as pessoas"




                   



Foi em Angola que António Tolentino Mendonça ouviu as primeiras histórias. A avó analfabeta foi a sua ‘primeira biblioteca’, ao contar-lhe mundos de realismo mágico. Aos onze anos entrou no seminário do Funchal por um chamamento que não sabe explicar de onde veio. Aos 16 anos, teve o primeiro encontro poético com a palavra ao ler Herberto Helder (madeirense como ele). 

Padre, poeta e professor universitário, arquivista do Arquivo Secreto do Vaticano, foi distinguido com o Grande Prémio de Poesia Teixeira de Pascoaes pelo seu livro “A Noite Abre Meus Olhos”.

Uma conversa rica de histórias, reflexão e poesia para ouvir neste episódio do podcast “A Beleza das Pequenas Coisas”.


A Noite Abre Meus Olhos

Caminhei sempre para ti sobre o mar encrespado 
na constelação onde os tremoceiros estendem 
rondas de aço e charcos 
no seu extremo azulado 

Ferrugens cintilam no mundo, 
atravessei a corrente 
unicamente às escuras 
construí minha casa na duração 
de obscuras línguas de fogo, de lianas, de líquenes 

A aurora para a qual todos se voltam 
leva meu barco da porta entreaberta 

o amor é uma noite a que se chega só 

José Tolentino Mendonça, in A Estrada Branca




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