Como um romance do século XIX continua atual...
A redação daquela que viria a ser considerada a obra-prima de Eça de Queirós começou em 1880. Durante cerca de oito anos, com a genialidade que lhe é reconhecida, teceu uma intriga amorosa com personagens trágicas e cómicas, que ficaram para a posteridade.
Centrada no amor incestuoso de Carlos e Maria Eduarda, a obra de Eça de Queirós é também uma crónica da sociedade lisboeta do início do século XIX. A pequena burguesia, “refugiada num cosmopolitismo vazio”, a elite política, “oportunista e provinciana, fechada sobre a defesa dos seus próprios interesses”, o jornalista “de escândalos, da intriga e da calúnia”, são mundos amplificados em grandes personagens, esculpidas na finura do humor satírico queirosiano e que ficaram caricaturas de todos os tempos, como se Eça tivesse visionado o futuro do país que amava.
É essa atualidade que o historiador e musicólogo Rui Vieira Nery encontra e reencontra no clássico de Eça de Queirós e na sua desencantada galeria de personagens onde prefiguram o esgrouviado João da Ega, o mesquinho Dâmaso, o corrupto Palma Cavalão, o falhado Eusebiozinho, entre outras: “uma análise profunda do que é a identidade portuguesa de uma época contemporânea e com enorme paralelismo com a situação atual”, esclarece. É por isso que “Os Maias – Episódios da Vida Romântica” é o livro da sua vida.
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