BALADA DA NEVE
A Vicente Arnoso
Batem leve, levemente
Como quem chama por mim...
Será chuva? Será gente?
Gente não é certamente
E a chuva não bate assim...
É talvez a ventania;
Mas á pouco, á poucochinho,
Nem uma agulha bulia
Na quieta melancolia
Dos pinheiros do caminho...
Quem bate assim levemente
Com tão estranha leveza
Que mal se ouve, mal se sente?...
Não é chuva, nem é gente,
Nem é vento com certeza.
Fui ver. A neve caia
Do azul cinzento do céu
Branca e leve, branca e fria...
Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!
Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e quando passa
Os passos imprime e traça
Na brancura do caminho...
Fico olhando esses sinais
Da pobre gente que avança
E noto, por entre os mais,
Os traços miniaturais
Duns pezitos de criança...
E descalçados, doridos...
A neve deixa ainda vê-los
Primeiro bem definidos,
Depois em sulcos compridos,
Porque não podia erguê-los!...
Que quem já é pecador
Sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
Porque lhes dais tanta dor?!...
Porque padecem assim?!...
E uma infinita tristeza
Uma funda turbação
Entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na natureza...
E cai no meu coração.
MÃOS FRIAS CORAÇÃO QUENTE
Dez da manhã. Vento da
serra. Três graus negativos
Mãos frias, coração quente!
Quanta vez isto dizias
Com o teu ar sorridente,
Apertando-me as mãos frias...
Agora decerto o tenho
Num braseiro, num vulcão.
O frio é tanto, é tamanho
Que a pena cai-me da mão...
Queria dizer-te o que penso
E o que faço e premedito,
Mas posso lá ser extenso
Com este frio maldito!
Tu perdoas certamente,
Tu não te zangas, pois não?
Mãos frias, coração quente
Lá diz o velho rufião...
Dois poemas de Augusto Gil partilhados por alunos do secundário com os alunos do 3º Ciclo.
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