segunda-feira, 17 de março de 2025

Amor de Perdição | Ópera em três atos de João Arroyo

 

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Liebe und Verderben - Lyrisches Drama in 3 Akten Nach der Portugiesischen Novelle C. C. Branco's
Libretto: Francisco Braga. Musik von João Arroyo op.19. Mainz: Schott, 1909
Livro em exposição no átrio da escola
 

 

 

A 2 de Março de 1907, foi estreada no Teatro de S. Carlos a ópera Amor e Perdição, com libreto escrito em italiano por Francisco Bernardo Braga e traduzido para alemão pelo célebre crítico do Berliner Morgenpost Ludwig Hartmann. Na Alemanha, foi representada em Hamburgo, em 1910.
 
Amor de perdição - Drama lírico é uma ópera em três atos, cujo libreto de Francisco Bernardo é baseado no romance homónimo de Camilo de Castelo Branco, escrito em 1861 e considerado como uma obra-prima do romantismo em Portugal. A versão portuguesa do libreto é da responsabilidade de Maria João Braga Santos, com música de João Arroyo.

Em Portugal, a estreia desta ópera foi um verdadeiro acontecimento nacional, e um dos maiores, se não o maior, êxito de toda a história do teatro, noticiado em todos os jornais de Lisboa e Porto, por vezes com o pormenor das reportagens radiofónicas em direto. A procura de bilhetes ultrapassou largamente a oferta e estiveram presentes, para além do Rei e da família real, o Governo, excetuando o Ministro da Guerra, por doença, todas as bancadas parlamentares, os tribunais, a Academia das Ciências de Lisboa, as universidades e uma forte delegação portuense encabeçada por Moreira de Sá que sucedera a José Francisco Arroyo nas lides musicais portuenses.

Esta apresentação foi dirigida pelo italiano Luigi Mancinelli, o chefe de orquestra que teve Toscanini como discípulo, e, no fim da qual, o compositor foi chamado ao palco vinte vezes; já nos ensaios gerais tivera casa cheia e a presença da rainha. Neste mês de março de 1907, a ópera foi apresentada ainda mais quatro vezes. Na sequência do segundo dia, um jornalista publicou, em Lisboa, no Liberal com transcrição no Jornal de Notícias, um texto em que refere a ideia italiana de que o sucesso em palco se afere mais pelas récitas posteriores do que pela de estreia.

Na temporada seguinte, a partir de 18 de fevereiro de 1908, foi dada a público seis vezes, ainda sob direção de Mancinelli, e o arquivista do teatro apontou que «foi melhor do que no ano anterior», quando algumas vozes diziam que o regente tinha dirigido com displicência devido a más-línguas respeitantes a espetáculos precedentes. A partir de 8 fevereiro de 1909 voltou a ser reposta e apresentada sete vezes até 8 de março, desta vez dirigida por Leopoldo Mugnone que incluiu o Prelúdio na ópera que dirigiu a seguir, a Salomé, de Richard Strauss, com conhecimento do compositor que estava relacionado com João e António Arroyo. As últimas apresentações do Amor e Perdição no teatro de S. Carlos deram-se a 22 e 26 de dezembro de 1947, dirigidas por Fernando Cabral.

A bem sucedida carreira internacional desta ópera começou na temporada regular de assinatura do teatro de ópera de Hamburgo em 25 de janeiro de 1910, e a apresentação foi repetida duas vezes, até 4 de fevereiro, alternando com o D. João, de Mozart.

Ao longo dos anos de 1909 e 1910, foram muitos os textos publicados na imprensa alemã, de Hamburgo a Dresden e de Berlim a Munique, no entanto há um cuja profundidade de reflexão crítica e filosófica ultrapassa todos os outros: foi escrito por Ferdinand Piohl na sequência da estreia e publicado no Hamburger Nachrichten. Nele, o autor começa por perguntar se existe ópera portuguesa ou até música portuguesa, comenta a seguir que dos portugueses sabe-se que são comerciantes mas não se sabe se praticam a música, embora sejam bons na literatura. Conclui, pormenorizando muito, que João Arroyo é, sob todos os pontos de vista, uma surpresa (so bedeutet die Musik João Arroyos unter allen Umständen eine Überraschung: die natürlische Entwicklungsstufe der Nummernoper überspringt die Musik Arroyos), que a modernidade trespassa toda a sua ópera e que o autor, mais do que como um banal músico dotado, deve ser apreciado como natureza musical ( Sicher aber muß Arroyo als eine durchaus musikalische Natur, als ein nicht gewöhnlich begabter Musiker eingeschäzt werden).

Um pormenor curioso: durante a apresentação de estreia do Amor e Perdição em Hamburgo, os bastidores do teatro incendiaram-se, no entanto o espetáculo não parou e o público só tomou conhecimento do incidente quanto a ópera estava concluída e o fogo extinto.

Ainda em 1910, a ópera foi apresentada na Argentina e, a partir de janeiro de 1920, no Brasil.
 
Fonte: Meloteca

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