terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Concurso Nacional de Leitura'15


Obras selecionadas para o Ensino Secundário



Título: A viagem do elefante
Autor: José Saramago
Editor: Caminho
ISBN: 9789722120173
Nº Páginas: 304




"Por muito incongruente que possa parecer...", assim começa o romance (ou conto, como ele prefere chamá-lo) de José Saramago, sobre a insólita viagem de um elefante chamado Salomão, que no século XVI cruzou metade da Europa, de Lisboa a Viena, por extravagâncias de um rei e um arquiduque. 

O episódio é verdadeiro. Dom João III, rei de Portugal e Algarves, casado com dona Catarina d' Áustria, resolveu numa bela noite de 1551 oferecer um elefante a seu primo, o arquiduque austríaco Maximiliano II, genro do imperador Carlos Quinto. O animal viera de Goa juntamente com seu tratador, há cerca de dois anos. De início, o exotismo de um paquiderme de três metros de altura e quatro toneladas de peso, bebendo diariamente duzentos litros de água e outros tantos quilos de forragem, deslumbrara os portugueses, mas agora Salomão não passava de um elefante fedorento e sujo, mantido num cercado nos arredores de Lisboa. Até que surge a ideia mirabolante de o oferecer de presente ao arquiduque, então regente da Espanha, a morar no palácio do sogro em Valladolid.

Esse fato histórico é o ponto de partida para José Saramago criar, com a sua prodigiosa imaginação, uma ficção em que se encontram pelos caminhos da Europa personagens reais de sangue azul, chefes de exército que quase chegam a vias de fato, padres que querem exorcizar Salomão ou pedir-lhe um milagre. Depois de percorrer Portugal, Espanha e Itália, a caravana chega aos estreitos desfiladeiros dos Alpes, que Salomão enfrenta impávido. 

A viagem do elefante é a concretização de uma ideia que Saramago elaborou durante mais de dez anos, desde que, numa viagem a Salzburgo, na Áustria, entrou por acaso num restaurante chamado O Elefante. 

"Creio que no próprio dia da minha chegada fomos jantar com outros professores a um restaurante que se chamava 'O Elefante'. O simples nome do restaurante não era suficiente para despertar a minha curiosidade, mas a verdade é que lá dentro havia uma escultura relativamente grande representando um elefante e havia, sobretudo, um friso de pequenas esculturas que, entre a Torre de Belém, que era a primeira, e outra de um monumento ou edifício público que representaria Viena, marcava o itinerário do elefante entre Lisboa e Viena. Perguntei-lhe o que era aquilo, ela contou-me e, naquele momento, eu senti que aquilo podia dar uma história." (Agência Lusa. 5 de nov. de 2011)

Com sua finíssima ironia e muito humor, Saramago reconstrói essa epopeia de fundo histórico e dela se vale para fazer considerações sobre a natureza humana e elefantina. Impelido a cruzar meia Europa por conta dos caprichos de um rei e de um arquiduque, Salomão não decepcionou as cabeças coroadas. Prova de que, remata o autor, sempre se chega aonde se tem de chegar. 

Texto de Companhia das Letras (adaptado)

Sem comentários: