terça-feira, 18 de outubro de 2022

Redes sociais, uma dança em crescendo

 

FISGA - "Quem sabe tudo é porque anda muito mal informado"







OS JOVENS ESTÃO A DEIXAR O FACEBOOK. APESAR DE AINDA REINAR NA INTERNET, O MOVIMENTO SEGUE AGORA PARA OS ENCANTOS DE LUGARES COMO O TIKTOK. O QUE ESTÁ A MUDAR NO MUNDO DAS REDES SOCIAIS?


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udo começou no início dos anos 2000, quando surgiram as primeiras plataformas que moldaram os sítios que hoje dominam a internet. Fotolog, MySpace, Orkut, até mesmo o saudoso criador de polémicas Hi5. Todos lugares-comuns para quem cresceu a usar a web nesses anos de ouro, mas seria em 2006, dois anos depois de ser criado, que o Facebook dominava.

Foram os mais novos que começaram por ditar a tendência — e todos os seguiram. 16 anos depois, a rede social vale milhares de milhões e é, para muitos, praticamente um sinónimo de internet. Apesar de vários prenúncios do fim, o Facebook continua a ser a rede social mais utilizada no mundo (são quase 3 mil milhões de utilizadores). O mesmo acontece em Portugal, com uma taxa de penetração de 94,4% entre o total de utilizadores da internet. Segue-se o WhatsApp e o Instagram.

No caso dos mais jovens, o caso dança para outras paragens, mas só ligeiramente; e a tabela inverte-se. Segundo o relatório “Os Portugueses e as Redes Sociais” para 2022, da Marktest, o Facebook caiu para terceiro lugar das redes sociais mais usadas entre os 15 e os 24 anos. O pódio, no entanto, continua a ser todo da Meta (a empresa dona do Facebook). O Instagram passou a dominar, com 94,1% de utilizadores, seguido do WhatsApp (93,2%). O Facebook fica-se “apenas” pelos 89,4%, algo que “não é novidade” para Luís António Santos, professor de Ciências da Comunicação e diretor-adjunto do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade na Universidade do Minho (UM). “O Facebook tem um prazo. Ninguém está a prever que desapareça daqui a dois ou três anos, mas, a cada nova geração, sendo identificado como uma rede social para pessoas mais velhas, a probabilidade de entrarem pessoas novas diminui. É uma tendência internacional”, refere.

O número de utilizadores de redes sociais em Portugal aumenta de ano para ano e mais que duplicou desde o início da década passada; a Marktest coloca-o pelos seis milhões. Segundo o Eurostat, são os jovens que mais as usam — 96% dos que têm entre 16-24 anos têm perfis em redes, contra 23% dos mais velhos (65-74). É, também, um dos países do mundo onde mais horas se passa a usá-las, num claro contraste com outros países europeus. Dados “preocupantes”, alerta Luís António Santos, ao dizer que Portugal “não sai bem desta fotografia”. Em nota positiva, os portugueses dizem que as usam principalmente para contacto com amigos e família ou preencher o tempo livre, mas também ler notícias, partilhar opiniões ou seguir celebridades.

CAI UMA, NASCE OUTRA

O Facebook, mesmo com a sua hegemonia, é a rede social com a mais larga taxa de abandono, refere a Marktest. Há casos quase opostos, que podem vir a inverter o cenário, um deles inevitável: está por todo o lado e influencia o que os jovens (e também os menos jovens, que nem sempre gostam de admitir) vestem, veem, ouvem e fazem. Depois de uma explosão durante a pandemia, o TikTok voltou a ser a rede social que mais cresceu de 2021 para 2022, em especial na chamada geração Z.

O fenómeno é indiscutível. Pelo meio de coreografias, êxitos musicais e um algoritmo imprevisível, o TikTok anunciou no ano passado ter atingido mil milhões de utilizadores globalmente, um feito insólito para uma rede social que apareceu em 2016. Em Portugal, serão quase três milhões e, segundo o DataReportal, chega a praticamente um terço dos utilizadores de internet. Poderemos ver o TikTok no pódio em breve? “A não ser que os Estados Unidos e a União Europeia tomem decisões radicais [no que toca a dados pessoais], será o percurso lógico”, salienta o professor.

Mudanças “lentas, mas continuadas” em que figuram, também, outras redes como o Telegram (que oferece mais privacidade na troca de mensagens), a Twitch ou o Discord, que ganham expressão por permitirem criar ‘grupos’ de pessoas com interesse em temas comuns mais facilmente. Iremos ver gigantes como as redes da Meta (com quatro dos seus produtos entre os mais usados) ir a algum lado? Não será de um dia para o outro, mas sim. “As pessoas querem outros modelos de organização das relações sociais. Não quer dizer que abandonemos totalmente os antigos, mas querem alternativas”, sustenta.

Num mundo em que tudo é conteúdo, mesmo a banalidade de um momento (onde espaços como o Instagram ou o BeReal, recente fenómeno, ganham por isso mesmo), “as redes sociais, que começaram por ser um sítio onde as pessoas estavam, passaram a ser parte absolutamente vital das nossas vidas”, assevera Luís António Santos.




Texto
: Tiago Serra Cunha; Infografia: Carlos Esteves; Ilustração: Cristiano Salgado. 
Expresso Semanário#2606, de 7 de outubro de 2022 

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