A poeta, tradutora e professora de literatura sempre embirrou com a expressão 'ando a mil', por isso considera que estes dias de isolamento são o momento ideal para questionar 'então e para quê tanta pressa?' A viver em Leça da Palmeira, entre Maia e Matosinhos, onde foram identificados muitos casos de covid-19, Ana Luísa Amaral tem aproveitado o tempo em casa para arrumar as estantes, mas também para ler e escrever. #VaiFicarTudoBem é uma corrente telefónica diária com histórias, conselhos e desejos para ajudar a suportar esta quarentena.
Um tempo com tempo. O tempo de pensar e olhar para dentro, mas também para fora, para o outro. Sobretudo para as famílias portuguesas mais carenciadas, mas também para os refugiados. Do alto da sua varanda cheia de flores, Ana Luísa Amaral sabe que faz parte dos privilegiados e por isso não se queixa deste tempo em casa. "Antes, os meus vizinhos não falavam, agora querem saber dos outros e despedem-se com uma coisa muito bonita que é 'tudo de bom, cuide-se'. É preciso pensar um bocadinho nisto. Pode ser uma lição muito grande para os humanos, esperemos que a saibamos aprender", remata a poeta, que anseia por abraçar de novo a sua filha.
"As sombras que nos ameaçam são as da pandemia, mas também a da impossibilidade de tocar naqueles que amamos", um pensamento que lembra a Ana Luísa Amaral um poema de António Ramos Rosa:
esquecido em qualquer fundo de algibeira.
Mas esse relógio não marca o tempo inútil.
São restos de tabaco e de ternura rápida.
É um arco-íris de sombra, quente e trémulo.
É um copo de vinho com o meu sangue e o sol.
Ouça o oitavo episódio de #Vai Ficar Tudo Bem, uma iniciativa do jornal Expresso para acompanhar e ajudar os portugueses que se encontram neste momento em casa.
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