Há pessoas que para rezar baixam os olhos, fecham nas mãos o rosto, voltam-se para o interior. E a oração configura-se como uma imersão, um mergulho, semelhante à imagem oferecida pelo pequeno poema de Matsuo Bashô: “Silêncio/ Uma rã mergulha/ Dentro de si”. A oração é uma pedra que se afunda não dentro do lago, mas no interior vasto de si. Há outras pessoas, porém, que abrem esforçadamente os olhos ao rezar, que finalmente os abrem numa tentativa de olhar a vida no seu flagrante espanto, no seu rasgão dilacerante e no seu prazer vivo. Quer umas quer outras estão certas. Todas as formas de rezar são insuficientes. Todas são eficazes. A arte de rezar é a arte de ser, apenas isso.
José Tolentino Mendonça, Que coisa são as nuvens - O verbo rezar, E-Revista Expresso, 15 de julho de 2017
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