sábado, 5 de agosto de 2023

Byung-Chul Han: “O smartphone é uma prisão”

 



































Estrela do pensamento contemporâneo, Byung-Chul Han não usa redes sociais 
e raramente dá entrevistas Alberto Cristofari/Contasto via Reuters




O filósofo nascido na Coreia do Sul, residente na Alemanha, vê o telemóvel como uma “não-coisa”, não usa redes sociais e raramente fala diretamente sobre o seu trabalho (online ou offline). Só que nos últimos 13 anos encontrou um público ávido pelas críticas que faz à sociedade moderna – uma cultura que acredita que é livre, mas vive obcecada com a produtividade, refém de ecrãs, e presta culto diário a um novo deus chamado Big Data.

“Todas as épocas têm as suas aflições características", resume no arranque de A Sociedade do Cansaço (ed. Relógio d’Água, 2014), o diagnóstico em prosa da modernidade que em 2010 catapultou o nome do filósofo, de quem pouco se sabe ao certo, para a lista de grandes pensadores contemporâneos, com livros traduzidos em mais de uma dezena de línguas. Há mais de 20 anos, porém, que Han escreve sobre as “doenças” do ser humano moderno. A incapacidade de as pessoas deixarem os telemóveis de lado é um dos grandes sintomas. Nos seus livros e intervenções diz que nos exploramos a nós mesmos, com ferramentas digitais como o Zoom; que vivemos esgotados e deprimidos devido ao atual modelo de sociedade; que nos entregamos ao narcisismo online e esquecemos o outro; que nos deixamos vigiar pela Internet e pela profusão de dispositivos alegadamente smart. Pede “uma política da inatividade”, que nos liberte das obrigações da produção e torne possível um tempo de “ócio verdadeiro”.

A linguagem simples e direta, com referências a filósofos da Antiguidade e clássicos da ficção científica, atrai um público sem experiência em filosofia, que, quase paradoxalmente, comenta os seus textos na Internet e partilha excertos dos seus livros em redes sociais e fóruns como o Reddit.

A nossa sociedade é uma fusão de Admirável Mundo Novo, de Huxley, e de 1984, de Orwell. Estamos sob vigilância constante, mas sentimo-nos livres. Na realidade, o smartphone, que promete a ideia de liberdade, é uma prisão”, constata Han numa troca de emails com o Ípsilon sobre a sua visão da tecnologia. “Estamos constantemente a avaliar-nos uns aos outros. Melhores classificações prometem mais lucros. Tentamos ser simpáticos para obter melhores classificações”, realça. É assim que até a “bondade é capitalizada”.

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Aos olhos do filósofo, o telemóvel ocupa um lugar central no altar do novo culto aos dados a que Han chama “dataísmo”. O conceito descreve uma nova forma de organização social baseada na recolha, tratamento e análise de grandes quantidades de dados. Para o filósofo, os dados digitais tornaram-se a principal fonte de poder e riqueza e as pessoas vêem-se reduzidas a fornecedoras de dados, sem autonomia ou privacidade. “O smartphone não é um objeto, mas um informador, que nos vigia e influencia”, insiste Han. “Fazer like [com o telemóvel nas redes sociais] é rezar digitalmente”, compara. “Só que já não pedimos perdão, pedimos atenção.”

Filósofo da anticomunicação

“[Han] é um exemplo de anti-informação e anticomunicação na era da hipercomunicação”, define César García, professor de Comunicação Estratégica na escola de negócios ESIC, em Madrid

A forma como Han fala (ou não fala) sobre o seu trabalho faz parte da sua tese. “Han considera que, devido a um excesso de informação, a realidade não consegue ser percecionada. Critica a informação abundante e permanente promovida e fornecida pelas redes sociais e pela Internet no seu conjunto”, argumenta García. “Enquanto, no passado, as pessoas eram controladas através da força física, agora esse controlo tornou-se mental.”

Ler artigo completo em; Karla Pequenino e Renata Monteiro. Ipsilon, Público, 4 de Agosto de 2023



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