quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Sobre a importância da literacia visual




Entrevista com Martin Scorsese






Uma das coisas que me guiou na direção da narrativa visual foi o fato de eu vir de uma família da classe trabalhadora. A minha mãe e o meu pai eram pouco escolarizados. Eram italo-americanos de segunda geração. Não havia tradição de ler em casa, nem tão pouco de ter livros. Claro que eu lia na escola.

Eu era uma criança débil. Sofria de asma e não conseguia praticar desportos, então levavam-me ao cinema e à igreja. Para além de filmes, vi muitos programas de televisão. Estava a adquirir literacia visual naquela época, embora não percebesse que era isso que estava a acontecer. 

Eu amei os livros. Mas demorei algum tempo a aprender realmente a ler um livro - por outras palavras, como viver com o livro, como ler algumas páginas, saboreá-lo, voltar a ele. Estava muito mais aberto a qualquer código visual que estivesse escondido nos filmes. O que quero dizer com isso é a narrativa do cinema através do uso da câmera e do uso de luz, atores e diálogos - toda a literatura do roteiro traduzida através das imagens.

As histórias eram maravilhosas nos filmes, tal como a maneira de contar a história. Quando jovem, comecei a interrogar-me: por que razão a maneira de contar a história num filme é tão interessante? Então, o que eu comecei a fazer - particularmente porque os filmes passavam na televisão e às vezes eram exibidos em teatros de repertório pela cidade - foi ver repetidamente as minhas partes favoritas, e lenta, mas seguramente, comecei a memorizar visualmente esses filmes e, às vezes, fazia as minhas próprias interpretações visuais.

Eu continuava a ver os filmes de novo e de novo, e quando comecei a saber um pouco mais sobre o cinema e o que as câmeras faziam, comecei a entender que existem certas ferramentas que são usadas e que elas se tornam parte de um vocabulário. E é tão válido quanto o vocabulário usado na literatura.


Por que razão a literacia visual é importante

Quando frequentei a escola primária, não havia nenhuma tentativa de ensinar qualquer tipo de literacia visual. Hoje, a nossa sociedade e o nosso mundo estão saturados de estímulo visual. A imagem visual domina, de certa forma, para o melhor ou para o pior. Mas a realidade é que, se alguém quiser alcançar pessoas mais jovens em idade mais jovem para moldar as suas mentes de maneira crítica, precisa de saber como as ideias e as emoções são expressas visualmente. Essa forma visual pode ser vídeo ou filme, mas tem as mesmas regras, o mesmo vocabulário, a mesma gramática.

A gramática é circular para a esquerda e para a direita, entrar ou sair, subir ou descer, intercalando planos, iluminando, usando um close em vez de um plano médio - esse tipo de coisas - e o modo como se usa todos esses elementos para fazer passar um aspeto emocional e psicológico para um público.

Temos que ensinar aos nossos jovens como usar essa ferramenta tão poderosa. Eles estão expostos à linguagem visual mais cedo do que à verbal, e eu acho que há o perigo de a linguagem visual ter hoje mais efeito sobre as crianças do que costumava ter num passado recente. Temos que tentar lidar com isso e ensiná-los a interpretar o poder da linguagem visual.

Há que abrir espaço para o filme no currículo. Treinar os olhos e o coração dos alunos para olharem o filme de uma maneira diferente, fazendo perguntas e apontando ideias diferentes, conceitos diferentes. Treiná-los para pensarem numa história que é contada em termos visuais de uma maneira diferente e assumir essa tarefa muito a sério. 

É importante, penso eu, porque muito do que é comunicado na sociedade de hoje é feito visualmente e até subliminarmente. Os jovens precisam de saber que esse meio de comunicação é uma ferramenta muito poderosa.

Ler a entrevista completa AQUI.






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