quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Textos & Leituras | Eu, de Florbela Espanca


                         
                        
Excerto do espetáculo "Eu não sou assim, escreveram-me assim", estreado em setembro de 2004,
em Alcochete. Dramaturgia e Encenação de Luís Assis.

 

Eu


Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte
Sou a crucificada ... a dolorida ...

Sombra de névoa ténue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida! ...

Sou aquela que passa e ninguém vê ...
Sou a que chamam triste sem o ser ...
Sou a que chora sem saber porquê ...

Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver
E que nunca na vida me encontrou!

Florbela Espanca, in Livro de Mágoas
 

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