1922-2022
É uma coincidência feliz, não sei se premeditada, que o programa comemorativo do centenário de Agustina seja apresentado ao início da tarde deste primeiro dia de Verão.
Ao longo do ano teremos muitos motivos para regressarmos à obra e ao pensamento de Agustina, aos lugares de Agustina (e sabe-se que um roteiro está em marcha), à relação de Agustina com o cinema, não apenas através da longa e intensa colaboração com Manoel de Oliveira. Aguardo com particular expectativa o filme realizado por Eduardo Brito, a partir d' "A Sibila", um romance do ano em que nasci.
Mas espero que o meu querido amigo António Fontainhas Fernandes, comissário do programa do centenário de Agustina, encontre um jardim do Porto onde, numa tarde do Verão que hoje começa, possa ser projectado um filme que nos leve mais perto dessa mulher para quem o enamoramento da imagem antecedeu o fascínio da escrita. Ela o disse, evocando a infância em Águas Santas. O pai de Agustina tinha um cinema no Porto que ela frequentava todas as quintas feiras. A escritora recordava com aprazimento o café-concerto e o jardim onde, no Verão, se projectava cinema.
O programa do centenário é apresentado em Amarante, muito perto do café onde um Pascoaes de bronze talvez esteja continuando a polémica com Caeiro que aos poetas místicos chamou, ainda com ph, filósofos doentes.
A sibila de Vila Meã engendrou com ambos um notável romance intitulado "O Susto" que também está a pedir uma releitura, no aconchego de um jardim no entardecer de uns quantos dias de Verão. Por muitas razões, mas também porque, como lembrou o Guardador de Rebanhos, " no entardecer dos dias de Verão, às vezes,/ ainda que não haja brisa nenhuma, parece/ que passa, um momento, uma leve brisa..../.
Ainda que as árvores permaneçam imóveis, os nossos sentidos tiveram uma ilusão. O Caeiro acreditava que essa é sempre a ilusão do que nos agradaria.
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