sexta-feira, 16 de setembro de 2022

A escrita nas aulas de ciências

 



Incentivar os alunos a escrever com mais frequência nas aulas de ciências ajuda-os a expressarem-se melhor e de forma mais versátil, e a aprofundarem o seu pensamento científico.

Em muitas escolas, a escrita restringe-se, em grande parte, às aulas de línguas e de estudos sociais, o que limita a capacidade de os alunos desenvolverem práticas de escrita em todas as áreas curriculares. Quando escrevem nas aulas de matemática e de ciências, é-lhes pedido frequentemente que resumam o que aprenderam - não lhes são atribuídas tarefas que os orientem para aprenderem mais através do processo de escrita. Isto pode afetar a sua capacidade de desenvolverem competências de escrita - uma proficiência básica no mundo do trabalho moderno.

A escrita interdisciplinar não é um conceito novo e a investigação tem demonstrado, de forma consistente, que ao escreverem sobre as ligações entre as suas vidas e o que aprendem nas aulas de ciências, os alunos aplicam-se mais na disciplina e alcançam melhores resultados.

"Há um equívoco generalizado de que a ciência está apenas relacionada com atividades práticas e a escrita surge no fim para tirar uma conclusão.... Isto não poderia estar mais longe da verdade, uma vez que a escrita faz parte de cada passo na investigação científica", escreve Gina Flynn, professora de jardim de infância no Minnesota, em Literacy Today. Quando os alunos documentam a totalidade das suas experiências científicas através da escrita, acrescenta Flynn, "eles são capazes de imitar cientistas reais, registando as suas ideias, observações, previsões, dados e descobertas".

Eis três formas de fomentar oportunidades de escrita autêntica que permitem aos alunos pensar de forma crítica e aprofundar a aprendizagem nas aulas de ciências.


Utilize cadernos e revistas científicas

Quando os alunos anotam as suas ideias, pensamentos e perguntas enquanto aprendem um novo conceito, "começam a fazer previsões e a formular uma hipótese, que pode ser representada através de imagens ou palavras nos seus cadernos de ciências", escreve Flynn. Processar ativamente o que aprenderam através da escrita, acrescenta Flynn, motiva-os a "pensar com maior profundidade sobre o que estão a ver, ouvir, sentir e cheirar".

Os jovens podem achar interessante registar as suas observações e pensamentos através de desenhos ou de imagens, mas isso não significa que não possam também anotar as observações através de palavras, nos seus cadernos de notas. "Mesmo no terceiro ano, é possível pôr os alunos a escrever relatórios de laboratório", escreve Tammy DeShaw, uma professora do ensino básico no Michigan, que acrescenta que estes cadernos não têm de ser tão detalhados como os que os alunos do ensino secundário mantêm – estas crianças podem aprender muito escrevendo o esboço de um relatório. 

O antigo professor do terceiro ciclo Jeremy Hyler utilizava cadernos e revistas nas aulas de ciências. O professor pedia aos alunos para se fazerem acompanhar de um caderno para escrever ou desenhar com o tamanho suficiente para ser usado durante todo o ano, e encorajava-os a levá-lo para onde quer que fossem. "Isto incluía as aulas de experiências nos laboratórios, quando tomavam notas na biblioteca, ou quando tinham determinadas aulas de campo", escreve Hyler. No início, os alunos viam isto apenas como mais uma coisa para fazer, mas acabaram por “perceber que o caderno de notas é uma ferramenta valiosa para todas as coisas que fazemos em ciências”, acrescenta. 


Proporcione atividades informais de escrita 

Um resumo dos conceitos científicos é útil quando os alunos precisam de rever a matéria, mas escrever sobre o processo de aquisição desse conhecimento pode reforçar e aprofundar a compreensão dos assuntos à medida que aprendem.

Quando DeShaw estava a ensinar uma unidade sobre a vida vegetal, por exemplo, pediu aos alunos para escreverem sobre o que aprenderam usando a fórmula PPFT (papel, público-alvo, formato, tópico). Os alunos fingiam ser uma das estruturas da planta (raízes, folhas, caule, flor ou semente) e escreviam a outra parte da planta sobre qualquer tópico. Os alunos acabaram por inventar muitos cenários, tais como escrever um e-mail a explicar o trabalho que fazem e a pedir férias, ou escrever um discurso sobre a razão pela qual deveriam votar neles, "A Parte Mais Importante da Planta". "As crianças adoram ser criativas, e posso avaliar se elas compreendem (neste caso) as partes e funções da planta. Além disso, praticam a escrita em diferentes formatos", explica ela.

James Kobialka, professor de ciências do sétimo ano em Maryland, também utiliza estas atividades informais de escrita para fomentar o pensamento crítico dos alunos. "O mais importante para mim é que não é censurado nem é demasiado estruturado", diz ele. Para iniciar uma unidade sobre conservação de massa, por exemplo, Kobialka não definiu esse termo; mostrou uma fotografia aos alunos e pediu-lhes que escrevessem sobre estas questões: "O que notam sobre os átomos de ambos os lados? Como podem explicar isso"? Refletir, por escrito, sobre essas perguntas, preparou os alunos para uma longa discussão.


Seja criativo e interativo

Uma vez que a escrita se torna uma parte integrante do processo de aprendizagem na sala de aula de ciências, há inúmeras formas de a tornar uma experiência ainda mais significativa e produtiva para todos os alunos.

Para que as crianças escrevam mais nas suas aulas, muitas vezes DeShaw começa a aula com uma atividade de motivação chamada "A imagem científica do dia". Apresenta uma imagem aos alunos - como uma borboleta ou uma rapariga a saltar sobre uma poça - e pede-lhes que escrevam todas as coisas que observam na imagem, que façam uma lista das perguntas que a imagem lhes suscita, as coisas que inferem e, finalmente, que refiram aquilo que possa ser considerado ciência. "Adoro esta atividade porque faz com que os alunos comecem a ver a ciência que os rodeia na sua vida quotidiana, tudo isto enquanto pensam criticamente, inferem, usam competências de leitura e de escrita”, escreve DeShaw.

No ensino básico e secundário, os cadernos tradicionais têm muitos benefícios, mas o uso de versões digitais ajudou os professores a darem outras oportunidades aos alunos de serem mais criativos e colaborarem mais com os seus pares, dizem-nos os professores. Na aula de biologia do ensino secundário, por exemplo, Lee Ferguson exige que os alunos apresentem cadernos digitais para demonstrarem as suas aprendizagens e a resposta tem sido muito positiva - os alunos mencionam que podem personalizar os seus cadernos digitais acrescentando recursos que selecionaram e colaboram com os colegas, especialmente durante o ensino assíncrono e nos trabalhos de casa. Também gostam do facto de os cadernos digitais "poderem ser facilmente levados consigo para serem utilizados em futuras aulas de biologia", escreve Ferguson.

O artigo «Creating Authentic Writing Opportunities in the Science Classroom» de Hoa Ngyent foi originalmente publicado no sítio Edutopia a 11/02/2022. O texto foi traduzido livremente a partir do inglês.

Conheça também a proposta Rede de Bibliotecas Escolares Diário de Escritas com a biblioteca, um projeto de escrita de textos de diversas tipologias e com distintos objetivos comunicativos, desenvolvido colaborativamente entre a biblioteca e o conselho de turma/ professor titular de turma e organizado, de forma sistemática, em torno de quatro etapas: Eu, aprendiz | Eu, escritor | Eu, revisor | Eu, editor.

Criar oportunidades de escrita autêntica na sala de aula de ciências. (2022). Retrieved 16 September 2022, from https://blogue.rbe.mec.pt/criar-oportunidades-de-escrita-2637515


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