Num dia do ano de 1914 veio à alma do poeta a vontade de escrever «uns poemas de índole pagã». Ficou-lhe na memória «um vago retrato da pessoa que estava a fazer aquilo». Sem o saber ainda, Fernando Pessoa acabara de criar outro heterónimo: Ricardo Reis.
Os mais importantes heterónimos de Fernando Pessoa têm data de nascimento. E uma história, breve que seja, um fio explicativo da forma poética que todos e cada um fixam na sua singularidade. Ricardo Reis é diferente de Álvaro de Campos, de Bernardo Soares e do mestre Alberto Caeiro, com quem desenvolve uma relação discipular.
Este outro eu pessoano, também marcado pelo exílio, é o heterónimo «mais racional de todos», afirma Dionísio Vila Maior na entrevista que reproduzimos.
Consciente do nada depois da morte, Reis cultiva a disciplina das emoções, «opta por um epicurismo e um estoicismo lúcidos». Dos estudos num colégio de Jesuítas ficaram-lhe os valores da antiguidade clássica, latinista e semi-helenista, que desenvolve na poesia.
Médico, pagão, monárquico convicto, «expatriado voluntariamente» no Brasil, Ricardo Reis, que usava a cara rapada e era natural do Porto desde 1887, escreve: «Cada um cumpre o destino que lhe cumpre, E deseja o destino que deseja, Nem cumpre o que deseja, Nem deseja o que cumpre».
Ficará o seu retrato mais completo se seguirmos a conversa entre Raquel Santos e Dionísio Vila Maior, professor da Universidade Aberta
Sem comentários:
Enviar um comentário