A condição humana, Magritte
Os menores tornaram-se crianças e jovens.
Os ladrões, gatunos ou larápios passaram a amigos do alheio.
Os pretos tornaram-se negros, pessoas de cor e africanos.
Os velhos passaram a idosos, anciãos, terceira idade, seniores e senadores.
Interditos e inabilitados são agora beneficiários ou acompanhados.
O seu interrogatório (estigmatizante?) passou a audição.
O tutor é acompanhante.
O marido passou a esposo, cônjuge e parceiro.
A mulher passou a esposa, cônjuge e parceira.
As hospedeiras são assistentes de bordo.
Os cegos passaram a invisuais.
Carecas a calvos.
Os gordos a obesos.
Carecas, cegos, desdentados, surdos e mudos a portadores de deficiência.
O chumbo passou a reprovação, eliminação, exclusão, não admissão e retenção.
A aprovação a admissão, aceitação, integração e inclusão.
O patrão tornou-se chefe e empregador.
O trabalhador passou de subordinado a colaborador.
Os despedidos passaram a dispensados, colaboradores dispensados ou cessantes.
Professor passou a docente.
Aluno a estudante e discente.
Destruir a descartar.
Casas de pasto a restaurantes.
Retrete a casa de banho e sanitários.
O sexo passou a género.
Prostitutas, prostitutos, gigolos, poliamores a trabalhadores de sexo.
Falamos com rodeios.
Com perífrases.
Queremos ser perifrásticos.
Com expressões não frontais, por vezes barrocas, elitistas e tribais.
Pretendendo ser neutras, inócuas, inofensivas, civilizadas e tolerantes.
E politicamente corretas.
Querendo marcar a diferença entre a barbárie e a civilização?
Como sinal da nossa tolerância para com o Outro?
Ou pelo medo de usar palavras que se convencionou serem minimais e estigmatizantes?
Os ladrões, gatunos ou larápios passaram a amigos do alheio.
Os pretos tornaram-se negros, pessoas de cor e africanos.
Os velhos passaram a idosos, anciãos, terceira idade, seniores e senadores.
Interditos e inabilitados são agora beneficiários ou acompanhados.
O seu interrogatório (estigmatizante?) passou a audição.
O tutor é acompanhante.
O marido passou a esposo, cônjuge e parceiro.
A mulher passou a esposa, cônjuge e parceira.
As hospedeiras são assistentes de bordo.
Os cegos passaram a invisuais.
Carecas a calvos.
Os gordos a obesos.
Carecas, cegos, desdentados, surdos e mudos a portadores de deficiência.
O chumbo passou a reprovação, eliminação, exclusão, não admissão e retenção.
A aprovação a admissão, aceitação, integração e inclusão.
O patrão tornou-se chefe e empregador.
O trabalhador passou de subordinado a colaborador.
Os despedidos passaram a dispensados, colaboradores dispensados ou cessantes.
Professor passou a docente.
Aluno a estudante e discente.
Destruir a descartar.
Casas de pasto a restaurantes.
Retrete a casa de banho e sanitários.
O sexo passou a género.
Prostitutas, prostitutos, gigolos, poliamores a trabalhadores de sexo.
Falamos com rodeios.
Com perífrases.
Queremos ser perifrásticos.
Com expressões não frontais, por vezes barrocas, elitistas e tribais.
Pretendendo ser neutras, inócuas, inofensivas, civilizadas e tolerantes.
E politicamente corretas.
Querendo marcar a diferença entre a barbárie e a civilização?
Como sinal da nossa tolerância para com o Outro?
Ou pelo medo de usar palavras que se convencionou serem minimais e estigmatizantes?
Joaquim Miguel de Morgado Patrício
Crónicas Plurais, in Raiz e Utopia - Centro Nacional de Cultura
14.05.2019
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