Fonte: Thomas Dixon, Jr., The Traitor: A Story of the Fall of the Invisible Empire (1907)—American Social History Project.
Professor na Universidade de Exeter, o inglês Kristofer Allerfeldt especializou-se em estudos americanos. E traça um paralelo entre as táticas e a linguagem do racismo atual e o que existia há cem anos
O Ku Klux Klan é uma instituição americana universalmente conhecida. Isso tem a ver tanto com a triste memória das suas ações, perpetuada em filmes e documentários, como com a sua parafernália simbólica, em particular os trajes brancos com capuz, agora ressurgente em cenários vários da internet e ocasionalmente em manifestações de extrema-direita nos EUA. A verdade é que, como lembra o autor deste livro, hoje o racismo já não precisa de uma sociedade secreta para se exprimir. As bolhas online dão-lhe território mais do que suficiente, com a vantagem de poderem passar desapercebidas das autoridades, eventualmente até ser demasiado tarde. Escusado será dizer que a ascensão de Trump deu um grande impulso a tudo isso, e não só nos EUA.
KU KLUX KLAN — UMA HISTÓRIA AMERICANA
Kristofer Allerfeldt
Casa das Letras, 2024, trad. de Rui Elias, 551 págs.
História
“Ku Klux Klan” (o nome vem de kuclos, palavra grega para ‘círculo’) conta a história da organização homónima que, criada logo a seguir à guerra civil americana por seis antigos soldados da Confederação, teve três grandes fases de atividade, correspondentes a outros tantos períodos de crise: a Reconstrução, os anos 20 (após a Primeira Guerra Mundial), e os anos 50 e 60 (como reação ao movimento dos direitos civis; aí a crise era-o só na perspetiva dos racistas). A repressão penal foi um dos fatores que tornaram o KKK uma sombra de si mesmo — existe liberdade de expressão, mas não de cometer atos violentos. Porém, o espírito original persiste e o autor tem consciência disso, referindo-se com frequência a eventos contemporâneos. Kristofer Allerfeldt é professor na Universidade de Exeter, na Grã-Bretanha, e especializou-se em estudos americanos, focando alguns dos lados mais negros da psique dos EUA. Às vezes impressiona até que ponto, a nível de táticas e de linguagem, o racismo e a demagogia que lhe andam associados repetem os de há 100 anos. E em nenhum momento sentimos que Allerfeldt esteja a forçar o paralelo.
Luís M. Faria. E-Revista, Semanário Expresso, 8 de fevereiro de 2025
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