quarta-feira, 12 de abril de 2023

Design, arquitetura e património

 

 

 

 

 

 

Os valores locais permitem solidificar a construção da imagem de uma cidade, região ou país

Estive esta semana no lançamento de um livro para o qual contribuí com um pequeno texto que inspira este artigo. O livro, editado pela Spira, chama-se “Os Próximos 10 Anos do Património Cultural em Portugal: Tendências” e é, como se percebe, centrado na temática do património cultural nacional. Lendo os outros textos que constam desta obra, e relendo o que escrevi, parece ficar claro para todos que o património cultural é tudo menos algo de estático, é, pelo contrário, algo em constante reinvenção, onde significados novos se vão acrescentando com o passar do tempo, do uso e dos olhares sobre o mesmo.

Seja no nosso país ou noutro qualquer, o design e a arquitetura contemporâneos criam parte do património futuro. Mas também reescrevem o património presente, contribuindo, em ambos os casos, para a definição da identidade de um sítio e de um povo. Quando embebidos no processo criativo de um arquiteto ou de um designer, os valores locais, onde o património tangível e intangível se incluem, permitem solidificar a construção da imagem de uma cidade, região ou país, seja ele qual for. E isso passa quer pela adoção de métodos de produção tradicionais aplicados às indústrias atuais, quer pela utilização de matérias primas locais e da sua aplicação na indústria existente, quer pela leitura criativa de todo um património histórico e cultural. Os arquitetos e os designers trabalham, de forma consciente, esperamos, sobre esta matéria, um misto entre passado e presente, e sobre ela e com ela, definem os objetos do futuro. São criadores que têm de olhar para as tradições e artesanais locais ainda existentes, que adicionam conhecimento tecnológico e científico, que usam materiais sustentáveis, naturais ou não, que têm uma perspetiva inclusiva, quer do ponto de vista etário, quer social, quer económico, quer cultural.

As tendências na área do design e da arquitetura estão seguramente marcadas por aquilo que são as grandes necessidades da Humanidade neste momento: melhor gestão de recursos e da relação com o planeta onde vivemos, coesão social, justiça, democracia, igualdade de oportunidades, assumção da diversidade, saúde e envelhecimento. Pelo lado dos consumidores e dos utilizadores haverá uma crescente exigência relativamente aos meios de produção e distribuição utilizados e à forma como é feita a gestão dos recursos humanos e naturais.

O papel do design e da arquitetura atuais na definição do património futuro tem de ser esse, o de contribuir para o tornar sustentável, por um lado, e culturalmente significante, apelativo e atual, por outro.

Simples.

Guta Moura Guedes.Expresso Revista. Semanário#2632, de 6 de abril de 2023

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