“O cinema e a América, diz Jonathan. Uma tela à frente de uma paisagem; imagino uma manifestação que exige um ecrã em frente a cada uma das grandes árvores.
Um filme à frente de uma árvore com dois mil anos. Pensar o Parque Nacional das Sequóias repleto de ecrãs com documentários sobre árvores. A natureza filmada torna-se personagem.
A tela atrai, não olhas para mais nada.
Imagina a mais bela mulher, diz Jonathan, imagina o mais belo homem;a mais bela montanha, a árvore mais larga, o animal mais exótico; imagina-os ali, a cem ou a cinquenta metros de ti. E supõe que, a três metros, alguém colocara um ecrã. E na tela um filme torna-se visível. Podes ter a certeza, o teu pescoço vira-se para o ecrã. O ecrã como grande atractor da América, diz Jonhathan.”
Na América, disse Jonathan (Relógio D’Água, 2018) nasce de um convite da Fundação Luso-Americana para Desenvolvimento a Gonçalo M. Tavares para uma viagem nos E.U.A. Aceita o convite e faz-se acompanhar por Kakfa e por Jonathan.
Desengane-se o leitor porque não se trata só de um livro de viagens, mas de uma geografia própria e um género híbrido: diário de viagem, “diário-ficção”, romance, documentário e ensaio, oscilando entre texto escrito e narrativa visual.
“Como é que se vive em zoom?”
“Qual o último rosto que querem ver antes de morrer (sem pensar em rostos de familiares próximos)?”
A velocidade da tecnologia é assustadora?
Qual o poder da imagem?
Que efeito têm as fotografias de Kakfa na escrita de Gonçalo M. Tavares? E para o leitor. "
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