segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Prólogos: "entre o estudo crítico e o brinde"






"[...] é claro que o prólogo é um género intermédio entre o estudo crítico e o brinde, digamos assim. Isto é, percebe-se que no prólogo tem de haver um pequeno excesso de elogio; o leitor desconta isso. Mas, ao mesmo tempo, o prólogo tem de ser generoso, e eu, ao fim de tantos anos, ao fim de demasiados anos, cheguei à conclusão de que só devemos escrever sobre aquilo que gostamos. Acho que a crítica contrária não tem sentido; por exemplo, Schopenhauer pensava que Hegel era um impostor ou um idiota, ou as duas coisas. Bom, agora os dois convivem pacificamente nas histórias da filosofia alemã. Novalis pensava que Goethe era um escritor superficial, apenas correto, meramente elegante; comparava as obras de Goethe às mobílias inglesas... bem, agora Novalis e Goethe são dois clássicos. Isso significa que aquilo que se escreve contra alguém não prejudica esse alguém, e não sei se o que se escreve a favor o enaltece; mas eu há muito tempo que escrevo sobre o que gosto, pois penso que quando não gosto de alguma coisa é mais por causa de uma incapacidade minha ou parvoíce, e não tenho de tentar convencer os outros. "

BORGES, Jorge Luis, "Os prólogos". In. FERRARI, Osvaldo, Em diálogo com Jorge Luis Borges, vol. II. Lisboa: Círculo de Leitores, 2001, p.59.

Sem comentários: