Ofuturo do trabalho está a tornar-se uma incógnita cada vez mais inquietante. Não só porque a vasta maioria das pessoas desconhece as profissões que poderão estar a desempenhar nos próximos 10 a 20 anos, mas também porque enfrentamos a incerteza do papel que as pesquisas das infotecnologias e das biotecnologias virão a assumir, nos processos de automação do trabalho humano.
Ao longo da história os processos de transformação civilizacional nunca foram fáceis mas, ao longo dos séculos as sucessivas gerações foram aprendendo não apenas a adaptar-se à turbulência das mudanças mas a extrair das sucessivas revoluções os fatores de desenvolvimento e prosperidade que nos transformaram na sociedade com os níveis de desenvolvimento socioeconómico mais avançados de sempre.
No entanto, um balanço sumário da terceira e quarta revoluções industriais mostra que a volúpia desenvolvimentista e a ganância de um crescimento sem ética nem limitações levaram o planeta a um estado de exaustão cujos “sintomas de doença” se multiplicam em cataclismos climáticos que refletem a desordem ambiental provocada pela sobre exploração dos recursos da natureza.
É neste contexto que as promessas de uma era onde, a montante do desenvolvimento técnico-económicos, as grandes prioridades se traduzam numa profunda renovação do meio ambiente e numa sociedade centrada em harmonizar o desenvolvimento pessoal com a aprendizagem de skills exigidas pelos apregoados milhões de novos postos de trabalho, são tão promissoras.
Paradoxalmente, tudo indica que os sistemas educativos, em vez de preparar as novas gerações com as skills que a transformação digital lhes irá exigir, continuam a centrar-se em pedagogias cognitivas que não motivam os jovens e podem estar a criar uma geração proscrita num mercado de trabalho onde o “saber pensar” e o “saber fazer” serão mais importantes do que os diplomas tradicionais.
Noah Harari, um filósofo cético contemporâneo, não hesita em alertar para o facto de, ao contrário de outras revoluções que criaram milhões de postos de trabalho, corrermos o risco de em 2050 o trabalho se tornar uma remota possibilidade para um número indefinido de pessoas desprovidas das skills necessárias. E não hesita em sugerir aos jovens estudantes que relativizem a importância de conhecimentos em risco de obsolescência e valorizem a importância decisiva no futuro de skills como o “saber pensar” e o ”saber fazer”.
Amândio da Fonseca, E-Revista Expresso, Semanário #2653, 1 de Setembro de 2023
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