quinta-feira, 11 de junho de 2015

O elogio da língua portuguesa




 A língua portuguesa é a língua “dos semeadores de sons / e dos povoadores de versos".                  
 José Jorge Letria









A língua que falas e escreves

 
A língua que falas e escreves
é uma árvore de sons

que tem nos ramos as letras,

nas folhas os acentos

e nos frutos o sentido

de cada coisa que dizes.

 

É uma língua tão antiga

como isto de ser português.

Teve o latim por avô,

que primeiro foi romano,

depois bárbaro,

mais tarde monge medieval

ou copista do Renascimento.

 

A língua cresceu com o país,

que se alongou até ao sul

e depois chegou às ilhas,

vencendo os tormentos do mar.

O país ganhou a forma

de uma língua de terra

capaz de usar palavras

como “lonjura” e “saudade”.

 

Foi a língua da viagem,

do assombro e da aventura,

usada para relatar

descobertas e naufrágios,

triunfos e derrotas

nas mais remotas paragens,

enquanto os porões se enchiam

com as raras especiarias

que tanta fortuna fizeram.

 

É uma língua que se veste

de baiana no brasil,

ganhando feitiços de som

em Angola e Moçambique

e novos significados

lá para as bandas de Timor.

É uma língua que ajudou

a fazer o comércio e a guerra

mas que hoje prefere

usar os verbos da paz.

 

Esta é a língua dos escritores,

de Eça e de Camilo,

e de muitos outros mais,

dos semeadores de sons,

dos povoadores de versos

de todos os que dizem a quem começa:

Tratem bem a nossa língua,

pois se a tratam mal

nem imaginam o mal que fazem

a este Portugal.

 

Esta é a língua dos meninos

que brincam com as palavras

e fazem delas brinquedos

para alegrarem o recreio

das histórias mais bonitas

que alguém pode contar.

 

E o orgulho que temos

nesta língua portuguesa

irá do berço para a escola

e da escola para a rua,

pondo em cada palavra

uma pepita de ouro

e uma centelha de lua,

pois afinal esta língua

será sempre minha e tua.
 
José Jorge Letria



 

http://lusofonia.oseculo.pt/a-lingua-portuguesa/

O dia 5 de Maio é o "Dia da Língua Portuguesa e da Cultura" do espaço lusófono.



 
 
Floreça, fale, cante, ouça-se e viva
A portuguesa língua, e já, onde for,
Senhora vá de si, soberba e altiva.
 
Se tèqui esteve baixa e sem louvor,
Culpa é dos que a mal exercitaram,
Esquecimento nosso e desamor.
 
Mas tu farás que os que a mal julgaram
E inda as estranhas línguas mais desejam
Confessem cedo, ant’ela, quanto erraram.
 
E os que depois de nós vierem vejam
Quanto se trabalhou por seu proveito,
Porque eles pera os outros assi sejam.
 
António Ferreira, Poemas Lusitanos, notícia histórica e literária, seleção e anotações de F. Costa Marques, Coimbra, Atlântida, 1961, pp. 97-98
 
 
 
O extrato transcrito insere-se numa longa carta em verso de António Ferreira (1528-1569) ao seu amigo Pedro de Andrade Caminha. Depois de o situar entre os paladinos do renascimento  (“em ti quiseram / as Musas renovar a Antiguidade”), adverte-o da obrigação que todo o escritor tem de cultivar, acima de tudo, a própria língua.
 
http://grandesescritoresportugueses.blogspot.pt/2009/03/antonio-ferreira.html
 
 
Ao contrário do que acontecia com seus mais famosos contemporâneos, nomeadamente Gil Vicente e Camões, que cultivavam o bilinguismo, António Ferreira nunca escreveu um só verso em espanhol. Com ele começam os elogios à língua portuguesa.

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