A língua portuguesa é a língua “dos semeadores de sons / e dos povoadores de versos".
José Jorge Letria
A língua que falas e escreves
A língua que
falas e escreves
é uma árvore
de sons
que tem nos
ramos as letras,
nas folhas
os acentos
e nos frutos
o sentido
de cada
coisa que dizes.
É uma língua
tão antiga
como isto de
ser português.
Teve o latim
por avô,
que primeiro
foi romano,
depois
bárbaro,
mais tarde
monge medieval
ou copista
do Renascimento.
A língua
cresceu com o país,
que se
alongou até ao sul
e depois
chegou às ilhas,
vencendo os
tormentos do mar.
O país
ganhou a forma
de uma
língua de terra
capaz de
usar palavras
como
“lonjura” e “saudade”.
Foi a língua
da viagem,
do assombro
e da aventura,
usada para
relatar
descobertas
e naufrágios,
triunfos e
derrotas
nas mais remotas
paragens,
enquanto os
porões se enchiam
com as raras
especiarias
que tanta
fortuna fizeram.
É uma língua
que se veste
de baiana no
brasil,
ganhando
feitiços de som
em Angola e
Moçambique
e novos
significados
lá para as
bandas de Timor.
É uma língua
que ajudou
a fazer o
comércio e a guerra
mas que hoje
prefere
usar os
verbos da paz.
Esta é a
língua dos escritores,
de Eça e de
Camilo,
e de muitos
outros mais,
dos
semeadores de sons,
dos
povoadores de versos
de todos os
que dizem a quem começa:
Tratem bem a
nossa língua,
pois se a
tratam mal
nem imaginam
o mal que fazem
a este
Portugal.
Esta é a
língua dos meninos
que brincam
com as palavras
e fazem
delas brinquedos
para
alegrarem o recreio
das
histórias mais bonitas
que alguém
pode contar.
E o orgulho
que temos
nesta língua
portuguesa
irá do berço
para a escola
e da escola
para a rua,
pondo em
cada palavra
uma pepita
de ouro
e uma centelha
de lua,
pois afinal
esta língua
será sempre
minha e tua.
José Jorge Letria
O dia 5 de Maio é o "Dia da Língua Portuguesa e da Cultura" do espaço lusófono.
http://lusofonia.oseculo.pt/a-lingua-portuguesa/ |
O dia 5 de Maio é o "Dia da Língua Portuguesa e da Cultura" do espaço lusófono.
Floreça, fale, cante, ouça-se e viva
A portuguesa língua, e já, onde for,
Senhora vá de si, soberba e altiva.
Se tèqui esteve baixa e sem louvor,
Culpa é dos que a mal exercitaram,
Esquecimento nosso e desamor.
Mas tu farás que os que a mal julgaram
E inda as estranhas línguas mais desejam
Confessem cedo, ant’ela, quanto erraram.
E os que depois de nós vierem vejam
Quanto se trabalhou por seu proveito,
Porque eles pera os outros assi sejam.
António Ferreira, Poemas Lusitanos, notícia histórica e literária, seleção e anotações de F. Costa Marques, Coimbra, Atlântida, 1961, pp. 97-98
O extrato transcrito insere-se numa longa carta em verso de António Ferreira (1528-1569) ao seu amigo Pedro de Andrade
Caminha. Depois de o situar entre os paladinos do renascimento
(“em ti quiseram / as Musas renovar a Antiguidade”), adverte-o
da obrigação que todo o escritor tem de cultivar,
acima de tudo, a própria língua.
http://grandesescritoresportugueses.blogspot.pt/2009/03/antonio-ferreira.html |
Ao contrário do que acontecia com seus mais famosos contemporâneos, nomeadamente Gil Vicente e Camões, que cultivavam o bilinguismo, António Ferreira nunca escreveu um só verso em espanhol. Com ele começam os elogios à língua portuguesa.
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