domingo, 17 de março de 2024

Escola a ler... Manuel Vaz de Carvalho




 

#SemanaDaLeitura2024

 

 


 

Na próxima terça-feira, dia 19 de março, realiza-se a 3ª edição, II série, do projeto Escola a ler, desta vez dedicada ao escritor Manuel Vaz de Carvalho.

Em todas as salas de aula, vão ser colocados poemas do escritor para serem lidos em voz alta, no 1º tempo do turno da manhã e da tarde.


 

Partilhamos dois poemas do autor:

   

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O PELOURINHO

O Pelourinho, que deu nome ao largo onde atualmente se encontra (e também o meu posto de trabalho), foi concedido, cerca de 1282, por real decreto d’ El rei Dom Dinis.

Aí permaneceu erecto durante séculos, como símbolo da autonomia do burgo na Real Vila.

Porém (...), o monumento foi desterrado para as entulheiras da Câmara Municipal no dia 15 de Julho de 1875, por iniciativa do então edil Francisco Vitorino Vaz de Carvalho (da Timpeira, claro, e mais evidentemente, avô do autor). (...)


O vetusto Pelourinho
Com seu nobre pergaminho
Já no limite da idade,

Foi no século passado
Apeado e desterrado
P’ras escombreiras da cidade.

Com estatuto de “Excelência”
Símbolo da independência
Do velho burgo real,

Tinha as inconveniências
De tresandar as fedências
Do frago do jumental. 

Por isso a Edilidade
Ciosa da sanidade
Mais que de velhos orgulhos,

Fez desterrar o topeço
Mono inútil, sem apreço
P’ro “Pantheon” dos entulhos.

Foi um tal Vaz de Carvalho
Que embirrando com o espantalho
Lhe ditou a extradição.

Mas descontentou a malta
Que protestou pela falta
Do venerando ancião!

Rodaram mais de cem anos
A sofrer tratos profanos
Até que nobres edis,

Num acto justo e carinho
Restituíram o Pelourinho
Aos seus direitos civis!

Agora é vê-lo aprumado
De granito escanhoado
A condizer com a Sé!

Fidalgo recepcionista
Ali recebe o turista
Dizendo “Entre quem é!”

Só gente sem sentimento
Quer impor o monumento
À extradição do país.

Mas na cidade ainda há gente
Mui fidalga e competente:
Parabéns, Senhores Edis!

M. Vaz de Carvalho in Visão Alvânica

 


 

Serra do Alvão









 

ORIGENS

Onde eu nasci moravam pombas mansas
Lendas antigas que mal lembro já
E havia lírios, laranjais de esperanças
E velhas coisas que ficaram lá…
E havia gados mansos, ruminantes
Fenos macios que cheiravam bem
E aquela virgem que me olhava dantes
Com olhos claros, era a minha Mãe…
Viviam numes, espíritos contritos
Nocturnos cantos de aventura e amor
Rezas humildes evocando mitos
Signos e crenças esconjurando a dor…
Ali passaram anos e mais anos
Vidas e vidas que nem conta têm
Foram puindo aqueles antigos escanos
E as pedras mudas, sem lembrar ninguém…
Ali cumpri a minha infância breve
Um conto humilde que ninguém contou...
Oh, alma pobre que ninguém descreve
Canção perdida que ninguém cantou!
Num dia aziago, de fortuna avesso
Minha alma em fogo do lugar partiu
A correr mundos sem levar endereço
Carta perdida que ninguém abriu.

M. Vaz de Carvalho in Poemas de Afélio

 

 

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